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Ariana Grande completou trinta anos em 2023. Um dos maiores nomes do pop atual, ela teve tempo para viver de tudo: sucesso mundial, turnês enormes, relacionamentos publicizados e um luto mais público ainda. Talvez por isso, a artista levantou um muro para a mídia nos últimos anos —mas agora, abre uma janela para suas emoções em “Eternal Sunshine”, seu sétimo álbum de estúdio.
Ela também andava ocupada. Escalada como Glinda na produção cinematográfica do musical “Wicked”, a artista se entregou a esse papel (que diz ser o seu maior sonho) e desapareceu dos holofotes. “Eternal Sunshine” é quase um acidente de percurso: graças à pausa obrigatória da greve dos roteiristas, ela se dedicou a fazer um breve retorno à música. O resultado é um respiro depois de “Positions”, trabalho de 2020 que não favoreceu sua discografia.
“Eternal Sunshine” é um álbum conceitual, segundo a artista. O nome faz referência ao filme de 2004, “Eternal Sunshine of the Spotless Mind” (brilho eterno de uma mente sem lembranças) sem o trecho “mente sem lembranças”: Ariana se lembra, e é isso que a impulsiona para frente. Mas não há tantos acenos ao filme exceto o tom reflexivo, entre triste e otimista, de uma pessoa já calejada pelo amor.
Isso permite que o disco não seja caricato e ganhe profundidade. Com o parceiro de longa data Max Martin (produtor sueco veterano, que assinou sucessos como “…Baby One More Time”, de Britney Spears), a cantora encontra espaço para desenvolver variações do mesmo tema. Em “Intro (End of the World)”, ela revela o questionamento do disco: como é possível saber que você está com a pessoa certa? As faixas seguintes são uma tentativa de resposta, com um interlúdio sobre o retorno de Saturno —conceito da astrologia que trata da proximidade dos 30 anos e toda a dificuldade que essa fase traz.
Mas a primeira metade do álbum se desenvolve com alguma timidez, arriscando cair em uma versão clichê (ainda que elegante) de trabalhos anteriores da artista. Aqui, a voz de Ariana, um músculo exercitado ao máximo graças ao papel em “Wicked”, segue sendo seu maior triunfo. Ela não gasta os vocais em melismas exagerados, mas em harmonias cintilantes. Faixas como “Don’t Wanna Break Up Again” e “Eternal Sunshine” são desabafos bem produzidos, que te conduzem do término iminente à decepção difícil de digerir.
A segunda metade do disco —com exceção do lead single “Yes, And?”, um house pouco potente que se mostra descartável no conjunto— revela uma Ariana habilidosa e versátil. “We Can’t Be Friends (Wait For Your Love)” a leva pelo território do synthpop de Robyn e Carly Rae Jepsen. “The Boy Is Mine” flerta com o R&B dos anos 90, estilo Aaliyah, ao longo de versos sobre desejar uma pessoa comprometida. Em “Imperfect For You”, tudo soa redondo até a frase-título, que entra em uma melodia inesperada —imperfeita, como ela mesma argumenta. O som obedece fiel à semântica das músicas.
Na tentativa de responder suas dúvidas, Ariana passeia até encontrar conforto em sua avó (“Nonna”), única outra pessoa creditada no álbum. É o áudio dela que põe fim à incerteza: “Nunca vá para a cama sem dar um beijo de boa noite”, diz Nonna. “E se você não puder, e se não se sentir confortável fazendo isso, você está no lugar errado”.
Belo e agridoce, “Eternal Sunshine” é um álbum feito para fones de ouvido —não tanto para a rádio, e dificilmente para os alto-falantes de uma festa. Carrega a interseção entre R&B e pop onde Ariana se consagrou nos últimos anos e definitivamente não reinventa a roda, nem mesmo para ela. Mas esse é um disco sobre amadurecimento, não sobre mudança radical.
É realmente um álbum conceitual? Difícil dizer. Se há um conceito em “Eternal Sunshine”, é o amor (o tema mais visitado do mundo da música). Mas é um disco que mostra Ariana Grande em seu melhor: vulnerável, delicada, paciente. É a sensação de ouvir uma artista que, no processo de desvendar seus afetos, sabe sua identidade —e a ressalta de forma exuberante.
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Fonte: Uol