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Divulgado em abril, o relatório “State of the World Vine and Wine Sector in 2023” (Situação do setor vitivinícola mundial em 2023), elaborado pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), comprovou o que já era uma estimativa –o consumo global da bebida caiu 2,6%, comparado a 2022.
Nem mesmo os países onde o vinho faz parte do dia a dia escaparam. A queda chegou a 6,2% na Argentina e a 9,2% em Portugal.
No meio da tabela repleta de sinais negativos, um número positivo chama atenção. No Brasil, o consumo aumentou 11,6% entre 2022 e 2023. Só a Romênia obteve resultado melhor, com 20,1% de aumento.
Especialistas do setor apontam uma conjunção de fatores por trás da redução de consumo global. Entre eles, estão as quebras de safras causadas por eventos climáticos extremos, que elevaram os preços, e a perda de poder de compra dos europeus. Mas pesquisas também demonstram que os consumidores, sobretudo os jovens, estão bebendo menos para cuidar da saúde.
Movimentos como o Dry January (Janeiro Seco), que propõe abstinência durante todo o mês, estão conquistado mais adeptos. Levantamento do CivicScience, instituto de pesquisa vinculado à Carnegie Mellon University, nos Estados Unidos, mostra que 27% dos norte-americanos se disseram propensos a deixar de beber em janeiro de 2024 —no ano passado, eram 24%.
A tendência, no entanto, não chega a assustar o mercado brasileiro, como explica Raphael Zanette, presidente do Grupo Vino!, que tem 55 winebars no Brasil, sendo oito na capital paulista.
“Janeiro coincide com nosso verão e, como o consumo de brancos e rosés tem crescido ano a ano, o mês passou a ser ótimo para nós.”
Quando inaugurou o wine bar Bardega, no Itaim Bibi, 12 anos atrás, Rafael Ilan Bernater lembra que foi taxado de louco. “Era o boom da cerveja artesanal, mas enxerguei potencial de crescimento para o vinho, porque o brasileiro bebia menos de 1 litro por ano.” Hoje, a casa recebe 55 mil pessoas ao ano.
Bernater não só acertou no foco do Bardega como abriu outro bar, o Bocca Nera, na Vila Madalena, que serve vinhos em sistema de rodízio. Por um preço fixo, que varia de R$ 79,90 a R$ 109,90 por pessoa, conforme o dia da semana, é possível beber uma seleção de 15 rótulos à vontade.
“Desde 2018, quando abrimos, a quantidade consumida por pessoa não diminuiu. Gira em torno de 1 litro por pessoa, ao longo de umas 4 horas de consumo”, revela.
Para Rodrigo Lanari, da consultoria Winext, o brasileiro ainda está no modo descoberta em relação aos vinhos, o que nos põe na mira de grandes marcas. “Como nosso consumo per capita ainda é baixo, de 2,5 litros por ano, e o movimento pela moderação não bate tão forte por aqui, hoje somos o bright spot do setor.”
É na chamada Geração Z, nascida a partir de 1995, que os principais atores do mercado apostam. Avessos aos antigos rituais relacionados ao vinho e sem tanto conhecimento técnico, essa nova fatia de consumidores compra bastante nos supermercados, mas tem feito crescer novas formas de varejo.
“A dificuldade para escolher os rótulos fez os clubes de vinho dispararem”, exemplifica Felipe Galtaroça, da Ideal Consulting.
O clube de assinatura de vinhos Wine fechou o primeiro trimestre de 2024 com 421 mil assinantes, 50 mil a mais do que em março de 2023. Vice-presidente corporativo do grupo, que engloba um e-commerce e a importadora Cantu,
German Garfinkel acredita que a linguagem descontraída, tanto da revista quanto do conteúdo online, ajuda a conquistar essa parcela do público.
“Como argentino de 48 anos, cresci com vinho em casa. Os brasileiros da minha geração descobriram a bebida mais tarde, mas seus filhos já cresceram com o vinho sobre a mesa e demonstram cada vez mais interesse”, ele afirma.
São os jovens também que frequentam a rede de lojas físicas da Evino, do Grupo Víssimo. A primeira, no bairro de Pinheiros, na capital paulista, foi inaugurada em fevereiro de 2023.
O modelo, que se vale de novas tecnologias e até gamificação para vender vinhos sem qualquer formalidade. Tira a bebida do pedestal, nas palavras do presidente do grupo, Ari Gorenstein. Com oito unidades no país, sendo quatro paulistanas, a rede planeja chegar a 30 endereços até o fim do ano.
O padrão de consumo dos jovens brasileiros amantes do vinho coincide com outra tendência global –a preferência por vinhos leves e de baixo teor alcoólico, e até pelas versões zero álcool, que começam a aparecer nos mercados e lojas online.
Segundo a Ideal Consulting, os brancos, que representavam 18,9% das importações brasileiras, em 2020, hoje chegam a 23,3%.
Para Garfinkel, as ondas de calor cada vez mais frequentes e a preocupação com a saúde pesam na conta, mas a evolução do paladar do brasileiro contribui bastante.
“Saímos do vinho de mesa para o Lambrusco, passamos pelo meio seco até chegarmos aos secos. Fazer e gostar de vinho branco é mais difícil, mas o brasileiro já se aventura na busca por maior acidez. Vinhos do nosso portfólio, como o branco Pinot Gris Susana Balbo, com apenas 9% de teor alcoólico, estão vendendo muito bem.”
Espumantes, cujo consumo historicamente era associado a celebrações, especialmente no fim do ano, também abandonaram a sazonalidade, segundo o executivo da Wine. Ele cita como exemplo o espumante U by Undurraga, importado do Chile, lançado em pleno inverno de 2023. A garrafa custa R$ 44,90 para sócios do clube e R$ 52,82 para não-sócios. “Vendemos uma loucura desse espumante em agosto”, revela.
O Grupo Vino!, que lançou uma linha de vinhos em lata com marca própria, em março de 2021, também aposta no aumento da popularidade do espumante. No próximo verão, segundo Raphael Zanette, os franqueados catarinenses vão testar a distribuição do Moscatel e do Sparkling Rosé, que custam R$ 29 cada um, na Praia Brava e em Balneário Camboriú. Serão vendidos em carrinhos, como os de picolé.
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Fonte: Folha de São Paulo