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Cartéis latino-americanos, violência e muito gringo abastado querendo cheirar pó. Todos os ingredientes para uma trama sobre tráfico de drogas estão em “Griselda”. Um detalhe, logo no título da série, no entanto, chama a atenção –quem está no comando da história é uma mulher.
Nova aposta da Netflix, a produção narra a trajetória real de Griselda Blanco, colombiana que foi dos nomes mais poderosos e influentes do tráfico internacional de drogas entre os anos 1970 e 1980, a ponto de inspirar a citação em que Pablo Escobar diz que “o único homem de quem já tive medo era uma mulher”.
Emblemática, a fala abre o primeiro episódio da série e escancara que aquele universo do narcotráfico, dominado por homens, foi chacoalhado quando a mãe de quatro filhos e que fugiu de casa duas vezes –na infância, para longe dos abusos do pai e, mais tarde, de um marido igualmente tóxico– decidiu se envolver com o crime.
“Eu cresci na Colômbia, na era do narcotráfico, mas fui ouvir falar da Griselda muito tarde na vida. Fiquei intrigada ao saber que havia uma mulher no nível daqueles homens”, diz Sofía Vergara, que encarna a protagonista em seu primeiro papel desde que a série de comédia “Modern Family” chegou ao fim.
“A comédia vem muito facilmente para mim. Trabalhar numa série como ‘Modern Family’ te faz ir para casa feliz. Aqui foi completamente diferente. Eu chegava em casa depois de passar o dia fugindo de pessoas que queriam me matar”, brinca ela.
Responsável por catapultar Vergara à fama e torná-la um dos nomes mais badalados da televisão americana, “Modern Family” tinha nela uma dona de casa importada da Colômbia, que com o forte sotaque e as anedotas sobre a vida pré-Estados Unidos se tornou uma das personagens mais queridas da TV na década passada.
Assumir, depois de quatro anos, um papel tão dramático e atravessado pela violência foi um desafio, conta a atriz, que pela primeira vez atua em espanhol desde que deixou sua Barranquilla natal.
Aqui, diferentemente do que costuma acontecer em filmes e séries sobre pessoas reais, não houve esforço para deixar a musa latina fisicamente parecida com Blanco. É impossível afirmar que “Griselda” fala sobre a narcotraficante apenas ao olhar para sua protagonista, que usa a beleza e a sensualidade a seu favor enquanto tenta se firmar no submundo de Miami, nos primeiros episódios.
É uma forma de escancarar o machismo daquele universo –até porque não demora muito para Blanco ser socada e assediada por algum dos homens ao seu redor. Mas ela usa as humilhações a seu favor, como uma personagem que, com sua feminilidade, consegue dar o bote mais facilmente.
A minissérie mostra desde o começo fragilizado até os dias de luxo e barbárie de Blanco, considerada a madrinha do cartel de Medellín e uma das responsáveis por fundar a rota de tráfico que ligava Estados Unidos e Colômbia. Na sua conta estão as mortes de cerca de 200 pessoas, que padeceram no transporte ilegal de cocaína.
Vergara acredita, no entanto, que a produção não vai reforçar os estereótipos de crime ligados à América Latina, e em especial à Colômbia. “Não é uma série como ‘Narcos’, sobre o narcotráfico, que já conhecemos. É uma série sobre uma mulher tentando criar quatro filhos”, afirma.
“É difícil encontrar personagens tão poderosas. Eu me pegava admirando essa mulher, às vezes, com a força que demonstrava num mundo totalmente dominado por homens. Mas aí me lembrava que não podia glorificá-la, que ela havia feito coisas terríveis e se tornado um monstro, mesmo que tivesse boas intenções no começo.”
O olhar até mesmo gentil para a personagem, ao menos no início da trama, não foi suficiente para blindar a série de críticas disparadas pelos parentes da narcotraficante, porém. Segundo o portal americano TMZ, seu espólio estaria processando a Netflix e Vergara, também produtora, pelo uso não autorizado de imagens e histórias da família Blanco.
Um de seus filhos, Michael, afirma ter dado entrevistas sobre a mãe entre 2009 e 2022 a pessoas que tinham interesse em transformar as histórias numa produção audiovisual, mas que não foi informado de que elas se tornariam, eventualmente, “Griselda”. A entrevista com a atriz aconteceu antes de a informação vir à tona.
Não é a primeira vez que a saga da Madrinha de Medellín vai parar nas telas. Catherine Zeta-Jones foi outra atriz badalada que encarnou Blanco, no filme televisivo “A Rainha da Cocaína”, de sete anos atrás. Mesmo assim, a história de Blanco costuma passar abaixo do radar, se comparada às hipermidiatizadas trajetórias de Pablo Escobar ou El Chapo.
“Todos sabemos o que é o narcotráfico, já vimos essa história em milhões de séries, filmes e livros, mas ainda não chegamos ao fundo da história desta mulher”, diz Vergara.
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Fonte: Uol