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Aqui, no meio do Deserto do Saara, passa um filme na minha cabeça, sobre quando iniciei a minha jornada pelo mundo. O ano era 2009, uma universitária curiosa pelos lugares, além do Brasil. Em 2011, estava, eu, sem menos esperar, organizando uma viajem com minha prima para a África do Sul. Na época em que o mundo da internet e smartphone estava em ascensão. Era a revolução, mas sem muitas informações de destinos e roteiros.
Uma época em que viajar era considerado algo de luxo, onde parecia ser bem distante de pessoas que vieram de um contexto social, financeiro, de raça, de gênero excludente. Além da minha história, viajar pelo mundo e de uma forma intensa desde 2017 a internet me possibilitou ser notada, porém não vista! Fui notada por mulheres negras e pessoas que vivem no meu ciclo de amizades e familiares como viajante. Ali estava se consolidando ser uma referência: a viajante negra! Assim que eu era apresentada nos espaços.
Viajar enquanto mulher negra sozinha era, sim, uma exceção, mas nunca uma raridade. No Lago Issyk-Kul, no Quirquistão, encontrei uma mulher negra viajando, me fazendo brotar um sorriso! No universo das redes sociais, também via outras mulheres como eu inspirando viajando, porém mais uma vez, uma raridade.
Em 2018, quando muitas mulheres começaram a ter visibilidade e compartilhar suas plataformas, negócios, era notório um universo desigual quando o assunto era viagem e mulheres negras. Desigual no sentido de abertura, visibilidade, números de viagens realizadas, locais, questões financeiras, nível de escolaridade e lógico cor da pele.
Mulheres viajantes
Após muitos encontros presenciais e virtuais, muitas mulheres negras não tinham voz em um diálogo, sendo atropeladas pela entrevistadora, colocando mais sobre o seu do que o meu. Recordo de um caso, onde aconteceria uma live e a foto da entrevistada, nesse caso negra, foi divulgada uma foto de uma mulher não brasileira. Ao ser questionado pelo coletivo, a empresa alegou que era pelo fato da viajante não ter foto no perfil da rede social com a paleta de cores da plataforma. Vale ressaltar que nunca perguntaram para a mesma se ela tinha.
Um outro caso, foi quando uma entrevistadora perguntava a todo momento de viagens ao exterior, principalmente, Europa. Quando a entrevistada queria muito falar sobre o Brasil, ou seja, a todo momento era enaltecido “o fora” ou como se a viajante só ganhasse esse título se fosse ao exterior.
Mulheres negras viajantes
Grupos de mulheres negras não é novidade! Temos grandes e brilhantes exemplos dos EUA e Reino Unido. Movimentos inspiradores, porém temos duas barreiras que nos distancia, são elas: a língua inglesa e a moeda estrangeira.
Viver nos EUA ou na Europa pode ser menos difícil para percorrer e viajar o mundo. E quanto a nós, mulheres negras viajantes das Américas do Sul global, onde ficamos? Como diz Lélia Gonzalez, nossa pensadora referência quando o assunto é amefricanidade, somos tão similares quando o assunto é Américas.
Bitonga Travel
Entendendo a nossa amefricanidade e reconhecendo nossas irmãs da América do Sul e Caribe, o coletivo tem esse enfoque que vai além de mulheres brasileiras. O coletivo Bitonga Travel, que dá visibilidade à mulheres negras que desde dezembro 2018, conta com mulheres do Peru, Colômbia, República Dominicana e foi visto como ponte por mulheres africanas de países lusófonos como Moçambique, Angola e Cabo Verde.
Aqui no Brasil, o coletivo conta com mulheres de todos os estados, tendo elas de 18 a 70 anos. O coletivo além de potencializar empreendedorismo de pessoas pretas do turismo, também dá asas para que mais mulheres conheçam suas histórias, criando redes afetivas que vão além de viagens.
O objetivo do coletivo é fazer com que mais mulheres negras viagem sozinhas e de forma autônoma. Sabemos que a violência contra mulheres, sexismo e feminicídio no Brasil são elevados e, infelizmente, as políticas públicas não nos protegem. Para nos sentirmos mais seguras de uma sociedade racista realizamos viagens coletivas com mulheres negras, propiciando o empoderamento por meio do pertencimento ao redor do Brasil e mundo.
Encontros e conexões
Ao longo da minha jornada de viajante tenho percebido o quanto tenho potencializado mulheres negras e o afroempreendedorismo. Uma das atividades que mais me orgulho é pensar que, de maneira incontável, mulheres negras foram impactadas com o movimento de mulheres negras viajantes e com Rebecca Aletheia.
Esse movimento vem ganhando forma com encontros no mundo virtual em âmbito nacional e internacional. Quando estou presente muitas pessoas aparecem, pois se inspiram na forma que viajo: imersiva e espontânea. Uma vida real de viajante, que durante a semana economiza os centavos, vai trabalhar de bicicleta, leva lanche para o trabalho, ou vice-e-versa, e sempre que preciso for está luxando.
Considero as minhas viagens únicas e, por isso, entendo que muitas mulheres negras têm feito movimento de viajarem comigo, já que mostro na prática sobre a possibilidade de poder.
Será realmente que não tem espaço para mulheres brancas e homens? Não é sobre espaço, a ideia é que também possamos formar possibilidades de poder construir uma sociedade que saiba nos respeitar enquanto mulheres e pretas. No processo de um mundo melhor, eu, Rebecca Aletheia, estou disposta a mostrar que precisamos mudar. Nesse momento, o que temos feito é nos acolher e quando sairmos para viajar, o mundo precisa estar preparado para que possamos viver em harmonia. Posso contar contigo?
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Fonte: Uol