[ad_1]
Semana passada, Paris mais uma vez reuniu a nata do mundo da moda e mais uma multidão de ricos e famosos, influencers, fotógrafos, entusiastas e curiosos para mais uma semana de moda. Confesso que houve um tempo em que eu pararia tudo para acompanhar o agito, pela internet, é claro. Afinal ter iniciado minha carreira digital como uma blogueira que pregava o não consumo não me rendeu muitos convites para ver desfiles ao vivo.
Faz tempo, no entanto, que cansei um pouco desse frenesi. Talvez porque a indústria da moda tenha adicionado tantos eventos ao seu calendário que parece que toda semana há alguma semana de moda acontecendo em algum lugar do mundo. Talvez porque ultimamente me sobra pouco tempo para escolher uma roupa bonita para vestir pela manhã, que dirá investir horas do dia para admirar roupas bonitas em corpos alheios.
Mas, no meio do burburinho, tem sempre alguma coisa que faz tanto barulho que fura a bolha da moda e chega até gente como eu, que não está prestando tanta atenção.
Neste ano, o assunto mais comentado da Paris Fashion Week não foi um desfile, nem uma festa de arromba, nem mesmo uma coleção nova. O que fez a internet parar foi uma bolsa feita de ar (e 1% de vidro). Trata-se de uma releitura da Swipe Bag, modelo clássico da marca Coperni, famosa pela maneira inovadora de pensar e apresentar moda.
Avaliada em R$ 14 mil, a Air Swipe Bag pesa 33 gramas e é feita de 99% de ar e 1% de vidro. Apesar de inédito no mundo da moda, o aerogel de sílica, material utilizado na fabricação da bolsa e considerado o sólido mais leve da Terra, já é amplamente utilizado pela Nasa para capturar poeira estelar, uma vez que pode suportar calor extremo e uma pressão de 4.000 vezes o seu peso.
Como apreciadora da moda como expressão criativa e artística, admiro a Coperni por seu espírito inovador e pela maneira como é capaz de unir tecnologia e moda. Mas o que mais de atrai na marca é a habilidade com que, intencionalmente ou não, faz de suas criações um reflexo do nosso tempo.
Em 2022, a Coperni já havia protagonizado o momento mais comentado daquela semana de moda, ao pintar ao vivo, em plena passarela, um vestido de resina sobre o corpo da modelo Bella Hadid. Na minha leitura, o vestido, impossível de ser usado duas vezes, era uma direta referência ao caráter descartável que a moda vem ganhando nos últimos anos.
Corta para 2024 e a bolsa de ar me parece novamente a metáfora perfeita para a maneira como consumimos moda hoje. Com a proliferação de redes sociais e a moda sendo catapultada a geradora de assunto e ferramenta de ampliação de visibilidade, vemos mais e mais gente interessada em pagar caríssimo por produtos —muitas vezes esdrúxulos, de qualidade duvidosa, pouco práticos e que provavelmente serão vistos como obsoletos em alguns meses— apenas para sinalizar acesso e pertencimento. Mais do que nunca, compramos, portanto, não a roupa, a bolsa, o sapato, mas o intangível que eles representam. O rei nunca esteve tão nu e nunca se pagou tanto por sua capa invisível.
Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
[ad_2]
Fonte: Uol