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Fazer um filme em oposição ao outro, e assim consecutivamente. Essa é a estratégia de muitos diretores que não gostam de percorrer caminhos anteriormente traçados.
Assim é a carreira de Ilker Çatak, cineasta que chega agora ao quarto longa, “A Sala dos Professores”, indicado da Alemanha ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Temos uma série de furtos na escola e os diretores e professores começam a revistar alunos suspeitos, causando mal-estar. Carla, professora de ciências vivida por Leonie Benesch, resolve ligar a câmera do notebook na sala dos professores, enquanto se ausenta por alguns minutos, deixando seu casaco com uma carteira na cadeira em frente.
Analisando depois o vídeo gravado, chega a uma das secretárias, a veterana sra. Kuhn, interpretada por Eva Löbau, que nega veementemente ter roubado o dinheiro de Carla, causando até comoção pelo desespero, que não parece o de uma pessoa realmente culpada.
O vídeo mostra uma camisa exatamente igual ao que ela estava usando no dia. Se não foi ela que roubou, foi alguém com uma camisa idêntica, o que era improvável. Ou alguém usando a camisa dela, mais improvável ainda.
Temos então alguns dilemas. Em primeiro lugar, por que diabos Carla gravou um vídeo na sala dos professores, onde só entram, além deles, a diretora e as secretárias? Qual é a dimensão ética de gravar um vídeo desses em segredo?
Numa outra perspectiva, como não ficar balançado, mesmo diante de evidências, quando alguém acusado de roubar dinheiro se defende de maneira tão enfática?
Carla lida mal com o caso desde o início, e seu entorno revela pessoas corruptíveis, manipuláveis ou manipuladoras, em que pré-adolescentes aprendem artimanhas vergonhosas como meio de reação a uma situação que entendem mal.
Há também os professores que percebem a atitude de Carla como equivocada e querem um confronto com os alunos, visando salvar a instituição e a relação professores-alunos.
“O diabo deste mundo é que todos têm suas razões”, já dizia Jean Renoir em “A Regra do Jogo”, de 1939. Em “A Sala dos Professores”, essas razões são atabalhoadas, por vezes nefastas.
O filme é menos sobre a incapacidade da protagonista de lidar com situações complicadas para se tornar uma fábula moral a respeito do mundo atual, das falsas verdades e da sequência de erros que provoca um descontrole geral da situação.
Alemão de origem turca, Çatak estudou cinema primeiro em Berlim, depois em Hamburgo, onde filmou o premiado curta “Sakadat”, de 2014.
Seu longa de estreia, “Once Upon a Time in Indian Country”, de 2017, parece indicado aos espectadores que só aguentam filmes que pisam fundo no acelerador e aos que têm alta tolerância à afetação. Um festival de escolhas erradas que colocaram Çatak sob a suspeita de estar na profissão errada.
No segundo longa, “I Was, I Am, I Will Be”, de 2019, adota, surpreendentemente, um estilo mais clássico, em que as manifestações de invenção ocorrem com alguma timidez. É um bom filme, que demonstra a capacidade do diretor em outro registro.
“Stambul Garden”, de 2021, surge como um retorno aos personagens jovens do primeiro longa, mas agora com outro estilo, mais contido, centrado nas emoções dos personagens.
Na ideia de fazer um filme contra o outro, talvez Çatak tenha feito, com “A Sala dos Professores”, um filme contra todos os outros que realizou. Nos defrontamos com a negação do autor, ou sua não reivindicação. O que não deixa de ser interessante. Mas revela uma vontade perigosa de querer agradar a qualquer custo.
A corrida dos Oscar não faz bem para o cinema e é pior ainda na categoria dos filmes estrangeiros. Todo ano, cria-se um clima de Copa do Mundo, com as comissões de cada país divididas entre escolher o melhor filme e o que tem mais chances de ganhar. Normalmente escolhem o segundo, ou seja, a mediocridade.
“A Sala dos Professores” não chega a ser insignificante, mas revela um diretor que por pouco não é vítima de sua própria versatilidade. O filme não tem muito estilo para além da câmera persecutória, que já era utilizada desde os anos 1920.
No anseio de buscar prêmios, o diretor parece procurar a mediocridade conciliadora. Por mais que tente, há sempre algum detalhe que escapa do programado e coloca vida no filme. O espectador ganha mais se estiver aberto aos momentos em que isso acontece.
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Fonte: Uol