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Para as crias de comédias românticas dos anos 1990 e 2000, o mercado cinematográfico atual tem sido um deserto. Vez ou outra um título chama a atenção e é vendido que a era de ouro do gênero pode estar de volta. Não está.
É uma grata surpresa, então, que “Fazendo Meu Filme: O Filme”, adaptação do livro mais famoso de Paula Pimenta, conquiste, de forma despretensiosa, a simpatia dos corações ávidos por um bom enredo água com açúcar.
O best-seller é de 2008, foi gravado em 2021 e chega ao Amazon Prime nesta quarta-feira. A espera dos fãs foi longa e valeu a pena, porque o roteiro é bastante fiel.
Estamos em Belo Horizonte, ano 2000. A protagonista Fani, papel de Bela Fernandes, é uma adolescente de 16 anos tímida, que adora passar as tardes de domingo assistindo a comédias românticas em DVD ou no cinema. Entre seus títulos favoritos, que ela define como “filmes de amorzinho”, faz referência a “O Casamento do Meu Melhor Amigo”, de 1997, e “Um Lugar Chamado Notting Hill”, de 1999.
Em paralelo a seu amor pela sétima arte, ela narra suas desventuras no ensino médio, como a paixão platônica pelo professor de biologia e o distanciamento do seu melhor amigo Leo, vivido por Xande Valois.
O conflito —por pressão da mãe, interpretada por Samara Felippo, Fani fará um intercâmbio para a Inglaterra, mas não quer deixar o Brasil para trás. São questões, é claro, de uma classe média que estuda em colégios particulares e não tem preocupações financeiras. Mas nem por isso deixa de ser universal ao abordar os hormônios de qualquer puberdade.
Para manter a primeira pessoa do livro, Fani quebra a quarta parede com seu fluxo de consciência. No começo do filme, as interrupções são bruscas e comprometem o ritmo, mas depois funcionam como alívios cômicos.
A adaptação traz a clássica história de melhores amigos que se apaixonam, mas o universo conspira contra seu final feliz. É uma era do amor pré-smartphones, em que os personagens se comunicam por bilhetinhos durante a aula, emails, desabafos em agendas e as nostálgicas ligações interurbanas do telefone fixo.
O filme de Pedro Antônio —que já dirigiu as “globochanchadas” “Tô Ryca” e “Meu Tio Quase Perfeito”— diz mais ao público brasileiro que produções hollywoodianas como “Todos Menos Você”, filme queridinho do TikTok ainda em cartaz nos cinemas, que se vale de toda sorte de piadas toscas.
“Fazendo Meu Filme” não quer reinventar a roda —sua graça está justamente na boa apropriação de clichês. Há química entre os protagonistas, um elenco de apoio entrosado —destaque às amigas interpretadas por Alanys Santos e Júlia Svacinna—, reviravoltas e declarações românticas para o público suspirar. E um toque brasileiro, com “Vou Deixar”, do Skank, e tomadas com cartões-postais de Belo Horizonte.
Curiosamente, faltam mineiros. Todo o elenco principal tem sotaque paulistano ou carioca. Só a própria autora, Paula Pimenta, que aparece como figurante em dois momentos, resgata esse tom que é uma das graças do livro.
Também poderia ter sido mais explorada a personalidade extrovertida de Leo que, nos livros, é um adolescente simpático e popular. Apesar do bom envolvimento romântico entre Valois e Fernandes, sua paixão juvenil é a única faceta que vemos. Um espectador desavisado pode não entender por que os dois são melhores amigos.
Notável ainda como o roteiro aderiu ao politicamente correto, em detrimento de certas ousadias do romance de Pimenta que deixam algumas cenas com um tom pudico.
É o caso da embriaguez de Fani durante uma festa, substituída no filme por remédios para dormir. Em outra passagem do livro, um valentão joga uma pedra no carro dos pais de Leo, que ele dirige na surdina, sem habilitação. No filme, o conflito some, e é o pai do garoto que vem buscar o rapaz numa confraternização.
De qualquer forma, em tempos em que se almeja tanto a nostalgia, “Fazendo Meu Filme: O Filme” consegue, como de praxe no universo de Paula Pimenta, trazer jovens adultos de volta à adolescência.
Conflitos singelos retratam uma época tão pura da vida e, por isso, este longa é sincero em sua proposta e vem para enternecer o coração numa tarde de feriado.
É uma pena que um filme tão ligado a formatos analógicos fuja das telas de cinema e vá direto para o streaming. Podemos ter aqui nossa joia das comédias românticas infantojuvenis.
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Fonte: Uol