[ad_1]
O trio norte-americano Green Day acaba de lançar seu 14ª álbum, “Saviors”. Numa carreira discográfica de 34 anos, desde o LP de estreia, com “39/Smooth”, a banda, formada por Billie Joe Armstrong nos vocais e na guitarra, Mike Dirnt no baixo e Tré Cool na bateria, vendeu cerca de 75 milhões de discos em todo o mundo, fazendo do Green Day o grupo punk mais popular da história da música.
Metade dessa vendagem vem de apenas dois discos —”Dookie”, de 1994, com mais de 20 milhões de cópias, e “American Idiot”, de 2004, com cerca de 15 milhões.
“Saviors” não fará cócegas nesses números, até porque a indústria mudou. Hoje, o faturamento anual com venda de música em todo o mudo chega apenas a 50% do total arrecadado em 1999, ano mais rentável da indústria do disco. Mas o lançamento parece ser um alívio para fãs do Green Day, depois do fracasso de crítica e público do LP anterior, “Father of All Motherfuckers”, de 2020.
“Saviors” tem 15 faixas e foi produzido pelo norte-americano Rob Cavallo, que trabalhou com a banda em “Dookie” e “American Idiot”. Cavallo é um especialista em álbuns de som pesado, mas com um verniz pop, e tem no currículo sucessos com grupos como Linkin Park, Goo Goo Dolls e Paramore.
Ele não trabalhava com a banda há mais de uma década, e seu retorno coincide com uma volta da sonoridade que tornou o Green Day uma famosíssima banda de estádio. A maior qualidade do novo disco é não inventar. O Green Day criou uma fórmula que faz sucesso há 30 anos, e “Saviors” mantém as principais características sônicas da banda, sem se arriscar em grandes arroubos experimentais.
Com “Dookie”, o Green Day chegou a um punk-pop que mantinha um pé no underground, com guitarras distorcidas e canções velozes, mas trazia uma forte pegada comercial, com uma sonoridade que caía bem nas FMs e refrãos para cantar junto em estádios.
Quando se fala nas influências do Green Day, um nome sempre citado é o dos Ramones, e esse quarteto nova-iorquino, com sua música simples, crua e divertida, certamente marcou as infâncias de Armstrong, Dirnt e Cool. Mas a sonoridade do Green Day remete mais a outras duas bandas —a inglesa Buzzcocks e a norte-americana The Replacements.
Buzzcocks, fundada em 1976, foi a primeira banda entre as pioneiras do punk a incorporar elementos da pop music mais acessível. Suas músicas eram rápidas, e as guitarras, distorcidas, mas, no lugar dos hinos proletários e panfletários cantados pelo Clash ou dos ataques do Sex Pistols à monarquia, tratavam de temas quase que proibidos pela ortodoxia punk, como o amor adolescente.
Já os Replacements começaram como uma tradicional banda punk, mas logo abriram seus horizontes musicais para incluir o power-pop do Big Star e o country-rock do Creedence Clearwater Revival. Billie Joe Armstrong gosta tanto dos Replacements, que chegou a tocar guitarra em alguns shows da banda.
O Green Day juntou esses elementos e criou um som que trazia a urgência e rebeldia juvenil do punk, mas com letras de temas mais sensíveis e pessoais e uma sonoridade que podia ser apreciada tanto pelo punk de carteirinha quanto pela patricinha de shopping. Uma fórmula imbatível.
É evidente que o Green Day não deixou de lado a música política e de protesto, lançando duas óperas-rock, “American Idiot” e “21st Century Breakdown”, de 2009, sobre as angústias de jovens lidando com o trauma do mundo pós-11 de setembro de 2001.
“Saviors” abre com uma canção que poderia muito bem ter saído de algum desses discos, “The American Dream is Killing Me”. “O sonho americano está me matando/ não quero ver multidões/ TikTok e impostos/ dormindo sobre vidros quebrados/ debaixo de viadutos”, diz a música.
As letras de “Saviors” variam de radiografias nada otimistas sobre a realidade americana, com títulos como “Dias Estranhos Chegaram para Ficar” ou “Vivendo nos Anos 1920”, a canções mais íntimas e pessoais, como a bonita “Father to a Son”, em que Armstrong para estar falando diretamente a seus dois filhos. “Bom, eu cometi alguns erros/ mas nunca vou partir seu coração/ uma promessa, de pai para filho/ eu nunca soube que um amor/ poderia ser mais assustador que a raiva”, diz a letra.
Outra música marcante do disco é “Bobby Sox”, em que Armstrong, que nunca escondeu sua bissexualidade, diz: “quer seu meu namorado?/ podemos andar pelo cemitério/ e eu te beijo de novo/ e faremos nossos amigos corar”.
“Saviors” marca a volta do Green Day à fórmula que o consagrou e tem tudo para agradar ao enorme público da banda. É um disco divertido e cheio de canções que grudam na memória.
[ad_2]
Fonte: Uol