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A pesquisa já é um pouco antiga, mas nada indica que os dados tenham mudado muito. Em 2007, o psicólogo e professor inglês Richard Wiseman resolveu acompanhar 3.000 pessoas para investigar quantas delas de fato iriam cumprir seus planos, desejos, resoluções e metas de Ano-Novo.
O resultado? Um ano depois, 88% dos participantes não atingiram seus objetivos nem cumpriram as promessas feitas para o novo ano.
Como muita gente jura que vai ler mais a cada ano que começa, este blog resolveu dar uma ajuda aos que não querem pertencer aos 88% que não cumprem a missão. Abaixo, há 15 livros que são boas opções para crianças e adultos lerem sozinhos ou juntos em 2024.
Entre os destaques está “Os Pombos”, de Blandina Franco e José Carlos Lollo, nascido do encontro dos autores com o padre Júlio Lancellotti —obra que deveria se tornar obrigatória para o grupo de vereadores da extrema direita paulistana que decidiu perseguir o religioso.
A lista conta também com clássicos do livro ilustrado, como “A Casa que José Fez”, de Randolph Caldecott, e lançamentos de nomes como Penélope Martins, Fernanda Takai, Anabella López e Marcelo Duarte, colunista da Folhinha.
Conheça os títulos abaixo.
Os Pombos
Este é um dos melhores livros da última temporada. Feita pela dupla Blandina Franco e José Carlos Lollo em parceria com o padre Júlio Lancellotti, a obra joga luz sobre os pombos do título —um grupo que chegou há tempos na cidade, mas que não é visto por ninguém. Não por serem invisíveis, mas porque ninguém deseja enxergá-los. O diálogo entre texto e ilustrações logo nos faz entender que os pombos não são exatamente aquelas aves cinzentas. São gente. Pessoas invisíveis. Seres humanos expulsos do convívio. Gente que o padre Júlio Lancellotti enxerga em São Paulo. Pessoas que deveriam receber a mesma atenção do poder público e dos vereadores paulistanos. Aliás, já que um grupo radical desses vereadores tem tempo de sobra para inventar CPIs sem bases jurídicas, sugiro que eles leiam outro livro dos mesmos autores: “Aporofobia”.
A Menina da Bielorrúsia
Nesta outra parceria de Blandina Franco e José Carlos Lollo, a protagonista é uma menina. Assim mesmo, sem nome. Só sabemos que ela mora com a avó numa cidade ribeirinha, sem mãe nem irmãos, mas com uma fuinha e um ornitorrinco empalhado. Com texto preciso, que dialoga o tempo inteiro com o leitor e abusa de ganchos e flashbacks que nos prendem à narrativa, o livro apresenta a jornada fantástica que a garota empreende no dia em que um homem misterioso aparece em sua casa e a leva para uma viagem, acompanhada por um urso de quatro metros e de sua fuinha inseparável, é claro.
A Casa que José Fez
Randolph Caldecott é um desses autores clássicos e incontornáveis para quem gosta de livro ilustrado e livro para a infância —tanto que um dos principais prêmios literários norte-americanos para obras publicadas para essa faixa etária é justamente a medalha Caldecott, entregue desde 1938. Agora, um de seus principais títulos chega ao Brasil pelas mãos da editora Amelì. Lançado em 1878, “A Casa que José Fez” (originalmente, “The House that Jack Built”) foi um dos pioneiros a integrar a narrativa visual ao texto, abandonando a ideia mofada de que ilustrações são apenas um enfeite.
Quando a Noite Chega
A japonesa Akiko Miyakoshi faz algo espantoso neste título. Com lápis e carvão, ela consegue desenhar a luz. E, com isso, faz o livro brilhar. Nesta narrativa visual com pouco texto, uma coelhinha cruza a cidade no colo dos pais e acompanha cheia de sono os movimentos que surgem com a chegada da noite, povoada de janelas repletas de vida e personagens noturnos que são animais, mas que trazem características físicas bastante humanas. Com desenrolar que lembra o do cinema e apuro visual impecável, a história foi considerada um dos melhores livros ilustrados de 2017 pelo The New York Times.
Coisa, Coisas
Você já reparou que dentro da palavra “escorpião” roda um pião? E que a palavra “formidável” parece implorar por uma formiga? É esse tipo de brincadeira com a linguagem que Peter O Sagae explora em “Coisa Coisas”, um abecedário que embaralha Carmen Miranda com blueberry (ou mirtilo), maremoto com sereias dançarinas e televisão com o planeta Marte. Na verdade, a brincadeira costura diferentes linguagens, já que o texto não existe sozinho e só fica completo ao lado da ilustração, feita sempre com colagens que multiplicam as possíveis leituras.
A Rainha Louca Louca Louca
Anabella López, escritora e ilustradora argentina radicada no Brasil, cria neste livro um conto de fadas num reino muito distante, mais exatamente na cidade de Wirani —mas que poderia muito bem ser a América Latina, o Brasil ou nossos quintais. Na história, com ilustrações que merecem ser enquadradas, um feiticeiro envenena a água do reino e faz com que todos os súditos passem a chamar a rainha de louca. Inspirada num conto do libanês Khalil Gibran, a narrativa ecoa estes nossos tempos de fake news e de mulheres acusadas de insanidade por estarem no poder.
Detetive Vaga-Lume
Embora seja um romance mais juvenil do que infantil, ele foi feito sob medida para ser lido por pais e filhos lado a lado. A dica já está no título. Marcelo Duarte, colunista da Folha, apresenta uma homenagem literária à famosa coleção Vaga-Lume, série que marcou a história do mercado editorial brasileiro e que completou 50 anos no ano passado. Ao longo da trama detetivesca, Duarte espalha 50 referências a clássicos da série —entre eles, “O Mistério do Cinco Estrelas”, de Marcos Rey; “Éramos Seis”, de Maria José Dupré; “A Turma da Rua Quinze”, de Marçal Aquino; e “O Escaravelho do Diabo”, de Lúcia Machado de Almeida, entre muitos outros.
Duas Ilhas
Tudo parece tranquilo e calmo para João, o menino desta história, que vive numa ilha isolada com seus pais —uma bióloga e um piloto de avião. Aliás, não só com eles. João vive com o seu melhor amigo também: o vulcão da ilha. O fascínio e a relação entre a montanha adormecida e o garoto são colocados à prova quando a vida de João se desestabiliza. Primeiro, o pai desaparece enquanto voa. Depois, o vulcão inesperadamente entra em atividade. Guilherme Semionato desenvolve neste livro uma história sensível sobre amizade, amor, pertencimento e simbiose entre humanos e natureza.
Pés Descalços
Dona Esmeralda só anda descalça. Pisa no chão de terra, onde colhe ervas e sente vibrar as forças do mundo. Aqui, Penélope Martins usa a literatura não só para homenagear o feminino e defender a tolerância religiosa. Ela cria uma narrativa de onde transborda o mistério e o afeto, que escorrem do contato de Dona Esmeralda com sua neta, a menina narradora, cujos pais morreram. As ilustrações de Bárbara Quintino ajudam a manter nas imagens a vibração das religiões de matriz africana e de um Brasil real, feito de moringas, imagens de santas, plantas poderosas e pessoas letradas em gente.
Era uma Vez um Quintal
Neste livro, Andreia Prestes, que é neta de Luís Carlos Prestes, também usa o quintal da casa da família para recontar as vidas de sua avó e de seu avô —João Massena Melo, perseguido pelo Estado Novo de Getúlio Vargas e morto pela ditadura militar. As colagens de Paula Delecave se misturam ao texto de Prestes, em que a mangueira do quintal lança seus galhos sobre as histórias da avó, borboletas se escondem à medida que o medo se aproxima e sonhos precisam ser regados como plantas.
Dias de Reis
É curioso notar como certos elementos se repetem em diferentes narrativas, criando outras histórias. Mais uma vez, temos o quintal da avó como fio condutor. Como diz o título, o livro faz um mergulho nas tradições da Folia de Reis, festa popular que ocorre em 6 de janeiro e na qual cortejos de músicos e cantadores visitam as casas e celebram a visita dos reis magos ao menino Jesus. Nesta obra, Rodrigo vê um desses cortejos enquanto passa as férias na casa da avó, onde acaba conhecendo uma menina que integra a Folia.
Quando Curupira Encontra Kappa
Você já ouviu falar do kamishibai? É um estilo tradicional japonês de contar histórias para crianças, no qual a arte do livro é mesclada ao teatro. Nele, a narração tem o apoio de uma sequência de papéis, como se fossem cartazes. Foi nessa técnica que Fernanda Takai e Daniel Kondo se inspiraram para criar “Quando Curupira Encontra Kappa”, uma mistura de Brasil e Japão, em que curupira e curumins convivem com o kappa, um ser mitológico que vive nas águas japonesas, com o ogro vermelho, a mais gentil das criaturas do Oriente, e com outros seres. Além disso, toda a história é contada nas duas línguas —em português e também em japonês.
Hermanas Bolivianas
Maya, a protagonista ajuda a narrar uma das mais importantes histórias do Brasil atual —a da imigração boliviana. Estima-se que 57 mil pessoas dessa nacionalidade chegaram a São Paulo de 2009 a 2019. No ano passado, foram os estrangeiros que mais tiveram filhos no país. Tudo isso está condensado na jornada que Maya e sua mãe fazem da Bolívia até o Brás, bairro da capital paulista onde a mulher vai trabalhar na confecção de roupas. As coisas só começam a mudar quando a garota visita a feira Katunta, na região central, onde bolivianos, peruanos e outras pessoas de origem andina se encontram.
Bel, a Experimentadora
O colunista da Folha Bruno Gualano faz aqui uma homenagem ao verdadeiro motor da ciência: a curiosidade. Nesta história, ilustrada por Catarina Bessel, a menina Bel inventa em casa erupções de vulcões, mexe com energia estática e impressiona a turma da rua, que não desgruda do celular e acha que ela é uma bruxa. Ao longo do livro, além de pincelar algumas ideias sobre método e pensamento científico, Gualano reverencia nomes como Marie Curie, Charles Darwin e Galileu Galilei.
A Paixão de A e Z
Com texto de Alonso Alvarez e ilustrações de Marcelo Cipis, “A Paixão de A e Z” ganha uma nova edição, após ser lançado em 2010 pela Peirópolis. Agora no catálogo da editora Ficções, do próprio Alvarez, o livro recebe capa inédita, mas segue como a mesma ode ao fascinante mundo do alfabeto. Na trama ilustrada, as apaixonadas letras A e Z vivem separadas e só se encontram em algumas poucas palavras, como “azul”, “azar” e as estranhas “azafamado” e “zaragata”. A ideia da obra surgiu após um haicai de Alice Ruiz: “de A a Z/ até no alfabeto/ tem eu e você”.
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Fonte: Uol