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Que tal irmos ao “X” da questão e deixar as polêmicas mais para frente? Este é um especial de comédia lançado no Natal, dia em que as famílias estão reunidas, com pessoas de todas as idades. Dá
para sugerir de todos assistirem a “Armageddon”?
Depende da família. Se seu clã é do tipo que, sempre que se junta, acaba em briga, melhor não. Se você faz parte da turma que opta por críticas pelas costas e elegância a todo custo em situações sociais, manda bala. E se sua gangue é feita de indivíduos livres, que riem do que acharam graça e deixam de ver —sem xingar ninguém— o que não combina com eles, sorte a sua.
Este é um especial bem engraçado e muito breve de um comediante único, que conquistou uma posição invejável: ele não precisa provar nada a ninguém, tem mais dinheiro, sucesso e influência do que pode precisar em várias encarnações e faz só o que quer.
E claro que ele quer causar. Ricky Gervais é um provocador, e seu estilo de humor é aquele que beira o constrangimento. Suas análises cômicas tocam em temas espinhosos da maneira mais absurda. Sim, tem piadas que podem machucar os mais delicados, mas vai fazer rir todo o resto.
Gervais chegou a esse lugar no showbiz no começo deste século, em 2001, quando estreou a sitcom britânica “The Office”. Desde então, escreveu, produziu e estrelou várias séries de sucesso e filmes de Hollywood, apareceu em várias outras produções —e nunca deixou de fazer turnês de stand-up, com ingressos sempre esgotados.
O humor irreverente e a abordagem irrefreável a temas controversos o transformaram no apresentador mais memorável do Globo de Ouro, o prêmio de Hollywood que foi, ele mesmo, alvo de críticas duras do comediante. Inusitada mesmo, porém, era a sua gana para criticar os maiores nomes da indústria do entretenimento bem na frente deles, ao vivo, na TV. Como não foi ele a levar um tabefe na cara —como aconteceu com Chris Rock no Oscar— é um dos mistérios da vida.
“Armageddon” é o terceiro especial que Gervais faz na Netflix, depois de “SuperNatureza”, de 2022 e “Humanity”, de 2018. Deve seguir os rastros dos dois primeiros: sucesso de público, críticas mornas e muita confusão nas redes sociais, com Gervais respondendo a cada uma das críticas —e dá quase para apostar que é o que ele mais adora nessa história.
Aliás, as controvérsias já estão a todo vapor, desde que trechos do especial foram compartilhados no Instagram para que o público começasse a ouvir o rufar dos tambores. É como se o comediante plantasse as sementes da confusão, para depois se refestelar quando o circo fosse armado.
Em uma das primeiras piadas de “Armageddon” divulgadas antes da estreia, Gervais fala sobre a Make A Wish Foundation —fundação realiza um desejo, em tradução livre—, dizendo: “tenho gravado muitas mensagens em vídeo para crianças doentes. Só se elas pedirem, obviamente. Eu não entro em hospitais gritando ‘acorde, carequinha’.”
Ele descreve a experiência com a fundação como ótima, mas isso não impede que veja o humor na situação. Então a piada continua: “eles concedem a essas crianças moribundas o seu único desejo, e, se sou eu, sempre digo sim. E começo o vídeo da mesma maneira. Eu digo ‘por que você não desejou se curar? Você é retardado, além de tudo?’”.
Pois é, não é para almas delicadas. Eu não vim ao mundo para explicar piada, mas, veja, ele fez uma boa ação e depois contou uma versão cômica da história, num especial de comédia. Mas choveram críticas de todos os lados e houve até uma petição para a Netflix remover este trecho do especial, o que não aconteceu.
Gervais falou sobre o assunto na rádio BBC. “Eu literalmente digo na piada que não faço isso. Mas as pessoas não analisam. Elas não estão ofendidas, elas só querem ser ouvidas.”
“Armageddon” ainda pode ofender muita gente, mas defender o direito de tratar todos os assuntos da mesma maneira é o mantra do inglês. Sua defesa é a mesma para todos os grupos que o atacam por causa de sua sátira: “vale tudo, desde que a piada seja boa”.
Nesse caso, quase sempre é. Estranho mundo este em que a luta contra a igualdade se volta contra quem a defende.
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Fonte: Uol