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“Desorientado”, alguém diz do fundo do quarto de hotel. É o pai de Omar Apollo, ouvindo de soslaio a entrevista que o filho concede em espanhol. “Isso mesmo, desorientado”, concorda o cantor, como se estivesse agradecendo ao pai, que veio em socorro quando a memória falhava, junto com a sua outra língua materna.
Em sua primeira turnê na América do Sul, Apollo pode passar despercebido em meio a medalhões dos anos 1990 e 2000 e a nomes mais-do-mesmo neste Lollapalooza. Um olhar e uma escuta mais atentos, porém, revelam um dos artistas mais interessantes desta edição do festival.
Cinco anos separam a estreia de Apollo e os grandes palcos e prêmios. O jovem, desorientado em 2017 quando começou a compartilhar músicas na internet, hoje tem parcerias com nomes como Pharrell e C. Tagana, além de colecionar títulos. Ele foi indicado a artista revelação no Grammy do ano passado e acumulou mais duas indicações no Grammy Latino de 2022.
Essa lista de feitos se torna ainda mais respeitável quando se nota que ela antecede o lançamento do primeiro álbum do artista, “Ivory”, que saiu em em abril e deu um sopro de no pop norte-americano. Vai da balada com verniz anos 2000 “Talk” à sofrida “En el Olvido”, uma típica ranchera —o primo mexicano do sertanejo.
“Minha música é uma mistura de tumbados, rock, soul. É a música de onde eu cresci”, diz Apollo. “Eu nasci nos Estados Unidos, mas meus pais sempre me mostraram música mexicana, música de Guadalajara. E na minha cidade sempre ouvi música norte-americana.”
Apollo tem um tino para letras simples, afetuosas, com uma voz de tenor suave como a de Michael Jackson e Bruno Mars. Em “Evergreen”, seu maior sucesso até então, com mais de 20 milhões de visualizações no YouTube, ele canta e geme um término. “Ele não me ama mais,” lamenta o rejeitado.
O que o põe em posição de destaque no lado B do pop norte-americano não é apenas sua habilidade como compositor. Apollo é como uma tempestade —ou suave garoa— perfeita. Ele faz parte de uma geração norte-americana que reivindica suas origens latinas sem deixar de reclamar novas perspectivas sobre si.
Se nos Estados Unidos hoje há um pop de massas com um espectro que vai de Taylor Swift a Beyoncé, com música para arenas que arrastam multidões, há também o pop de Apollo, que come pelas beiradas. Não é underground nem tampouco está no topo da indústria, mas representa uma parcela importante do mercado.
“Hoje há muitos artistas nos Estados Unidos cujos pais são do México, Colômbia, Argentina”, diz ele. “Esses artistas cresceram nos Estados Unidos, mas têm cultura de diferentes países. Em Los Angeles, onde vivo, muita gente fala espanhol. É bonito ver que essas culturas perduram.”
Em “Ivory”, esse contato se traduz na faixa “Bad Life”, parceria entre Apollo e a cantora colombiana-estadunidense Kali Uchis —cujo último álbum, “Orquideas”, deve abocanhar troféus na próxima temporada do Grammy. A verve latino-estadunidense também está em “Tamagotchi”, parceria com Pharrell em que Apollo lembra algo entre Bad Bunny e Prince.
Primeiro do artista, “Ivory” é um álbum que só saiu na segunda tentativa. “Quando comecei o disco, eu não sabia navegar na minha carreira artística, trabalhei com muita gente e acabou que não gostei do resultado”, diz ele. “Até que um amigo me disse que eu deveria fazer outro álbum e só depois mostrar para a gravadora.”
O trabalho deu resultado e pôs Apollo no mapa da música. Sua estreia no Brasil será também a primeira vez de seu pai no país. Ele e a mãe nunca foram mais do que ouvintes de música e agora admiram a carreira do filho. “Eles me ajudam bastante. Meu pai já me disse um verso, e minha mãe sempre quer corrigir meu espanhol”, diz o Apollo, em tom de graça.
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Fonte: Uol