[ad_1]
Um jovem garoto de programa chinês. Fei, o protagonista, deixou sua aldeia no campo para ganhar a vida na cidade grande —e vende o corpo para enviar dinheiro à família que deixou para trás.
Em “Moneyboys”, encontramos esse protagonista desenraizado, um fruto que foi cair longe da árvore. A dimensão desse rompimento de laços logo vai ficar clara: ao tentar voltar à sua aldeia para visitar o avô, Fei é vítima da homofobia raivosa dos parentes.
Em resumo: a família que aceitava seu dinheiro não pode aceitar a forma como ele ganha a vida, menos ainda sua homossexualidade.
Proibido de retornar, ele tem diante de si um drama de formação, o de construir uma identidade e uma vida que sejam só suas, acima do que cobra a tradição familiar.
E precisa encontrar tal identidade em um meio de caminho. Afinal, Fei já é urbano demais para sua velha aldeia, mas quem o rapaz da aldeia pode ser na cidade grande?
Exibido na mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes, “Moneyboys” é o longa-metragem de estreia de C.B. Yi, que busca na história a dimensão emocional de uma realidade social: ao longo das décadas, centenas de milhões de chineses deixaram a vida no campo para tentar a sorte nas cidades.
O público internacional que entende chinês, aliás, se incomodou com o filme. A história se passa na China, mas foi filmada em Taiwan —o que não seria um problema se, segundo os entendidos, os personagens não falassem uma mistura de sotaque mandarim mal-ajambrado e sotaque taiwanês.
Mas, no Brasil, isso não será problema para ninguém (ou quase ninguém).
O que resta para quem não pode entender os problemas de verossimilhança idiomática é um filme comovente, com um protagonista cheio de longos silêncios, tanto de palavras quanto de gestos —por vezes, o espectador se vê intrigado ao tentar decifrá-lo em cena. Ponto para a interpretação econômica de Kai Ko Chen-Tung.
Aqui, a cidade não é só um espaço de relativa liberdade sexual, mas também um ambiente que pode ser sufocante. Primeiro, porque a tal liberdade é relativa, e a polícia está de olhos para armar arapucas contra a prostituição.
Segundo, porque o trabalho com os programas é degradante e cria um estigma, como mostra a relação de Fei com sua família. O sexo por dinheiro é retratado no filme como uma reles burocracia, um ato mecânico reduzido a uma transação comercial.
Mas, fora da prostituição, o cenário não é muito melhor. Um amigo do protagonista que também vai para cidade e quer se prostituir é quem lança o argumento: trabalhar em postos precários para ganhar nada também não é vender o corpo?
Esse amigo, Long, é quem traz a doçura para o filme e desarranja a trajetória de melancolia do personagem principal. Alegre, apaixonado, intenso e otimista, ele convoca Fei a encontrarem juntos alguma alegria, sem estarem aprisionados à rejeição da aldeia. O conflito está colocado diante do protagonista: ferido por tantas humilhações, ele ainda sabe dizer sim?
[ad_2]
Fonte: Uol