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O que vem à mente quando você ouve a palavra “K-pop”? É o fenômeno global da boy band BTS, usando jaquetas com tachinhas e dançando em perfeita sincronia? Ou o grupo de garotas Blackpink, se apresentando no Coachella com roupas da moda e cabelos perfeitamente cacheados?
E que tal um “coletivo de música independente” de pessoas vestidas casualmente, aglomeradas ao redor de uma mesa de mixagem em um estúdio de um único cômodo, do outro lado da rua de um restaurante em Seul especializado em frango frito?
“Me dê mais grave”, disse Omega Sapien, um vocalista de cabelo verde elétrico e dentes de ouro, balançando os quadris e grunhindo no ritmo. O estúdio estava bagunçado com arte, discos de vinil, halteres e outras coisas aleatórias. Outro cantor estava deitado próximo, se recuperando de uma ressaca.
Para o Balming Tiger, essa é a vida diária de uma banda alternativa de K-pop. Sua música, uma fusão de gêneros diversos, do electro ao hip-hop, é divertida e ousada. Seu visual, desleixado e grunge, está longe do estilo profissional dos grupos que a maioria do mundo associa ao K-pop.
Mas eles também reivindicam esse rótulo. K-pop é qualquer música que venha da Coreia do Sul, de acordo com Omega Sapien. “Tudo nessa esfera é K-pop.”
Será?
“K-pop” é uma abreviação de música popular coreana, mas muitas vezes é entendido como algo mais específico —os grupos de garotos e garotas cujos membros são conhecidos como ídolos, em parte por causa de suas bases de fãs muito fiéis. Sua música tende a ter uma estrutura formulada e suas performances são coreografadas com precisão. As empresas de gerenciamento investem milhões nesses artistas e exercem um controle rigoroso sobre o produto final.
Mas, na Coreia do Sul, não é o tipo de música mais popular. Os grupos de ídolos são superados em número por artistas independentes e alternativos, de acordo com dados do governo e da indústria. Hyukoh, uma banda de quatro membros do bairro descolado de Hongdae, em Seul, e Leenalchi são outros dois grupos alternativos locais conhecidos.
“Nos dias de hoje, tenho a sensação de que quando a maioria das pessoas ouve o termo K-pop —e com ‘a maioria das pessoas’, quero dizer pessoas ao redor do mundo e não apenas na Coreia— elas frequentemente pensam apenas em grupos de garotas e garotos que se encaixam em um molde específico”, disse Regina Kim, uma jornalista baseada em Nova York que escreve sobre a cultura pop coreana. Quando ela estava crescendo em New Haven, no estado de Connecticut, Kim disse que R&B e música de dança da Coreia do Sul também eram considerados K-pop.
Em 2023, quase um quarto dos sul-coreanos compareceram a um show ao vivo, presencial ou online, de um artista independente, de acordo com uma pesquisa da Agência de Conteúdo Criativo da Coreia. O mesmo relatório constatou que baladas, e não o pop de grupos de ídolos, compunham o gênero musical favorito da nação, com mais da metade dos entrevistados identificando essa categoria mais lenta e menos chamativa como a que eles mais ouviam.
Embora o Balming Tiger se identifique como K-pop, eles não se consideram ídolos. “Mesmo que quiséssemos ser como ídolos, não podemos”, disse Chanhee, um vocalista que também trabalha no estilo, vídeos e fotografia do grupo.
“São nossas imperfeições que nos tornam mais atraentes”, afirmou outra vocalista, Sogumm, uma das duas mulheres do grupo. “Quero que as pessoas nos vejam e pensem ‘K-pop é legal’, não apenas no sentido de ser bonito e bonita, mas de ser algo que atrai um público diversificado.”
Eles não estão atrás de níveis estratosféricos de fama, mas sim de uma aceitação mais ampla de sua versão de K-pop. Eles já conquistaram o sucesso em muitos aspectos, tendo acabado de concluir uma turnê pela Europa, Ásia e Américas no final do ano passado, tudo sem o apoio financeiro ou poder de marketing das grandes empresas de entretenimento de Seul.
Balming Tiger —o nome vem de Tiger Balm, um creme de Singapura— começou como uma equipe de festa, organizando eventos com DJs em Seul.
Uma história de origem como essa é praticamente inédita no mundo dos ídolos. A grande maioria deles faz audição para uma empresa de gerenciamento e, se forem selecionados, passam por um treinamento rigoroso que pode durar anos.
A autoridade das empresas sobre os grupos vai além da música. Muitos ídolos são instruídos sobre o que podem e não podem dizer em público; às vezes, até mesmo suas dietas são monitoradas. Alguns ídolos disseram que foram instruídos a não namorar porque seus fãs mais devotos ficariam chateados ou se sentiriam traídos se eles o fizessem.
O marketing funciona, disse Daniel Anderson, um escritor de K-pop baseado em Seattle. Muitos fãs são atraídos pelas personas que as empresas criam para os ídolos. “Eles sabem como construir e criar essas histórias”, disse.
As pessoas se apegarão a essas narrativas que podem ser genuínas, mas muitas vezes essas imagens são fabricadas”, acrescenta Anderson. “O que eles vestem, o que dizem, quem é engraçado, quem é introvertido.”
Mas ao mesmo tempo, ele argumenta que “os fãs querem que esses ídolos sejam mais autênticos”.
Alguns observadores do K-pop dizem que seu sistema de valores inflexível reflete uma pressão social mais ampla na Coreia do Sul que não permite erros. Os resultados podem ser cativantes, como observou Kim. “Assistir a um videoclipe de K-pop muitas vezes parece que você está assistindo a um curta-metragem de Hollywood com alta produção, pessoas incrivelmente bonitas e coreografias incríveis”, disse ela.
Mas tantos grupos de ídolos entraram no mercado nos últimos anos que está ficando mais difícil se destacar, segundo Shin Cho, diretor de marketing interno e chefe de K-pop e seu equivalente japonês, J-pop, na Warner Music Korea.
“As pessoas estavam se superando na escala da perfeição”, disse Cho.
Uma maneira de se destacar nesse ambiente pode ser fazer as coisas por si mesmo. O “coletivo” da Balming Tiger tem 11 membros, incluindo pessoas nos bastidores —produtores, um escritor, videomakers. A música, os vídeos e a coreografia são todos deles.
Para o movimento principal de dança em uma de suas músicas, “BuriBuri”, eles simplesmente esticam os braços para os lados e balançam os quadris. “Isso não é algo que coreógrafos profissionais teriam inventado”, disse Omega Sapien durante um ensaio em dezembro. “É orgânico e vem de nós. É melhor.”
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Fonte: Uol