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“O mal toma a forma de Regina George.” Não é exatamente dessa maneira que se apresenta um personagem que pretende inspirar e ser amado por gerações e mais gerações de espectadores. Mas foi essa a escolha de palavras de “Meninas Malvadas” para introduzir a cruel patricinha vivida por Rachel McAdams, hoje amada por muita gente.
É que o filme entrou no imaginário popular como indissociável da experiência colegial dos anos 2000, e sua vilã, como a típica garota americana que todo mundo ama odiar —ou que todo mundo quer ser.
Não à toa, Ariana Grande fingiu ser a loira no clipe de uma de suas canções mais tocadas, “Thank U, Next”, e Mariah Carey, fã confessa do filme, teria usado uma de suas frases —”por que você é tão obcecada por mim?”— como inspiração para o hit “Obsessed”.
Prestes a completar 20 anos, “Meninas Malvadas” continua tão popular e “barro” –ou seria “fetch”?– quanto em 2004. Sempre que ganha reprises na televisão, o que acontece com certa frequência, vira um dos assuntos mais comentados do X, antigo Twitter, no Brasil.
Todo 3 de outubro, é comum se deparar com o trecho do filme em que a personagem de Lindsay Lohan, Cady, pergunta ao de Jonathan Bennett, Aaron Samuels, em que dia estão. E, nesta semana, o filme ganha uma refilmagem, com as canções do musical da Broadway homônimo, que mira tanto os adolescentes dos anos 2000 quanto os que estão no TikTok.
“Meninas Malvadas” é a rara comédia politicamente incorreta que envelhece bem. Com suas patricinhas plásticas e ácidas e excluídos “cool”, a história criada por Tina Fey até precisou passar por adaptações no musical que sai agora, mas fazia rir com facilidade ao escancarar a mediocridade da sociedade americana —”Se você é africana, porque é branca?”, perguntava a burrinha Karen, vivida por Amanda Seyfried, à protagonista.
Com seu humor escrachado, quase ofensivo, “Meninas Malvadas” serve de experiência antropológica para o que era uma escola, com suas panelinhas que não se misturavam e a sensação constante de estar numa selva, onde todos são presas e predadores —só que com o glamour dos shoppings centers igualmente plásticos de então.
A cada década surge um par ou trio de filmes “coming of age”, sobre amadurecimento, definidores de sua geração: “Loucuras de Verão” nos anos 1970, “O Clube dos Cinco” nos 1980, “As Patricinhas de Beverly Hills” nos 1990. “Meninas Malvadas” é um daqueles que melhor capturou a juventude dos anos 2000.
Para além do retrato, inspirou toda uma geração que cresceu assistindo ao longa. “Meninas Malvadas” podia até ver graça na homossexualidade do melhor amigo Damian, Daniel Franzese, e hiperbolizar o crush lésbico de Janis, Lizzy Caplan, por Regina.
Mas mostrava que estava tudo bem ser gay, e que errados eram aqueles que perpetuavam o bullying homofóbico. Não à toa, virou um queridinho do público LGBTQIA+.
Da acidez e das tiradas tóxicas, tirou lições importantes, que em vez do didatismo preferiam ser palatáveis na forma de comédia nonsense.
No mundo de “Meninas Malvadas”, ser patricinha era legal. E ser excluído também. Os artísticos Janis e Damian eram descolados à sua maneira, tinham atitude e personalidade, e estavam longe do lugar-comum do marginalizado que se abalava com o bullying e passava o filme sofrendo.
Eles ditavam a própria narrativa dentro do colégio, empoderando muita gente que se via na mesma situação. E Regina George, por mais popular que fosse, ocupava também o lugar de vítima, deixando claro que aquele sistema escolar era construído como uma cadeia alimentar do reino animal, só que muito mais sensível e passível de mudanças.
Com sua mensagem de que a experiência colegial é universal, o filme forjou uma noção de sororidade que ficou introjetada na geração que acompanhou a ascensão de personagens femininas fortes e de movimentos de emancipação importantes dos últimos anos.
E, também, plantou a sementinha para que essas mesmas pessoas impulsionassem, hoje, a onda de “girlhood”, tornando o cor-de-rosa das quartas-feiras uma moda para todos os dias.
O “Meninas Malvadas” musical que sai agora tenta entregar a mesma mensagem para a geração Z mais tardia e a Alfa, mas é possível que o original tenha poderio suficiente para conquistá-los também, por mais anacrônico que um ensino médio sem celulares e com fofocas espalhadas pelo arcaico boca a boca pareça.
Se “Barbie” conseguiu fazer sucesso com esse público jovenzinho, a loira plástica Regina George, que mostrou bem antes que havia profundidade dentro de si, certamente tem poder para fazer o mesmo.
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Fonte: Uol