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“Você nunca tinha ouvido falar de racismo estrutural?”, pergunta Renata Ceribelli a Wanessa Camargo, que se atropela entre argumentos de que não teve a “intenção de cometer racismo” ao dar um tapa no pé de Davi, no BBB. “Eu já conhecia, mas faltou, talvez, tempo.”
Mais de uma vez, em entrevista ao Fantástico neste domingo, a cantora afirmou estar há poucos dias fora da casa, ainda surpresa com a forma como os espectadores encararam sua expulsão após, bêbada, agredir o participante do programa, que a denunciou no confessionário.
De fato, sair daquela casa infernal no susto não faz bem para a cabeça de qualquer um. Mas ao falar de tempo, Wanessa se denuncia como alguém um tanto alienada do mundo que a circundava mesmo antes de entrar na casa.
É curioso, aliás, como mesmo após tantos casos recentes envolvendo essa esfera delicada, a artista não parece ter passado por um treinamento —ou “letramento”, como ela prefere dizer— e se blindar do cancelamento que agora sofre.
Ceribelli, no Fantástico, tinha um objetivo claro, de tentar extrair da artista alguma declaração que a tirasse da zona de conforto e dos gestos ensaiados dos vídeos que ela publicou nas suas redes sociais, onde reconheceu o racismo estrutural.
Nessa linha, a Globo não amaciou a ex-BBB, talvez porque a própria emissora queira fazer uma marcação cerrada para justificar a desclassificação de Wanessa após o tapa impulsivo e suspeito no rapaz, que dormia sob os edredons.
Na entrevista, a cantora tenta rebater, lembrando a rasteira que levou do rapaz negro de 21 anos durante uma brincadeira no programa. Para todos os efeitos, Wanessa ainda pensa no jogo, e diz que faltou “fair play”. “Sempre foi sobre jogo, nunca sobre raça.”
Como o programa mostrou, não era jogo quando Wanessa ironizou Davi, dizendo que ele já conseguiu a “faculdade” a partir da repercussão do programa. Fora da casa, o jovem é motorista de aplicativo.
A repórter insistiu em saber as decisões que a incomodaram no programa e quis saber, afinal, onde Wanessa reconhece ter sido racista. Ou melhor, onde “aprendeu que [sua atitude] fazia parte do racismo estrutural”. “Eu reconheci que sou uma pessoa branca, privilegiada, e nunca vou saber como algumas palavras, que para mim não têm nenhum efeito, podem ser sensíveis a outras pessoas.”
Há dois lados: a Globo não quer bem piorar a imagem de Wanessa, mas conduzi-la a uma espécie de expiação pelo confronto. É o que a artista também pretende, entre obrigações contratuais e vontade de aproveitar qualquer brecha midiática. De bandeja, também dá uma oportunidade para a própria Globo rever seus próprios erros e encarar uma discussão quente.
A emissora levanta para Wanessa cortar. Mãe de dois filhos, a ex de Dado Dolabella —assunto que encerrou a entrevista, em chave de humanização— não deve chegar a tanto, mas toda essa reação lembra aquela que desembocou em “A Vida Depois do Tombo”, documentário de Karol Conká, produzido pela Globoplay, após sua saída do BBB 21.
Depois do papo, Maju Coutinho fez um breve discurso sobre a presença do racismo estrutural na sociedade. Para todos os efeitos, a Globo também não quer estender a polêmica ao infinito.
Assim como não crucificou o pagodeiro Rodriguinho na tradicional entrevista pós-eliminação em relação aos comentários machistas sobre o corpo de Yasmin Brunet. Quem mais sofreu quanto a isso foi o anônimo Nizam, eliminado antes, quando a polêmica estava mais latente.
À parte reações das redes, essa entrevista com Wanessa parece mostrar que os “camarotes” seguem com um tratamento privilegiado.
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Fonte: Uol