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Um dos principais diretores italianos da atualidade, Matteo Garrone gosta de transitar por gêneros diversos. Projetou-se mundialmente com “Gomorra”, de 2008, um retrato bastante realista da máfia napolitana. Em seguida, lançou “Reality: A Grande Ilusão”, de 2012, em que satiriza o culto a programas como Big Brother.
O diretor visitou o universo fantástico em “O Conto dos Contos”, em 2015, filme bem diferente de “Dogman”, de 2018, um drama social que se passa numa periferia italiana. Em seguida, veio “Pinóquio”, em 2019, uma fábula de tons sombrios.
Neste novo “Eu, Capitão”, que disputa o Oscar de melhor filme internacional pela Itália, Garrone apresenta uma produção de tons épicos, que acompanha a odisseia de um herói bem representativo deste século 21.
Sonhando com a Europa como destino final, o adolescente Seydou, vivido por Seydou Sarr, e seu primo Moussa, papel de Moustapha Fall, deixam o Senegal, cortam o Mali e o Níger, e chegam à Líbia, onde se preparam para a travessia para a Itália. As adversidades ao longo do caminho surpreendem personagens e espectadores.
“O que me motivou foi poder mostrar a parte da jornada dos imigrantes que normalmente nós não vemos. Estamos acostumados com informações sobre a última parte da viagem, quando eles estão no mar Mediterrâneo e é feita essa contagem de quantos sobreviveram e quantos morreram”, diz Garrone à Folha. “Coloquei a câmera do outro lado.”
O outro lado citado por ele tem dupla leitura. Primeiro, mostrar a saga que se dá por dentro da África, especialmente sob o sol implacável do Saara. Depois, apresentar a história do ponto de vista de quem a vive, humanizando os números, segundo o cineasta. Toda a trajetória, portanto, é narrada a partir do olhar de Seydou.
Assinado por Garrone, Massimo Ceccherini, Massimo Gaudioso e Andrea Tagliaferri, o roteiro de “Eu, Capitão” se baseia numa série de casos reais, como o de Mamadou Kouassi. Há cerca de duas décadas, ele deixou seu país, a Costa do Marfim, na África Ocidental, e embarcou numa jornada por desertos e acampamentos que durou três anos até alcançar o litoral da Líbia, no norte do continente.
Imigrantes africanos radicados na Itália, como Kouassi, acompanharam as filmagens, contribuindo com sugestões na trama e nos diálogos.
Um dos trunfos de “Eu, Capitão” é a presença luminosa do protagonista Seydou Sarr, que quase escapou do radar de Garrone. O cineasta estava em processo de seleção do elenco no Senegal quando a mãe e a irmã do adolescente, ambas atrizes amadoras, sugeriram a Garrone que fizesse um teste com Seydou.
O jovem não se animou com a ideia, estava mais interessado em jogar futebol, mas, por insistência das familiares, foi ao encontro do diretor e conquistou o papel.
Na última edição do Festival de Veneza, em setembro do ano passado, Sarr conquistou o prêmio Marcello Mastroianni, entregue a jovens atores. No mesmo evento, Garrone foi escolhido como o melhor diretor.
Sobre a disputa no Oscar, segundo Garrone, seu filme tem sido bem recebido nas exibições nos Estados Unidos. “Muitos americanos são imigrantes, eles se identificam com histórias como a de Seydou. Além disso, o filme épico faz parte da tradição do cinema dos Estados Unidos.”
De acordo com ele, o favorito nessa categoria é o britânico “Zona de Interesse”, de Jonathan Glazer. Mas o jogo não está ganho, complementa. “Esperamos ter uma surpresa.”
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Fonte: Uol