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Eis aqui um tema que toca muitas de nós —literalmente, inclusive. A mim surgiu por obra e graça do mais fanfarrão dos algoritmos, que criou uma playlist contendo canções inspiradas em amigas minhas.
Verdade seja dita, viver no Rio de Janeiro é estar estatisticamente propensa a esbarrar em coisas mais lindas, mais cheias de graça, que a caminho do mar viram a música mais regravada da história. Ainda assim, que surpresa quando Anna Júlia, ex-colega do curso de espanhol, tornou-se o hit que nem ela aguentava mais ouvir, nem Los Hermanos aguentavam mais tocar.
Um desconforto similar ao da querida M., cuja identidade preservo, posto que anonimamente suscitou não um, mas dois clássicos da treta juvenil em parceria com o Rock Brasil. “Meu Erro”, do Paralamas. E “Como Eu Quero”, do Kid Abelha.
De todas essas amigas —e acredite, há outras—, a mais acachapante é a que foi eternizada nos versos de “Renata Maria”, do Chico Buarque. Fosse do Latino, seria “Renata Ingrata”.
Zeus me perdoe, mas passada a alegria pela homenagem, imagine a dor de cabeça das musas que qualquer um pode cantar. De ressaca. Desafinando no videokê. Mil e uma noites de “ô Miiiiilas” e “ô Carlááás”, tão deslocadas quanto esta sílaba musical. Exaustas feito Euterpe, que, sem poder repousar o bum-bum-tam-tam no Olimpo, há de sentar num funk proibidão.
Tudo lindo para Floras, Luizas, Marinas. Coloque-se, porém, no lugar das Amélias, que não podem pular uma rotina de skincare sem que cantarolem sua falta de vaidade. O mesmo com quem é Betty e no refrão se vê acusada de frígida. Se reclamar, pior, pois a toada é também trolada. “Calma, Betty, calma!”
Numa comunhão perfeita de acordes, com separação questionável de bens, Ritas ainda são acusadas de levar uma imagem de são Francisco e um bom disco do Noel. Sendo que este compôs a trilha da mulher indigesta que merecia um tijolo na testa. Não revelou o nome, mas hoje seria Maria da Penha.
Por muito menos, Kátia Flávia segue escondida lá em Copa. Ou seja: a nós, mulheres, cabe até a responsa de estarmos atentas ao inspirar sucessos. O crush posta foto com violão? Cuidado com os aplicativos. Numa dessas rimaram Jenifer com Tinder.
As musas então advertem: contatinho bom é contatinho instrumental. Beethoven dedicou seu afeto em lá menor à tal de Elise, que era Therese. E 200 anos depois, ninguém julga se a moça era fácil ou difícil. Apenas ao piano (ou na musiquinha de espera do telefone). Pegação 100% segura, sem compromisso, só se for sem letra.
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Fonte: Uol