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Não está fácil, gente.
Tento parir esta coluna minutos depois de assinar a autorização de eutanásia da Lola, a gatinha preta que me fez companhia nos últimos 12 anos.
Queria ter cabeça para malhar tendências gastronômicas, repercutir a CPI do padre Júlio ou batucar qualquer coisa tola sobre comida. Tola? Lá vou eu encharcar o teclado com lágrimas outra vez…
Peço perdão por ser essa sujeito que sucumbe à tentação da piada ruim até no luto. E desculpas se entrego um texto meio desconexo. Não estou pensando direito.
Lola, você já deve ter percebido, é tudo o que ocupa minha mente.
Pegamos (eu e a Mari, minha ex) essa gatinha no gatil do mesmo veterinário em que a deixei hoje. Ele resgata e cuida de animais que são abandonados no Parque da Água Branca.
Lola era a última filhote de sua ninhada. Todos os irmãos já haviam sido adotados, menos ela. Estava sozinha numa gaiola há bastante tempo, já se tornara uma gatinha adolescente.
Uma linda gatinha cinza de olhos amarelos, ou assim pensávamos.
Logo saberíamos que uma pelugem cinzenta estava aparente porque uma infecção fúngica deixara Lola meio careca. Enquanto lidávamos com a micose que nos contaminou, ela recuperou a cobertura preta e lustrosa.
Já tive alguns gatos, mas não me apeguei tanto a nenhum outro. Lolinha (ou Lolita, Lolica, Lolô etc. etc.) me ajudou a enfrentar uma fera de três cabeças: separação, pandemia e depressão, que chegaram juntas e vorazes.
Foram meses que viraram anos e, no fim, aqui em casa, éramos só nós dois a maior parte do tempo: Lola e eu. Eu me acostumei com isso, acho que ela também. Vou desacostumar.
Hoje, mais cedo, perturbado com o pensamento fixo que me turvou a criatividade, joguei a questão no grupo de zap dos melhores amigos –todo mundo tem um grupo desses, não?
Todos concordaram que eu deveria escrever sobre a Lola. Sobre a Lola e comida. É uma coluna de comida, argumentaram justamente.
“Ela não é fanática por nenhuma comida em especial?”, perguntou um dos amigos. Tentei juntar lé com cré e gato com salada de atum, mas estava difícil.
Saquei que Lola não estava legal quando ela começou a recusar comida. Primeiro a ração seca, depois o sachê, foi definhando e ficando fraca. Problema nos rins, típico de gatos domésticos.
Mesmo antes de adoecer, Lola era uma gata estranhamente desinteressada pela comida dos humanos. Você podia fatiar um bife na pedra da cozinha, e ela nem tchuns.
Então me lembrei de algo que tirava a Lola do sério: alface.
Ela também gostava de rúcula e de couve, mas alface era a sua favorita. Perto da hora do almoço, Lola ficava rondando a cozinha para ganhar suas folhinhas verdes.
Era um comportamento, para dizer o mínimo, inusitado. Sempre que recebia alguém em casa, eu mostrava à visita o espetáculo da gata que miava feito louca ao ter uma folha de alface sacudida na fuça.
Todo pai de pet acha o seu bicho especial. Mas a Lola de fato foi uma gata peculiar, louca por alface. Te amo, Lolouca.
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Fonte: Folha de São Paulo