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Aracaju
Há três anos ouvem-se comentários sobre os próximos passos de Douglas Tavolaro. O mais impactante deles: o empresário voltaria a investir em um grupo de comunicação, assim como fez com a CNN Brasil, que fundou em 2020. O ex-vice-presidente de jornalismo da Record confirmou as expectativas e anunciou nesta semana o lançamento no Brasil da CNBC, em parceria com a gigante americana NBCUniversal.
Esta é a sua primeira entrevista desde a saída da CNN Brasil, em março de 2021. Ele não podia se pronunciar publicamente por conta de um acordo.
Tavolaro diz que a CNBC será um canal de jornalismo de negócios, e rejeita uma competição direta com GloboNews, BandNews, Jovem Pan e a própria CNN Brasil. Aponta que uma prova disso é o investimento em outras áreas. “Vamos ter realities shows e até eventos esportivos. Meu foco é outro”, afirma.
O executivo diz que quer ajudar o Brasil, através de um canal que trabalhe com informação e imparcialidade. “Quero fazer um jornalismo despolarizado. Esse canal será importante para o Brasil. Vai criar empregos. Vamos brigar por um furo de reportagem. Vou fazer algo imparcial”.
Em um momento de retração da TV por assinatura, com grupos de mídia em crise, por que você decidiu trazer um canal como a CNBC para o Brasil? Como fiquei 17 anos na Record, sendo vice-presidente de jornalismo, montei um canal de jornalismo de TV aberta que, com erros e acertos, virou um competidor reconhecido dentro da Globo, no caso, a Record News. Quando assumi o jornalismo, tinha praticamente uma hora de telejornal por dia. Saí deixando quase 11 horas diárias.
Mas eu enxerguei naquela época que existia uma oportunidade de mercado para competir com a GloboNews. E não era uma percepção só minha, muita gente tinha essa percepção. Não sei se você sabe, mas a CNN Brasil nasceu de um projeto de powerpoint do meu computador. Montei todo o projeto em um plano de negócio naquele lugar. Depois, negociei com a CNN americana, e depois convidei sócio investidores para entrar no projeto.
A CNN Brasil está aí, fez os concorrentes se mexerem, e abriu o mercado de TVs de notícia. É a mesma coisa agora. Eu fiquei dois anos nos EUA, estudando, e fui atrás de um projeto que se encaixaria no momento do Brasil. E para mim, uma pergunta eu não conseguia responder: Como uma das dez maiores economias do planeta não tinha um canal de jornalismo de negócios?
É um modelo consagrado nos EUA e na Europa. Eu não estou inventando isso, talvez só o fato de trazer para cá. Nos EUA, tem os canais de notícias, e tem a CNBC, que é a líder, a Fox Business, e a Bloomberg. E as pessoas assistem e tem rentabilidade. Eu trouxe para cá porque acredito na oportunidade. No oceano azul, como dizem.
Você assistiu a muita coisa feita pelos americanos? Eu fiquei dois, três anos assistindo com os americanos. E quando a gente fala de jornalismo de negócios, as pessoas acham que é uma coisa segmentada e chata, mas não é. A Anitta, por exemplo, é uma empresa hoje.
Como essas questões de dia-a-dia estão ao redor de negócio, é possível falar sobre isso.
Sim. No horário nobre de lá, você tem coisas saborosas para entreter, não só noticiário. O conteúdo por lá é atraente, você fica hipnotizado. E tem esse recheio todo de entretenimento, que aumenta o sabor do que é feito. Com a minha experiência de ter implantado a CNN no Brasil, eu decidi fazer o mesmo agora por aqui.
Você fala em entretenimento, reality shows e eventos esportivos. Pretende criar esses formatos ou até entrar em negociações de direitos de transmissão, por exemplo? Sim. Mas tudo ainda está sendo estudado. A gente ainda está na fase de montagem de grade de programação. Existe minha vontade de ter uma grade diversificada, com formatos diferenciados. Que não tenha só o jornalismo ao vivo de negócios. Dentro do hard news, que tenha política, internacional, esportes, as notícias urgentes de última hora. Mas a gente vai montar algo desse tipo.
Existem muitos realitys shows que a CNBC tem direitos pelo mundo, e tem alguns eventos esportivos que eles transmitem por conta do interesse desse público. Ainda não sabemos os formatos e modelos, mas temos essa intenção.
É apenas um exemplo. Futebol se encaixa nessa perspectiva de eventos que vocês pensam? Sim, é uma possibilidade a ser estudada. Mas vai depender de caso a caso.
Sobre profissionais de vídeo, como apresentadores, tem algum perfil que você deseja? O que você está pensando? De vídeo, nós estamos buscando talentos reconhecidos pelo grande público, que tenham conhecimento específico no mundo dos negócios também, e talentos que façam entretenimento que tenham qualidade e um conteúdo consistente. Em nomes de executivos, nós já temos uma ideia de organograma pensado.
Qual a duração deste acordo? O que pretende com esse canal? O tempo de acordo não posso falar. Mas esse canal veio para ficar. É um canal inovador, que veio ocupar um espaço que não existe no Brasil atualmente. Uma marca que nunca foi explorada no Brasil, e que iremos fazer isso, baseado na experiência que tive na CNN Brasil e no tempo de Record. Eu conheço muito o mercado local.
Pensa em ‘abrasileirar’ a marca? Porque a CNBC ainda é desconhecida no país. Esse desafio não me assusta. Foi a mesma coisa que aconteceu com a CNN. Os brasileiros tinham um conhecimento razoável da marca, mas entraram apresentadores que as pessoas conheciam, e as pessoas viram jornalismo que elas estão acostumadas a ver no Brasil.
Estou acostumado a fazer jornalismo do jeito que o brasileiro gosta. Por trás disso, tem o grupo forte da NBC. O jornalismo da NBC é o mais visto dos Estados Unidos, e que produz um canal que jamais existiu no Brasil, e que vai existir agora.
Por que você vendeu sua parte na CNN? Eu não posso falar desse assunto por razões jurídicas. Mas sou muito grato à família Menin, por toda a parceria. A CNN Brasil é uma empresa consolidada, é uma importante fonte de informação do país. Eu falo isso com humildade e com respeito: nasceu de um projeto meu de computador. Ela foi vendida com razoável sucesso. Agora é olhar para frente, montar esse canal diferente.
Passa a impressão de que você não se vê como um competidor de GloboNews, CNN, Jovem Pan, BandNews, Record News. Por quê? Eu acho que a CNBC vai abrir um espaço inexplorado. É muito baseado no mercado de mídia dos Estados Unidos. Eu não acredito na concorrência direta com eles. Mas a gente não vai deixar de brigar pelo furo, pela informação quente e relevante. Mas não é uma briga com os canais de notícias tradicionais.
Muita gente falou de prejuízo financeiro na CNN Brasil. Inclusive, os próprios mandatários da empresa falaram disso publicamente para justificar cortes. O que diz sobre isso? O projeto que eu montei na CNN Brasil tinha início, meio e fim. Eu só fiz o início. Eu saí com do projeto um ano no ar. Nesse primeiro ano, ganhamos todos os prêmios de jornalismo possíveis, cerca de 11. Foi uma emissora reconhecida pelo público e pelo mercado.
Eu saí deixando um valor altíssimo de contratos publicitários. E tudo isso no auge da pandemia de Covid-19, em uma grande crise no mercado. A gestão que foi feita depois que saí, eu não posso falar, não me diz respeito.
Entreguei um projeto que está aí, consolidado. O importante é que a emissora gerou muitos empregos, como a CNBC vai gerar. É mais uma oportunidade em três anos para abrir mercado para jornalistas.
Você ficou 17 anos na Record, e ajudou a criar formatos como o Balanço Geral, que é criticado por misturar jornalismo e entretenimento, mas é popular. Você acha que esse tipo de formato cabe na CNBC? Não, é um jornalismo mais popular, mas não tem esse perfil. O jornalismo popular tem um seu público, não foi uma criação da Record, foi algo dos anos 1980, explorado pelo extinto Aqui Agora (1991-1997), no SBT. Mas não cabe para a CNBC. Nosso jornalismo vai ser diferenciado.
Você foi coautor da biografia de Edir Macedo, líder da Igreja Universal e dono da Record. Você tem relação com ele hoje? Minha relação é de extrema gratidão e respeito por ele. Ele me deu todas as oportunidades da vida como proprietário da Record. Nós mantemos uma relação de respeito até hoje. Claro, nós perdemos aquele relacionamento mais íntimo, por conta de outros caminhos da vida e minha saída da Record. Hoje, nós temos pouco contato. Não converso com ele faz um bom tempo.
Ser dono de emissora é mais difícil que ser executivo de emissora? São responsabilidades diferentes. Você tem a responsabilidade de cuidar da linha editorial, de apresentadores, executivos… E tem uma loucura de ter muito conteúdo ao vivo. Mas por outro lado, ser dono não te dá a estabilidade que você tem.
Mas eu sonhei sempre em ter meu próprio negócio. Não é um caminho fácil empreender. Eu tenho a satisfação de realização do sonho de vida, mas tem o desafio de implantar, de fazer dar certo, de virar negócio. Hoje, eu estou vivendo esse desafio de virar o negócio.
Eu acredito que vai dar certo por que é um projeto importante para o Brasil. É um projeto que vai ajudar as pessoas a receber informação. Vai abrir espaço para novas oportunidades para o Brasil. Eu só vejo coisas positivas. Eu quero ajudar a despolarizar o Brasil, vamos fazer um jornalismo que sempre fiz, que é imparcial e apartidário. Eu quero ajudar a sair dessa polarização que existe no noticiário.
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Fonte: Uol