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O primeiro fim de semana do 74º Festival de Berlim foi bom para os filmes puxados por fortes papéis femininos. Houve as estreias de “Love Lies Bleeding”, com Kristen Stewart, e de “The Outrun”, com Saoirse Ronan.
As duas atrizes são protagonistas de obras que evidenciam a vida do lado de baixo da sociedade, a primeira numa cidadezinha próxima a Las Vegas, nos Estados Unidos, e a segunda como moradora das ilhas Orkney, um arquipélago ao norte da Escócia, no Reino Unido.
Stewart, que foi a presidente do júri na edição passada do festival, voltou a Berlim para apresentar “Love Lies Bleeding”, ou o amor jaz sangrando, um thriller lésbico que transita entre a hiperviolência carnavalesca de Tarantino e a sanguinolência sombria dos irmãos Cohen.
Dirigida por Rose Glass, a obra traz Stewart com cabelo mullet no papel de uma gerente de academia de ginástica que acolhe uma fisiculturista, interpretada por Katy O’Brian, que parece estar em seus piores dias, em algum momento do final do século passado
Dormindo debaixo da ponte ou transando para conseguir um emprego, a atleta se envolve com a gerente e vai trabalhar no clube de tiro do pai dela. Má escolha —o pai, vivido por Ed Harris, ao mesmo tempo careca e cabeludo, é um “white trash” da pior espécie.
Mas o amor tudo salva, e as coisas parecem se encaminhar até que, é claro, tudo começa a dar errado. Com certo humor negro, o sangue jorra por todos os lados na vida de nossa heroína e só mesmo uma dose de realismo fantástico, já na parte final, pode salvar a moça de sua terrível família.
“Esse filme meio que desnuda a América e, por isso, é legal mostrar num contexto europeu”, disse a atriz, em entrevista aos jornalistas neste domingo. “E são filmes feitos por mulheres, nós temos que nos empoderar. Rose queria fazer esse filme sobre uma garota forte.”
A atriz comentou a capa da revista Rolling Stone, para a qual posou encarnando a personagem do filme, sexualizando em meio a halteres. “A existência de um corpo feminino empurrando você para qualquer tipo de sexualidade que não seja projetada exclusivamente para homens heterossexuais é algo com o qual as pessoas não se sentem muito confortáveis. E estou muito feliz com isso”, afirmou.
O filme, aliás, não pega leve nas cenas de sexo entre as duas, mas, para Stewart, isso não faz de “Love Lies Bleeding” um filme gay. “A era dos filmes queer, sendo apenas isso, acabou. Já foi. Talvez ainda apareçam alguns, mas acho que as coisas evoluem e seguem em frente. Todos estamos avançando.”
Saoirse Ronan, por sua vez, sofre demais em “The Outrun”, que pode ser traduzido como a superação. A história da jovem que passou anos vivendo no limite e agora tenta deixar a bebida já foi vista inúmeras vezes no cinema.
Mas Ronan é uma excelente atriz, e a diretora Nora Fingscheidt entrega um filme que pelo menos tenta fugir dos clichês da alcoólatra em decadência. A crítica internacional, pelo menos, aprovou.
“Adaptação comovente e delicada”, segundo o Guardian e “exploração visceral da psique feminina com cicatrizes”, segundo a Hollywood Reporter. Ou, conforme a revista Harper’s Bazaar, “quando se trata de desaparecer em papéis emocional e fisicamente exigentes, existem poucos atores tão talentosos e comprometidos quanto Saoirse Ronan”.
Depois de anos vivendo em Londres, a personagem de Ronan, Rona, retorna à beleza selvagem das ilhas Orkney, onde cresceu, na esperança de dias melhores. Ali, no entanto, ela precisará lidar com os problemas mentais de seu pai e com a religiosidade de sua mãe.
A adaptação de Nora Fingscheidt do best-seller autobiográfico de Amy Liptot usa flashbacks para retratar a espiral descendente de Rona em Londres e seu tempo em um programa de reabilitação rigoroso. O filme vai e volta inúmeras vezes no tempo, sendo que a cor do cabelo da protagonista nos ajuda a situar o momento em questão.
Em certo momento, a jovem se refugia numa ilha ainda mais longe, onde focas, pássaros e as tradições do local a vão ajudar a se manter em pé. E ali, com a natureza ao seu lado, ela finalmente encara seus demônios.
O israelense Amos Gitai também estreou mundialmente seu “Shikun” no Festival de Berlim nesta semana. É inspirado pela peça surrealista “Os Rinocerontes”, do romeno Eugène Ionesco, que mostra homens se transformando em rinocerontes, gradativamente passando da sensação de espanto para a banalização, quando o pensamento autoritário chega ao poder.
O filme de Gitai, na verdade, não passa de uma série de esquetes declamados em um prédio em Israel. A primeira meia hora é um plano só, em que a câmera vai e volta por um corredor enquanto a atriz Irène Jacob simula ver rinocerontes e outros conversam sobre os mais variados assuntos, de projetos arquitetônicos a a aulas de hebraico para imigrantes.
Depois disso, há uma fanfarra, mais conversas na garagem e a dúvida sincera do espectador em relação ao que se vê na tela. Frequentadores de festivais, em geral, têm muita paciência, mas a sessão de imprensa de “Shikun” foi constantemente abalada pela batida da pesada porta de saída do cinema, para a qual pelo menos duas dezenas de jornalistas correram enquanto o filme ainda estava pela metade.
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Fonte: Uol