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Quando a banda Dead Fish subir ao palco do Tendal da Lapa na quinta-feira, 25 de janeiro, para o primeiro de dois shows gratuitos (o segundo é sexta, 26 de janeiro), estará celebrando não só o lançamento de seu décimo LP de estúdio, “Labirinto da Memória”, mas 32 anos de uma carreira marcada pela independência e obsessão à filosofia punk do “faça você mesmo”.
“O Dead Fish sempre foi isso”, diz o vocalista e letrista Rodrigo Lima, 50 anos, único remanescente dos primórdios da banda, que conta ainda com Ric Mastria (guitarra), Marcos Melloni (bateria) e Igor Tsurumaki (baixo). “Viver de música no Brasil sempre foi quase impossível, mas eu estou nessa há 32 anos, me sinto um privilegiado.”
Surgido em Vitória, Espírito Santo, o Dead Fish é um dos principais nomes do punk brasileiro, em especial do chamado hardcore melódico, uma vertente caracterizada por músicas rápidas e pesadas, mas com guitarras e vocais com um verniz mais pop e melodioso.
Alguns dos pioneiros do gênero são bandas californianas como Bad Religion e Descendents, surgidas na virada dos anos 1970 para os 1980. No Brasil, o estilo chegou forte na década de 1990, com CPM 22, Hateen e o Dead Fish.
“Labirinto da Memória” segue a tradição de canções velozes e furiosas do grupo, mas com textos elaborados e narrativos que tratam de temas como a solidão, a política e as injustiças sociais, sempre com um viés progressista e de protesto.
Na autobiográfica “Estaremos Lá”, Rodrigo Lima canta versos que podem ser entendidos por qualquer brasileiro que foi adolescente nos anos 1980: “Para validar a mentira / contada pelo interventor / o discurso de ordem apela / sempre a um novo matador / quando a mídia chamou Golbery de astuto / quase esquecemos quem criou o SNI / toda a verdade escancarada no Riocentro / a retirada estratégica do general / eu cantava o hino / todas as letras em alto e bom som / a Montessori era nossa guia”.
Além das músicas de protesto, já esperadas em qualquer trabalho do Dead Fish, surpreende o viés nostálgico do novo trabalho. O disco não chama “Labirinto da Memória” à toa. Várias letras saíram de lembranças de Rodrigo Lima, algumas não tão felizes assim.
O disco foi parcialmente inspirado pelo pai, um comunista que chegou a Vitória depois de fugir do Rio de Janeiro, onde alguns colegas foram presos e mortos pela repressão: “Meu pai era bancário, da turma do Vladimir Palmeira [líder estudantil e político, preso e exilado pela ditadura], morreu muito cedo. Ele era alcoólatra e, por muito tempo, eu o odiei. Ele nunca foi fisicamente violento comigo, mas eu sentia uma pressão psicológica muito forte, e a gente nunca conseguiu se conectar”.
A letra de “49” (idade do pai ao morrer) alude à figura paterna: “Sou o primogênito / continuidade, a redenção (…) com palavras duras, me deformou / mas me ensinou a revidar / revidei com silêncio / secura e indiferença / sem saber que era essa / a minha herança.”
Outra inspiração do novo disco foi a leitura de “Realismo Capitalista”, livro do britânico Mark Fisher (1968-2017) que investiga os efeitos do capitalismo na sociedade e questiona a ideia, que Fisher dizia ser predominante, de que o capitalismo seria a única alternativa econômica viável para o mundo. “Esse livro me impressionou, porque trata de questões atuais do dia a dia”, diz Lima.
“Fala de solidão, de depressão, de como muitas dessas questões são reflexo do capitalismo tardio e do neoliberalismo. Quando a minha companheira e os colegas dela, que trabalham com publicidade, se veem às voltas com burnout [ou Síndrome do Esgotamento Profissional], isso é também um instrumento de perpetuação desse massacre contra a classe trabalhadora”.
Quem já viu um show do Dead Fish percebe como o público se identifica e se emociona com os temas das músicas, cantando junto as extensas e intrincadas letras da banda. Numa época em que o texto parece ter cada vez menos importância na música, substituído por refrãos fáceis e pegajosos, o Dead Fish continua valorizando a mensagem. “Tenho um amigo que brinca dizendo que nós parecemos uma banda de rap”, diz Lima.
Nesses 32 anos, o Dead Fish chegou a flertar com o sucesso comercial por volta do início da década de 2000, quando suas músicas tocavam em rádios e a banda lançou um disco ao vivo em parceria com a MTV. “Acho que chegamos ao mainstream, mas não nos adaptamos”, diz Lima.
“Temos uma amiga, a Luka [Salomão, radialista] que inventou uma palavra perfeita para nos definir. Ela dizia que o Dead Fish era a banda mais ‘meiostream’ que ela conhecia”. Hoje, o Dead Fish se estabeleceu na cena alternativa e não tem planos de sair de lá. “Queremos ver bandas como Surra, Black Pantera, Mee e Bayside Kings também chegando ao ‘meiostream’, seria maravilhoso”, diz Lima.
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Fonte: Uol