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É impossível falar do inglês David Bowie sem usar o apelido “camaleão do rock”. Embora banalizado, esse termo é realmente a melhor definição para um artista que buscou coisas novas a cada disco, seja na música que produziu ou no visual que assumiu no palco e fora dele.
Essa trajetória de constante mutação está detalhada no volume número nove da Coleção Folha Rock Stars, que chega às bancas neste domingo (31). O jornalista Antônio Carlos Miguel conta a vida do cantor, passando por todas as fases em que transformou a música de seu tempo, até sua morte, aos 69 anos, em 2016, devido a complicações de um câncer no fígado.
Bowie atuou e cantou desde a metade dos anos 1960, mas bateu na trave do sucesso até 1969, quando a canção “Space Oddity” mudou sua vida. A música conta a história de um astronauta, Major Tom, enlouquecido em órbita da Terra. A letra visionária trata de algo que se tornou corriqueiro —os problemas psicológicos que se abateram sobre quase todos os que se aventuraram no espaço.
Em 1972, quando o glitter rock exaltava a androginia, Bowie criou um personagem para o álbum “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”. No palco, ele era Ziggy, com seu visual alienígena de sexo indefinido, e conquistou jovens inconformados por todo o planeta.
Os álbuns que gravou nos anos seguintes têm canções incontornáveis na história do rock, como “Rebel Rebel”, “Young Americans” e “Fame”, mas a criatividade de Bowie tornou-se irregular. Anos depois ele mesmo reconheceu que o consumo desenfreado de drogas nessa fase da vida era tamanho que o fez esquecer de meses inteiros.
Na segunda metade da década, ele se mudou para Berlim e lá gravou três discos com colaboração do amigo Brian Eno, ex-integrante da banda Roxy Music. “Low” e “Heroes”, lançados em 1977, são experimentais e irresistíveis. “Lodger” (1979), último da chamada “Trilogia de Berlim”, já mostra algum desgaste no trabalho dos dois.
Os três discos gravados na Alemanha formam a fase mais experimental de Bowie, e isso se refletiu em vendas pífias. Ele então voltou a fazer canções mais comerciais em “Scary Monsters (and Super Creeps)”, de 1980, e alcançou de novo o sucesso puxado pela canção “Ashes to Ashes”, um dos videoclipes mais executados na MTV na temporada.
Mas seria em 1983 que ele conseguiria gravar mais uma vez um álbum destinado ao topo das paradas. “Let’s Dance”, com apelo dançante explícito no título, teve três sucessos pelo mundo todo —além da faixa que dá título ao álbum, “China Girl”, parceria que já tinha sido gravada por Iggy Pop, e “Modern Love”. O álbum se transformou no mais vendido de sua carreira, com mais de 10 milhões de cópias.
No entanto, a década de 1980 reservaria para Bowie o lançamento de álbuns que não cumpriram suas expectativas. Ele teve praticamente apenas um grande hit, “Blue Jean”. Sua estagnação criativa o levou a criar uma banda de rock no final da década, Tin Machine. O quarteto tocava rock pesado, com alguns lampejos da genialidade de Bowie aqui e ali. Crítica e público não se entusiasmaram, e a carreira do Tin Machine foi curta, com dois álbuns de estúdio.
Os anos 1990 foram marcados por discos inquietos e instigantes, mas com pouco retorno comercial. Nessa época, Bowie começou a excursionar novamente com regularidade, vindo duas vezes ao Brasil. Mas esse pique foi atrapalhado no início dos anos 2000, com problemas cardíacos que fizeram o cantor diminuir o ritmo e praticamente abandonar os palcos. A partir dali, participou apenas de alguns shows pontuais, com amigos.
Foram apenas quatro discos de estúdio lançados neste século. O último, “Blackstar”, chegou às lojas em 8 de janeiro de 2016, dois dias antes da morte do cantor. Desde então, a obra de Bowie movimenta muitos lançamentos póstumos, com caixas de compilação e resgate de apresentações ao vivo.
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Fonte: Uol