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Nesse 26 de janeiro, a filósofa e ativista estadunidense Angela Davis completa 80 anos de idade. Muitas de suas reflexões são conhecidas e se espalham pelas redes sociais nessa data de homenagem.
Neste espaço, quero aqui somar-me às felicitações por uma série de razões.
Uma em particular me vem à mente nos momentos atuais, pois Davis é celebrada entre jovens e adultos por sua produção intelectual e engajamento político. E, como uma mulher negra, situada em lugar social atravessado pela objetificação, isso definitivamente não é pouco.
Na recente obra lançada pela editora Boitempo chamada “Democracia Para Quem?”, a qual registra uma de suas últimas palestras no Brasil, a filósofa estadunidense lança uma reflexão interessante.
A pensadora respondia à jornalista Adriana Ferreira da Silva sobre sua relação com Toni Morrison, a notável escritora e única mulher negra a receber um prêmio Nobel de Literatura. Morrison também foi editora de Angela Davis nos Estados Unidos e a convidou para escrever sua autobiografia aos 28 anos.
A filósofa contava sobre o processo de aceitar, mesmo tão jovem, o desafio de escrevê-la. Ao que afirmou: “Eu sabia qual tipo de autobiografia as principais editoras procuram. Elas queriam saber tudo sobre sua vida sexual. Vocês sabem do que estou falando. Eu não queria fazer isso. Então, respondi que a única maneira de eu pensar em escrever uma autobiografia seria produzir um relato político, algo que me permitisse refletir não apenas sobre minha experiência individual, mas sobre as experiências dos movimentos e de todas as comunidades de luta”.
O título dessa palestra foi “A Liberdade É uma Luta Constante”. Davis, hoje uma autora com vários títulos publicados no Brasil, tem sido uma presença constante em debates e eventos pelo país. “Mulheres, Raça e Classe”, de 1981, foi publicado no Brasil em 2016, sendo um dos livros mais vendidos daquele ano.
Lembro o dia em que escrevi um e-mail a ela falando do interesse da editora em traduzir essa obra tão importante que foi fundamental para o pensamento feminista negro internacional. Ao discutir as questões de raça, classe e gênero de modo indissociável, a pensadora aprofunda a discussão e apresenta ferramentas de análise para pensar e enfrentar as estruturas de opressão.
Muitas de suas frases já se tornaram célebres, como aquela que orienta o “Pequeno Manual Antirracista”: “Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Quando disse, ainda, que “quando uma mulher negra se movimenta, toda a sociedade se movimenta com ela”, a filósofa fez uma provocação incontornável sobre o poder político das mulheres negras. E há inúmeras outras mais.
De veganismo a refletir sobre as cantoras de jazz, Davis se mostra diversa e amplifica seu trabalho intelectual com versatilidade, encontrando na prática de resistência política uma combinação poderosa para ser rememorada na posteridade.
Aos 80, Angela Davis segue uma ativista comprometida com diversas pautas, a exemplo da militância em favor da causa do povo palestino, intensificada nos últimos meses diante da absurda situação em Gaza. Destaca-se também sua intensa produção e ativismo em denúncia do encarceramento em massa e da maneira como essa forma de punição contribui para o aprofundamento de mais violências e desigualdades.
Uma outra razão que me emociona a escrever sobre os 80 anos de Davis é a alegria de ver uma “mais velha” chegar a esta idade, pois muitas de nossas referências se foram muito cedo. Lélia Gonzalez, referência da própria filósofa, se foi aos 59 anos. Luiza Bairros, aos 63. A escritora bell hooks nos deixou aos 69, e Audre Lorde fez a passagem ainda mais jovem, aos 58 anos de idade.
Sabemos o quanto as opressões e as pressões do ativismo podem adoecer as mulheres negras de várias formas, então celebrar a longevidade de uma intelectual como Angela Davis nutre de esperanças as gerações que nela se inspiram.
Em meio a tanta história, teoria, prática e significados, essa imensa mulher chega aos 80 anos inspirando gerações. Ficam nessas breves palavras um abraço fraterno pelo seu festejado aniversário. Viva Angela Davis!
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Fonte: Uol