[ad_1]
Quem se aventurou a maratonar os filmes da temporada deste ano do Oscar, entregue no último domingo (10), pode ter se surpreendido com a inusual qualidade dessa safra. Nem parece ser o mesmo prêmio que, há pouco, consagrou obras tão genéricas como “No Ritmo do Coração”, em 2022, e “Green Book”, em 2019.
Mesmo se olharmos longas esnobados pela premiação, caso de “Garra de Ferro” e “Todos Nós Desconhecidos”, a sensação é a mesma: vivemos um período fértil no cinema. Nem sempre é assim.
Ambientado no mundo da luta livre, “Garra de Ferro” é a antítese de muitos dos filmes sobre esportes, sempre tão carregados de firulas motivacionais e elogios à meritocracia. Aqui temos uma anti-história de superação, o caso real de quatro irmãos lutadores e o pai despótico deles. Mais do que uma história sobre maldição, como se disse de forma apressada por aí, o filme de Sean Durkin aborda quão destrutivas podem ser as obsessões, um drama na linha do melhor do gênero, como “Touro Indomável”.
“Todos Nós Desconhecidos” é outro melodrama cheio de testosterona, mas de outra lavra. Andrew Haigh faz aqui uma espécie de tratado sobre a solidão primordial do homem gay num enredo insólito sobre um rapaz que reencontra os pais mortos enquanto precisa aprender a se abrir para se envolver amorosamente com o vizinho do prédio.
Maior lançamento do mês, “Duna: Parte 2” é outra ave rara. O diretor Denis Villeneuve criou uma ópera espacial deslumbrante —o que os últimos episódios de “Star Wars” poderiam ter sido, caso a Disney não tivesse a mão tão pesada.
Se o assunto é Oscar, dá até para argumentar que “Oppenheimer”, o grande vencedor da última cerimônia, não deixa de ser mais uma cinebiografia a dar contornos épicos aos tais grandes homens da história, que Hollywood ama. Mas nas mãos de Christopher Nolan, a trajetória do pai da bomba atômica ganhou alguma nuance e virou um megaespetáculo —desses capazes de levar as pessoas a enfrentar filas para ver a explosão nuclear em tela grande.
“Zona de Interesse” é outra obra cuidadosamente pensada para ser vista na sala escura. Os filmes de Jonathan Glazer costumam induzir a um estado de quase transe, e esse não é diferente. Só no cinema para notar a engenharia sonora e o enquadramento que o diretor empregou para filmar a família de um oficial nazista que leva uma vida bucólica às sombras do campo de concentração de Auschwitz.
Já “Anatomia de uma Queda”, da francesa Justine Triet, tem um conjunto de qualidades, mas uma especial é o seu roteiro engenhoso. A cineasta disseca a derrocada de um casamento sem disparar julgamentos morais, virtude rara em tempos de filme-textão, sempre pronto a apontar o dedo e deixar pouco espaço para interpretações mais abertas.
“Ficção Americana” foi direto para o streaming no Brasil. Uma pena, já que é o título que melhor traduz o estado das coisas na indústria cultural hoje. A trama aborda um frustrado escritor negro que vira best-seller quando, numa piada, resolve apostarem estereótipos da negritude —a violência e a miséria. O resultado do filme pode até ter ficado aquém da ótima premissa, mas vale pelas críticas que dispara a um mundo movido pela culpa dos brancos e pelo oportunismo dos espertalhões do identitarismo.
Ainda na temporada de premiações, “Assassinos da Lua das Flores”, de Martin Scorsese, é prova do vigor perene de um dos maiores cineastas vivos num romance torto nos rincões violentos da América. “Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos, é uma celebração barroca aos prazeres da vida —a libido, a comilança, a espontaneidade, tudo o que a geração Z não gosta— encarnada por uma Emma Stone em seu papel mais corajoso.
E o que dizer de “Barbie”? O antagonista de “Oppenheimer” no último verão americano é um blockbuster bem fora da curva. Era esperado que, por ser uma obra encomendada pela Mattel, a fabricante da boneca, sobraria chapa-branquice e haveria pouco espaço para qualquer ousadia autoral. Não foi o caso. Greta Gerwig conseguiu embutir no longa uma densidade incomum a filmes comerciais. O êxito do filme cor-de-rosa —campeão de bilheteria no ano passado— foi um alento para um mercado que por anos foi refém da Marvel. O aparente esgotamento das produções de super-heróis, aliás, talvez tenha sido uma das melhores notícias para o cinema e um sinal de que pode haver vida inteligente no entretenimento.
Tamanha oferta é um convite para deixar a comodidade do streaming de lado e ir ao cinema —o ambiente por excelência para curtir um filme. O Brasil conta com cerca de 3.400 salas de cinema, segundo o relatório mais recente da Ancine, agência que regula o setor —mais de 10% delas estão na capital paulista, incluindo espaços como o Cinemark Aricanduva, terceiro maior recordista de público no país, atrás do Cinemark Guarulhos e do UCI do complexo BarraShopping, no Rio.
Em sua 16ª edição, o tradicional ranking O Melhor de São Paulo – Cinema avalia os melhores complexos de São Paulo em categorias como projeção, som, conforto, bombonnière, além de elencar os melhores espaços nas cinco regiões da cidade. O júri foi formado por oito jornalistas da Redação da Folha que não abrem mão de ver um filme na tela grande.
CONHEÇA OS CINEMAS VENCEDORES
[ad_2]
Fonte: Uol