[ad_1]
Desde que estreou na HBO, há 10 anos, “True Detective” se dedica a mostrar onde vivem os monstros. Os que matam pois é uma série policial na essência, mas também os que nos consomem por dentro. Ao sobressair nesta última vertente, o drama em formato de antologia se torna um verdadeiro assombro.
O quê sublime está presente na quarta temporada, “Terra Noturna”, que chega ao fim neste domingo (18) com a promessa de revelar como morreram os cientistas de uma estação de pesquisa no Alasca cujos corpos foram encontrados congelados num instantâneo grotesco.
Primeira leva de episódios sem o showrunner Nic Pizzolatto no leme, e a mais curta (são só seis), ela é também a mais fiel àquela de estreia, quando Matthew McConaughey e Woody Harrelson atingiram um desses raros momentos elevados nos quais os atores capturam o público de forma irreversível.
Mas não por reverência ou imitação, algo que Pizzolatto criticou de forma deselegante no trabalho de sua sucessora, Issa López, apenas para ser desautorizado pelos ótimos dados de audiência. Esta temporada remete à primeira porque é a única outra a explorar os demônios mentais da dupla central de detetives de forma sensível e convincente ao mesmo tempo que conduz um enredo que, em outras mãos, talvez soasse mirabolante.
Não é pouco o que faz López, a diretora e roteirista mexicana que mostra notável segurança ao conduzir a produção do seu modo sem desrespeitar a obra original.
É verdade que ela conta com Jodie Foster, de quem nunca se espera menos do que o excepcional, mas o tenso equilíbrio que ela consegue na tela entre a sumidade e sua menos conhecida (mas magnífica) parceira de polícia/crime/cena, Kali Reis, é devastador. Os laços que se apertam entre as duas mulheres são tão palpáveis quanto aqueles com que a dupla McConaughey/Harrelson nos mantiveram, espectadores, fisgados.
É esse jogo finamente sincronizado entre as duas protagonistas que sustenta a série, mas há mais.
Há o mistério em si, com sua aura sobrenatural infiltrada por temas hiper-humanos como corrupção, mesquinhez, racismo, desigualdade e sobretudo solidão (há tempos não se viam personagens tão sós, algo que a noite perene das altas latitudes e a imensidão gelada do “Alasca” recriado em locação na a Islândia só reforçam). Há a atualidade e urgência do tema de fundo usado —a exploração impensada de recursos naturais e seus reveses. Há a música.
A música sempre inebriou tudo em “True Detective”, e aqui cresce na voz soturna e profundamente feminina de Billie Eilish cantando monstros já nos créditos de abertura, mais pop nostálgico e folk original em doses precisas.
Que López, diferentemente de Pizzolatto, não decepcione.
Esta coluna é dedicada ao querido colega Tony Goes, que morreu nesta quinta (15), muito cedo, deixando gentilezas, amigos, textos sobre cultura pop eivados de humor fino e, sobretudo, inspiração.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
[ad_2]
Fonte: Uol