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Tomar café pode ser só um hábito, algo necessário para despertar ou dar um ânimo momentâneo. Talvez um vício, como escudeiro do cigarro.
Mas na maior parte do Brasil há algo no café que vai além. Não é como o copázio que o norte-americano carrega a tiracolo para dar um gás extra no trabalho, nem a cápsula inserida às pressas na máquina de uma sala em um prédio de fachada espelhada na Faria Lima.
Refiro-me ao café coado, sem correria, para si mesmo, para o neto que está para chegar, para um amor ou um amigo num domingo de manhã.
E aquele cheiro que conforta, lembra o lar, serena a mente.
A inigualável Nina Horta (1939-2019), ex-colunista desta Folha, dizia que comida de alma é “aquela que consola, que escorre garganta abaixo quase sem precisar ser mastigada, na hora de dor, de depressão, de tristeza pequena”. “Dá segurança, enche o estômago, conforta a alma, lembra a infância e o costume”, escreveu Nina.
O café pode ter essa função reconfortante, quase curativa. Basílio de Magalhães relata esses usos da bebida em “O Café na História, no Folclore e nas Belas-Artes” (1930).
“O café forte é remédio caseiro contra intoxicações de toda casta, quer puro, quer misturado com álcool. Puro e sem açúcar, é como se emprega para curar as camoécas. Com conhaque queimado, serve para sudorífico benéfico às defluxeiras. Com aguardente boa, é o primeiro antídoto, no caso de envenenamento de origem desconhecida”, escreve.
É, pois, bebida de alma, com a licença de Nina Horta.
Bebida de alma como o café servido pela avó, com bastante leite, açúcar e biscoitos mergulhados –um quitute improvisado.
Ou como a primeira coisa que se prepara para receber uma visita que acaba de chegar. Oferta de afeto, cuja recusa configura desfeita.
E tem ainda a leniência consigo mesmo. Passar um cafezinho para ler um livro, para começar o dia com calma. Ou só para refletir e remoer os males da alma. Café contra o frio e a garganta seca —do tempo árido ou do choro contido.
Quiçá até para dormir melhor —estimulante da mente, quietude do espírito.
O ato, o aroma, a memória e o calor. Não é sempre, mas café pode ser, sim, comida de alma.
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Fonte: Folha de São Paulo