[ad_1]
As pessoas estão sempre interessadas em saber sobre as vítimas de tragédias, mas e aqueles que as causam, como ficam? O que acontece com o irmão que, numa brincadeira, empurra o outro e o deixa tetraplégico? E com a médica que, depois de ser submetida a um plantão cansativo, dorme no volante e atropela pedestres?
É fazendo perguntas como essas ao espectador que “Expats”, nova série do Amazon Prime Video, abre seu primeiro episódio. Produzida e estrelada por Nicole Kidman, em seu sexto trabalho televisivo em seis anos, a trama subverte o fascínio de Hollywood por histórias de superação para centrar seus esforços nos personagens que motivam os infortúnios.
Não que “Expats” não mostre, também, as consequências trágicas. Kidman representa esta parcela do mistério que move a trama, repetindo a personagem loira, rica e cheia de cicatrizes que já a vimos interpretar em “Big Little Lies” e “Nove Desconhecidos”.
Do outro lado está a americana de ascendência sul-coreana Yoo Ji-young, que vive uma jovem responsável por causar um dano irreparável à família da mulher.
“Enquanto sociedade, nós temos a tendência de ver tudo por uma perspectiva binária. Elevamos pessoas ao status de heroínas, as veneramos e depois as destruímos. Eu sou fascinada pelo porquê de fazermos isso”, diz Lulu Wang, criadora e diretora de “Expats”.
“Eu queria explorar o fato de que a nossa realidade é não-binária, que ninguém é simplesmente uma vítima ou um perpetrador. Todos têm um pouco de ambos, tudo depende da lente pela qual você vê as coisas.”
Não há muito a dizer sobre “Expats” em termos de sinopse. Mantida sob sigilo, a trama é uma adaptação do livro “The Expatriates”, de Janice Y. K. Lee, sem tradução para o português, e resumida como uma coleção de narrativas sobre uma comunidade de expatriados que moram em Hong Kong. Para eles, riqueza, contatos e aparências são prioritários.
Há, ainda, uma terceira atriz para fechar o trio protagonista. Sarayu Blue, esta de ascendência indiana, mostrando a pluralidade de rostos da produção, é a vizinha e ex-melhor amiga de Margaret, personagem de Nicole Kidman. Seu drama pessoal está no relacionamento frágil com o marido e na pressão que sente para ser mãe.
Lulu Wang também se considera uma expatriada. Nascida em Pequim, na China, ela se mudou para Miami, nos Estados Unidos, aos seis anos de idade. Por isso, diz se identificar com as suas personagens, rostos estranhos em um lugar não necessariamente acolhedor.
Muitos dos temas da série, como herança cultural e a construção de um senso de comunidade, já haviam sido discutidos pela diretora em “A Despedida”, que colecionou elogios e prêmios, inclusive o de melhor filme no Spirit Awards, dedicado ao cinema independente. Nele, acompanhou uma família chinesa que planeja uma grande mentira quando percebe que a avó está perto da morte.
Filmar em Hong Kong, ela conta, foi um desafio extra. A produção se cercou de advogados e consultores, para garantir que tudo fluísse bem e que a trama não se embaralhasse com a complexa dinâmica política do território chinês, que vive em ebulição com seus protestos pró-democracia, violentamente reprimidos.
Mesmo assim, não conseguiu se blindar. Várias foram as críticas –até Kidman foi alvo ao não precisar passar pela quarentena obrigatória contra a Covid-19, quando pousou no local para as filmagens.
Acusações de tratamento privilegiado em favor de uma abordagem positiva de Hong Kong inundaram a internet, e o cartunista e ativista Badiucao chegou a rotular “Expats” de propaganda de soft power para o regime chinês.
“Nós precisamos deixar que essa narrativa [contrária à série] existisse para passarmos abaixo do radar e continuarmos o projeto”, diz Wang sobre o porquê de os envolvidos terem preferido o silêncio na época das críticas.
“As pessoas assumem muitas coisas sem terem conhecimento, particularmente na internet, e eu entendo, porque isso vem de um lugar de frustração e raiva. Quando você está numa batalha e sente que o mundo inteiro sabe dela, mas prefere o silêncio, você se sente incrivelmente solitário. Mas eu espero que ‘Expats’ possa trazer visibilidade para Hong Kong.”
[ad_2]
Fonte: Uol