[ad_1]
O estoque de “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves, esgotou após a Portela basear seu desfile no livro, que é um marco da literatura brasileira por retratar a escravidão e dar protagonismo a uma mulher negra.
A obra de ficção conta a história de Kehinde, uma jovem africana traficada para o Brasil, mais especificamente para Salvador. Anos mais tarde, já liberta da escravidão, ela busca seu filho no Rio de Janeiro, que fora vendido pelo próprio pai.
Segundo Cassiano Elek Machado, diretor do Grupo Editorial Record, que publica o livro, a casa já iniciou a reimpressão dos exemplares em seu parque gráfico e conseguirá atender a todos os pedidos feitos no site.
O samba-enredo da Portela levou as vendas do livro ao ápice. Só na terça-feira, foram vendidos dez vezes mais exemplares do que na semana passada inteira. Apesar de a editora ter acompanhado as preparações para o desfile, o salto dos números foi inesperado.
“Além do desfile, várias personalidades fizeram recomendações contundentes do livro em rede nacional”, diz. Na Amazon, a obra aparece entre os mais vendidos do site. As pesquisas do livro no Google aumentaram 1.492% nos dias 13 e 14, logo após o desfile, em comparação aos cinco dias anteriores, de acordo com os dados do Google Trends.
A Estante Virtual, maior plataforma de venda de livros do país e que inclui o acervo de sebos, afirmou que todos os exemplares do livro esgotaram. Depois do desfile da Portela, as vendas aumentaram 3.300%, segundo os números divulgados pelo site.
Machado, porém, lembra que a obra já era um sucesso antes deste Carnaval. “O livro já tinha ultrapassado os 10 mil exemplares vendidos, marca que poucos livros de ficção alcançam no Brasil, e se consolidado como uma referência para a literatura nacional”, diz.
Lançado em 2006, “Um Defeito de Cor” começou a ganhar mais destaque nos últimos anos, segundo o editor, impulsionado pelos desdobramentos do Black Lives Matter.
“Foi também o tempo das pessoas lerem, estudarem e recomendarem o livro, que além da temática racial, é uma grande peça literária”, diz.
Em entrevista à reportagem, em 2023, a autora afirmou que o processo de escrita a ajudou a se entender enquanto mulher negra, mas que a obra não deve ser rotulada apenas como de literatura negra.
“Durante muito tempo, os rótulos de literatura negra e marginal foram usados para dizer de maneira implícita que esses livros não tinham qualidade para serem alçados à categoria de literatura. Sou uma escritora negra, mas minha obra é universal”, disse.
Kehinde, a protagonista de “Um Defeito de Cor”, representa a figura histórica Luísa Mahin, que teria participado da Revolta dos Malês, em Salvador. E seu filho perdido seria Luiz Gama, famoso advogado abolicionista.
Gonçalves explicou que reivindica para seus personagens negros o que chama de “lugar de falha”. “Grande parte dos personagens negros da ficção mainstream brasileira é completamente previsível. Os personagens tortos e falhos me interessam mais. Eles têm mais a dizer do que personagens que estão sempre tentando andar na linha.”
A Viradouro, campeã do Carnaval carioca neste ano, baseou seu samba-enredo no livro “Sacerdotisas Voduns e Rainhas do Rosário”, dos historiadores Aldair Rodrigues e Moacir Maia, que mostra como o candomblé foi um fenômeno no Brasil colonial.
Machado, diretor da editora Record, espera que a iniciativa da Portela estimule a criação de mais sambas-enredos baseados em obras literárias, um feito ainda pouco frequente. Segundo ele, o desfile será lembrado como um marco cultural para o Brasil. “A Portela trabalhou uma grande obra literária. Isso é mais importante do que o resultado das vendas.”
[ad_2]
Fonte: Uol