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Becky S. Korich discorda dos que afirmam que a crônica morreu. “A gente sempre lê isso, né? Ela talvez esteja moribunda”, diz. Mas, acrescenta, pode ser que ela seja exatamente o que precisamos nestes tempos frenéticos. Afinal, em uma época em que as “coisas vêm até nós, a crônica dá espaço para que cheguemos até ela”.
O estilo é a base do primeiro livro da colunista da Folha, “Caos e Amor”, cujo lançamento acontece na próxima semana. Korich, que além de escritora e dramaturga, também é advogada, diz que o interesse pelo gênero começou quase duas décadas atrás, quando seu filho mais velho nasceu.
Todo dia, ao voltar para casa do trabalho para amamentar, ela passeava com o bebê por cerca de meia hora e mostrava a ele as plantas, os animais. “Eu era muito workaholic. Comecei a ficar viciada nas entrelinhas da vida, nas coisas pelas quais a gente passa e não percebe”, rememora. “E isso é a crônica, é pegar qualquer detalhe e transformá-lo em palavras.”
Foi só durante a pandemia, no entanto, que ela começou a compartilhar seus escritos com um público mais amplo. Primeiro, com a criação de um blog, “Quarentenando”, que deveria durar 40 dias e acabou se estendendo pelo período de distanciamento social. E, desde o ano passado, com uma coluna semanal na Folha.
Korich conta que tenta exercitar a crônica ao máximo na seção, ainda que não escape da política vez ou outra. “Não temos como não nos manifestar num espaço tão importante quanto o do jornal”, afirma. No livro, porém, o assunto passa longe.
Em vez disso, surgem textos sobre os dilemas dos relacionamentos humanos em meio ao contratempos da rotina hoje, como a dificuldade de equilibrar trabalho e lazer e a família que não ajuda com os afazeres domésticos. Problemas dos quais, segundo a autora, não tardamos a sentir falta quando surgem questões de fato complicadas, como doenças.
Repetem-se na seleção temas como sorte e azar, felicidade e tristeza, feminino e masculino, paz e conflito. Pares de opostos —não à toa, personagens de irmãos gêmeos idênticos aparecem mais de uma vez nos 38 textos que compõem a publicação.”Eu gosto dessa figura, de semelhanças e diferenças, de paradoxos, contradições”, comenta a escritora.
Uma dessas narrativas, sobre dois irmãos que de tão similares conseguem trocar de identidade sem que quase ninguém perceba, tem uma estrutura que lembra menos a de uma crônica e mais a de um conto.
Não é o único texto que foge do tom da crônica no livro. Korich admite que não só o formato do conto tem começado a se fazer mais presente na sua produção, como ela está escrevendo uma série de textos do tipo que talvez sejam combinados de modo a formar um romance.
Não seria sua única incursão por um novo formato literário. Além de “Caos e Amor”, ela já tinha trabalhado com textos para teatro nos últimos anos, e assina a dramaturgia de uma peça agora em fase de produção, “Muito Humana para Ser Exata”, sobre três mulheres com sensibilidades completamente diferentes. Todas elas têm, no entanto, um pouco de sua autora, diz Korich. “Tudo que a gente escreve é autoficção.”
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Fonte: Uol