[ad_1]
O mundo da moda costuma se inspirar em Coco Chanel para criticar excessos e defender que às vezes é mais importante retirar elementos do que acrescentá-los na busca do equilíbrio e da perfeição. Esta é uma lição que poderia ser adaptada à gastronomia para repensar o Paparoto Cucina.
Quase tudo no restaurante da ganhadora da primeira temporada do MasterChef Profissionais, Dayse Paparoto, é exagerado a ponto de perder a mão na busca por fartura.
De forma geral, o cardápio que apresenta comida italiana pela visão da chef é atraente, e a comida até tem pontos bem favoráveis. Mas o que predomina é mesmo o perfil hiperbólico. Os pratos são grandes demais e têm elementos em excesso. Isso chega a criar uma cacofonia que pode tornar a refeição bagunçada e pouco interessante. Para tornar a experiência mais agradável, seria bom incorporar a ideia de que às vezes menos é mais.
Entre as entradas, o ravióli de gema (R$ 56) demonstra os excessos muito claramente. O prato, que virou moda nas redes sociais graças ao excelente preparo do Pasta Shihoma, aqui chega mergulhado em um molho de parmesão trufado que esconde sua essência. O bom sabor do recheio de gema, ricota e espinafre se perde, e o ravióli parece apenas uma massa genérica em molho trufado desnecessário e com um leve toque de sabor artificial. Se fosse servido simples, só com manteiga e sálvia, ficaria muito melhor.
O mesmo se repete com a burrata em crosta crocante com pesto (R$ 95). A grande esfera de bom queijo até impressiona positivamente, espirrando recheio ao ser aberta. Mas a cobertura é difícil de cortar e não adiciona nem sabor nem textura. Além disso, o gosto do pesto desaparece na mistura que ainda inclui folhas, parmesão ralado e molho de tomate. Fosse uma burrata simples, ou no máximo gratinada, só com o ótimo molho da casa, se tornaria mais simples e saborosa.
O descomedimento continua entre as massas. Mesmo sendo um dos melhores pratos da casa, o sacotini de queijo de cabra (R$ 98) mistura queijo, nozes, manteiga de sálvia, fonduta de grana padano, figo e mel trufado. Seu destaque é o contraste do recheio de queijo e nozes com a fruta adocicada, dispensando tantos elementos.
As carnes também repetem a fórmula de excessos. O filetto grelhado envolto em massa crocante (R$ 162) é apresentado como uma releitura do bife Wellington, mas chega à mesa com uma apresentação tão imoderada que fica difícil até mesmo saber como começar a comer.
Uma grande peça de filé-mignon vai escondida em um vaso de massa fininha cheio de um molho escuro de cogumelos “com um toque de trufa negra”. A carne estava bem preparada e saborosa, mas o molho era unidimensional e sem graça, além de empapar toda a parte da massa com a qual tinha contato, deixando apenas as pontas crocantes.
Para piorar, vem ainda acompanhado de um risoto de queijo taleggio muito problemático. Os grãos de arroz foram servidos mergulhados em um molho que mais parecia uma sopa extremamente salgada – impossível de comer e sem agregar nada a um prato já cheio de componentes.
Entre as sobremesas, o destaque do cardápio é o tiramisu (R$ 59) que vem com uma árvore de algodão doce que mais uma vez não soma ao sabor e serve apenas para tornar o prato mais instagramável. Melhor ser conservador e experimentar o ótimo pudim de doce de leite com licor amaretto (R$ 39), único momento da refeição em que todas as camadas de sabores e textura pareciam equilibradas, com lâminas de amêndoas complementando o pudim muito bem feito.
Os exageros no preparo dos pratos tiram o brilho de uma cozinha tem potencial para ter qualidade e tornam o Paparoto um restaurante morno —temperatura em que muitos dos pratos chegaram à mesa, por sinal.
[ad_2]
Fonte: Folha de São Paulo