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Dakota Johnson passa boa parte do tempo de “Madame Teia” reagindo. O filme só precisa que algo aconteça para cortar para a atriz, na busca de seu rosto surpreso ou intrigado com a situação que se desenrola. Isso desde algo simples, como a explosão de um balão, até imagens insólitas como a de uma ambulância atravessando um outdoor no meio de Nova York —mesmo que ela esteja no volante.
O procedimento é natural para um filme de ação, em especial de super-heróis, mas a artista bagunça a lógica. O bate e rebate vai na contramão do trabalho da atriz, que se aperfeiçoou em papéis que são alvo da atenção dos outros —quase sempre pelo desejo, como em “A Filha Perdida”, de 2021.
Nesse sentido, o longa inverte o voyeurismo, mas comete o erro de deixar Johnson sem o que fazer —o que é um tédio, para ela e para o público.
O pior é que essa decisão surge para destacar o poder de sua personagem, Cassie Webb, que pode prever o futuro. Uma habilidade para lá de ingrata, se vamos ser honestos, porque ela antecipa só alguns segundos do que vai acontecer. Para a diretora, S.J. Clarkson, o jeito é filmar as cenas várias vezes com resultados diferentes, mostrando Johnson na mesma situação de novo e de novo.
Essa dinâmica até poderia ser interessante, e no começo dá a entender que há um plano para ela. Na história, Cassie trabalha como socorrista, viajando por Nova York em uma ambulância para evitar tragédias e salvar pessoas. Seu poder, invocado sem grande explicação, se torna uma pequena maldição: ela vê o desastre chegando, mas não consegue evitá-lo. O custo, logo no começo, é a vida de um colega.
A isso se soma uma trama no qual ela esbarra quase que por acidente. Quando pega o trem certo dia, ela de repente prevê a morte de três garotas no vagão. O assassino —vivido por Tahar Rahim—, sabemos antes, tem um pesadelo recorrente de ser morto pelas meninas, e quer impedir o futuro cortando o mal pela raiz.
O mais intrigante é que o trio, no sonho, se veste como versões derivadas do Homem-Aranha.
Então Cassie decide impedir a chacina, e dessa vez obtém sucesso na empreitada. A ação dispara uma trama que, complexa como a teia de aranha, sugere que a socorrista tem uma conexão com as garotas. A começar pelo trio ter cruzado o seu caminho nos últimos dias, e depois por todas terem em comum o fato de serem abandonadas pelos pais —o que de alguma forma se relaciona com a posição de órfã da heroína. Cassie, aos poucos, se descobre no centro do caos.
Todas essas informações, juntas, sugerem um filme inusitado e promissor ao extenuado gênero dos super-heróis. A história lembra a dinâmica da franquia “Premonição”, em particular quando se sugere que o futuro seja inescapável, e isso desafia o heroísmo em cena. O vilão vive um drama edipiano ao ser atormentado por tais visões, enquanto a mocinha precisa encontrar o seu lugar na trama maquiavélica.
Mas “Madame Teia” tem outros fins para essa grande artimanha, bem mais entediantes e todos relacionados ao Homem-Aranha. A tragédia grega que acomete o antagonista de alguma forma passa pelo herói aracnídeo, que ainda está para nascer. O filme acontece em 2003, bem próximo à família de Peter Parker, e faz questão de apontar as duas coisas a todo momento.
Esse encontro de destinos fica ainda mais confuso porque o longa mal explica como as duas coisas se conectam, e a confusão vale para tudo. “Madame Teia” a certa altura vira uma maçaroca ininteligível, guiada por eventos bombásticos, falas de efeito e até mesmo uma viagem para o Peru.
Os poderes de clarividência também são abandonados pela narrativa, que inventa novos poderes para a protagonista.
Ou seja, é coisa de produtor insatisfeito, que vê o filme desandar e toma as rédeas para salvar o investimento. Os resultados, como se imagina, são péssimos para a obra.
O mais estranho é que, até aí, nada está fora do normal. Com o sucesso do Homem-Aranha de Tom Holland no Marvel Studios, a Sony —dona do herói— passou a investir em derivados mais baratos do personagem. A produção acelerada, interessada só no lucro, rende filmes que forçam a mão dos clichês, aproveitam a presença de famosos nos papéis principais e terminam bizarros, como os dois “Venom” e “Morbius”.
“Madame Teia” mira isso como objetivo, em especial na esquisitice —o que virou um charme desses projetos, nada ortodoxos na linha de produção do gênero. O problema é que ele parece constrangido e mesmo entediado na posição, e não esconde o seu desgosto do público.
Se Cassie na história aprende que o futuro não é definido, “Madame Teia” está bem conformado em seguir em direção ao precipício. Eis aí um dirigível Hindenburg difícil de se assistir.
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Fonte: Uol