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Dei match com uma moça bonita e bacana num desses aplicativos de relacionamento.
Temos conversado online desde antes do Carnaval, mas ainda não nos vimos pessoalmente. Nesta semana, enquanto papeamos pelo Instagram, ela me manda o seguinte petardo:
– Preciso contar uma coisa que pressinto que vá te decepcionar.
Pânico. Olho para o teclado. Só consigo digitar quatro letras:
– Eita.
O que poderia ser?
É casada? E quer um date a três com o marido? É hare krishna? Sofre de halitose crônica? Ou será que só está nessa para um projeto acadêmico –e quer me entrevistar para a tese de doutorado?
Respiro fundo. Mais quatro letras:
– Diga.
Ela passa alguns segundos digitando. Parece uma eternidade. Enfim:
– Eu não como carne vermelha.
Fiquei aliviado e um pouco mordido com a brincadeira. Ou talvez não fosse 100% brincadeira. Talvez ela tivesse mesmo algum receio de que isso pudesse me frustrar.
Os apps de encontro são como um baralho de cartas que você pega ou descarta. As cartas trazem fotos e uma breve ficha com características físicas e preferências da pessoa.
No começo você se detém para avaliar os prós e os contras. Logo está jogando para um lado ou outro em questão de segundos. Cruel, mas é a dinâmica das redes sociais.
Para agilizar a triagem, todo mundo que está nesses apps tem uma lista mental de incompatibilidades automáticas.
Há quem não admita fumantes ou homens baixinhos. Dá para escolher pela posição política, religião, profissão, desejo de ter filhos e CEP.
No meu rol de “nãos” estão as fotos em frente a uma parede grafitada com asas que fazem a pessoa parecer um anjo ou uma borboleta. Sem condição. Mas cada um com as suas manias. Deixa eu com as minhas.
A incompatibilidade também pode ser gastronômica, por que não?
Nunca dispensaria alguém por não comer carne, mas o veganismo traz obstáculos reais para a convivência com quem não segue o movimento. A rejeição vem em mão dupla.
Um desses apps, o Bumble, traz uma pergunta sobre o prato favorito da pessoa.
Algumas respostas já me fizeram deslizar para a esquerda. Temaki de salmão. Barca de açaí. Pizza de frango com requeijão. Imagina ter uma DR todo domingo à noite por causa do pedido na pizzaria.
Topei com o perfil de uma querida que disparava insultos contra o já tão vilipendiado cuscuz paulista. Qual a necessidade disso, minha gente?
Os aplicativos de paquera te jogam na cara informações do outro que, na dinâmica analógica dos relacionamentos, você demoraria meses até descobrir. Quando já fosse tarde demais para retroceder.
Conheceu, gamou, namorou e, num belo dia, fica sabendo que a(o) amada(o) tem mesa cativa no Coco Bambu do Anália Franco. Vai deixar de gostar? Aí dificulta.
Quanto ao meu date que não come carne vermelha, depois ela me disse que abre exceções para linguiça, salsicha e bacon. Pode uma dessas?
Marcamos o primeiro encontro num restaurante bacontariano. Desejem-nos sorte.
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Fonte: Uol