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“Trabalhei o ano inteiro na estiva de São Paulo só pra passar fevereiro em Santo Amaro”, diz o samba de roda que abre o documentário “Fevereiros”. O filme registra a participação de Maria Bethânia em festas religiosas de sua terra natal, Santo Amaro da Purificação, na Bahia, e acompanha a construção do desfile da Mangueira no Carnaval de 2016, quando a cantora foi homenageada e a escola se consagrou campeã.
São essas as inspirações da turnê “Fevereiros”, iniciada em abril de 2022 e encerrada neste final de semana no espaço Unimed, em São Paulo. No show, bem como no documentário, Bethânia une o sagrado e profano com referências do sincretismo religioso, próprio do Recôncavo Baiano e de sua identidade enquanto artista, e do Carnaval carioca que a eternizou como “A Menina dos Olhos de Oyá”.
Neste sábado (9), o palco serviu como cenário para um tributo emocionante a Erasmo Carlos, Gal Costa e Rita Lee, mortos recentemente. A eles, a cantora dedicou as canções “Pode Vir Quente que Eu Estou Fervendo”, “Como 2 e 2” e “Baila Comigo”, com fotos no telão. “Peço aos senhores um aplauso carinhoso e comovido à voz imortal de Gal”, disse Bethânia.
Com “Gema”, uma composição de Caetano Veloso incluída no álbum “Talismã”, de 1980, a artista iniciou sua apresentação, como também uma espécie de saudação à contribuição dos povos indígenas para a formação de Santo Amaro.
Isso ficou evidente com a sequência das músicas “Índio”, também composta por Caetano Veloso, em 1976, na qual ele idealiza um indígena como o salvador que muitos esperam; e “Kirimurê”, que anuncia “eu sou o dono da terra, eu sou o caboclo daqui, eu sou Tupinambá que vigia”.
Com a leitura de um texto do escritor moçambicano Mia Couto, que diz “se não nos deixassem tocar os batuques, nós, os pretos, faríamos do corpo um tambor”, Bethânia faz um manifesto contra a intolerância religiosa e abre o próximo momento do show. Agora ela celebra as influências de matriz africana em seu trabalho.
Entre as canções, o samba “Yayá Massemba”, que faz referência ao tráfico negreiro; “Purificar o Subaé”, uma louvação à Oxum, orixá das águas doces; e “Vento de Lá”, sobre Yansã, a divindade dos raios e tempestades.
A cantora enfileirou também alguns de seus maiores sucessos como “Fera Ferida”, “Abelha Rainha”, “Negue” e “Explode Coração”. A apresentação de fôlego, sem muitas pausas, não deu tempo para a plateia celebrar cada uma das canções devidamente.
Uma das poucas vezes que isso aconteceu foi após a interpretação de “Cálice”, canção de Chico Buarque apresentada com um arranjo dramático que remetia a um tango, que foi ovacionada.
Chamou a atenção também a exuberante percussão da instrumentista Lan Lanh, da qual Bethânia ressaltou seu “auxílio luxuoso”. Com ela, a banda era integrada pelo violonista João Camarero, o baixista Jorge Helder, o violeiro Paulo Dáfilin e o pianista Marcelo Caldi.
Mais para o fim da apresentação, a cantora fez a sequência de sambas de roda, com “Santo Amaro Ê Ê”, “Quixabeira”, “Minha Senhora” e “Viola, Meu Bem”, presente em seus shows desde a turnê “Abraçar e Agradecer”.
Em homenagem ao Carnaval, Bethânia levou, no primeiro bis, o público cantar antigas marchinhas, como “Ala-la-ô” e “A Água Lava Tudo” e os frevos “A filha de Chiquita Bacana” e “Chuva, Suor e Cerveja”, ambos de Caetano.
Ao retornar ao palco mais uma vez, a cantora fez sua tradicional despedida com “Tá Escrito”, pagode do grupo Revelação, e “O que É o que É”, de Gonzaguinha.
No documentário “Fevereiros”, Caetano define a voz de Bethânia como “uma textura que veicula inteligências e sentimentos imediatos. É uma voz pessoa, indissociável e desde sempre atada à música através da poesia”.
O fato é que Bethânia está em cena há quase 60 anos cantando muito mais, como diz “Galos, Noites e Quintais”, de Belchior, uma das canções também celebradas na apresentação. Cantora de personalidade cênica tão forte quanto o temperamento, ela mostra a razão da longevidade de seu sucesso.
A cantora faz uma nova apresentação neste domingo (10) no espaço Unimed, com ingressos esgotados.
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Fonte: Uol