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“Terra e Paixão” termina como uma das mais exageradas telenovelas da Globo —e isso não é um defeito.
O folhetim, cujo último capítulo foi exibido na noite desta sexta-feira, 19, trouxe alta dose de vilania, com malfeitores ordenando atentados, sequestros e assassinatos. Também apostou nas relações homoafetivas, com vários casais se formando, inclusive interraciais, justo em uma emissora que tinha dificuldade para aprovar selinhos. Ela valorizou em todos os capítulos o agronegócio e, no mesmo caminho, o merchandising, com a Globo usando seus estúdios para gravar cenas para marcas de carro, cerveja, produtos de beleza, chegando ao requinte de uma inserção mudar o rumo de um capítulo.
Foi justamente caldeirão de excessos que garantiu o interesse da novela. O último capítulo, como de hábito, começou com o esperado ajuste de contas entre o bem e o mal, justamente com o assassinato de Antonio La Selva —vivido por Tony Ramos—, a personificação da família rica branca que tentava desde maio, quando estreou a novela, destruir Aline —papel de Bárbara Reis—, a moça negra trabalhadeira e honesta.
A pauta racial, no entanto, ficou em segundo plano, abafada pela luta pela posse da terra, ou seja, o fator econômico sobrepujou o social.
Como de hábito em encerramento de novelas, foi finalmente revelado o assassino —na verdade, a dupla— de Agatha, vivida por Eliane Giardini. E, seguindo o discutível lema “os fins justificam os meios” que tanto marca o cinema americano atual, os responsáveis não foram punidos, cientes de que combateram o mal com o próprio mal.
Escrita por Walcyr Carrasco, especialista em tramas marcadas por grandes sobressaltos, a novela teve a valiosa contribuição de Thelma Guedes que, hábil nos diálogos, soube costurar os altos e baixos, mantendo uma coerência na estrutura que garantisse uma certa verossimilhança.
Não foi uma tarefa fácil, pois o folhetim estreou com a missão de alavancar a péssima audiência deixada por “Travessia”. Para isso, retomou o ambiente do cerrado, que consagrou “Pantanal”, mas sem tuiuiú e profusão de machos sem camisa.
O excesso de reviravoltas na trama, porém, desagradou boa parte do público, cuja parcela foi reconquistada a partir da segunda metade da novela, quando, já com a colaboração de Guedes, Walcyr promoveu a aparição de alguns personagens em poucos capítulos, como a trambiqueira Emengarda, vivida por Claudia Raia, e o abusador Dirceu, papel de Eriberto Leão, para dar um respiro na história e afastar o perigoso clima de mesmice.
O trunfo só foi possível, na verdade, graças ao talento do elenco. Veteranos como Gloria Pires, Eliane Giardini e Tony Ramos capturavam a atenção do espectador que, manipulado pela habilidade cênica do trio, descobriu-se simpatizando com figuras odiosas.
E, inspirado em Gilberto Braga, que mostrou em “Vale Tudo” a vitória do mau-caratismo, Walcyr reservou um destino feliz para Irene, a ex-prostituta que se casou com um milionário e sustentou seu reinado a base de assassinatos encomendados e corrupção. Agora, vivendo no Rio de Janeiro, ela conseguiu um novo milionário e ainda adotou um filho. Vitória da impunidade.
A novela revelou também nomes como Débora Ozório, Diego Martins e Amaury Lorenzo que flertaram com o exagerado, sem perder a humanidade, especialmente ao tratar de assuntos como doenças comportamentais, amor sem distinção de gênero e matadores contumazes.
Destaque ainda para Tatá Werneck que, como Anely, teve liberdade para exercitar seu humor sem noção, provocando risos inclusive dos colegas de cena com trocadilhos como “há uma Petra no meio do caminho”, referindo-se à rival na disputa pelo amor de Luigi —vivido por Rainer Cadete—, ou ao afirmar, diante da sua nem sempre controlada ânsia sexual, que não é fácil garantir “o pau de cada dia”.
Foi justamente em uma cena de Anely com o sobrinho que a Globo foi além na intervenção do marketing no drama: uma discussão entre eles foi simplesmente aliviada depois que a imagem de um produto de beleza interrompeu a cena para estimular a conversa como melhor caminho. Anely chegou a citar a marca do produto como responsável pela solução.
Na contramão, o núcleo indígena deixou a impressão de que a feitiçaria de um pajé visionário dos perigos é a solução contra os males da humanidade, algo fantasioso demais diante da crua realidade vivida por diversas tribos brasileiras, em luta constante pela vida. Mesmo assim, a cena final mostra o pajé pregando tempo de harmonia e de paz. O exagero final de uma novela de excessos.
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Fonte: Uol