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A Warner Bros. precisou de cinco ou seis filmes com Jason Momoa para perceber o potencial de um “Aquaman” sobre a crise climática. Essa demora, por si só, é um sinal preocupante da inteligência dos atuais engravatados de Hollywood —sobretudo dentro de um estúdio que passou por tantas vendas e mudanças de comando recentes.
A boa notícia é que a resolução veio a tempo, mesmo que no apagar das luzes de um universo inteiro. “Aquaman 2” chega aos cinemas agora como o último capítulo improvisado da atual leva de heróis da DC Comics, aberta em 2013 com “O Homem de Aço”. A posição inesperada acompanha o próprio filme, que é o melhor da safra —muito pelo propósito, mas sobretudo em como este último é aplicado.
O mérito é de James Wan, que dirige a nova aventura do herói sob o desafio de tornar a proposta ambiental enfadonha em uma interessante. A ideia de colocar o rei dos mares para discutir o aquecimento global vira um problema em uma grande produção que pede por ação o tempo todo. Um tema importante muitas vezes é traduzido com sisudez pelo cinema, e nessa sensação de autoimportância se chega rápido ao tédio.
Com esse desafio, a continuação resgata a lógica de aventura do filme original em uma lógica mais conservadora de cinemão. A trama, para início de conversa, abandona o conto de fadas da disputa pelo trono de Atlantis em prol da ameaça tradicional que quer acabar com o mundo.
O que é uma péssima situação para o Aquaman de Momoa, que começa o filme casado, com um filho pequeno para cuidar e um reinado a servir. Em meio às dores de cabeça da coroa, o herói se vê na caça do vilão Arraia Negra, vivido por Yahya Abdul-Mateen 2º, que invade Atlântida para roubar um minério que vem aquecendo os mares do globo. Para encontrar o adversário, o rei é obrigado a resgatar seu irmão Orm, papel de Patrick Wilson, que teve que derrubar do trono na primeira aventura.
Essa ciranda de alianças entre os personagens lembra o rocambole da história dos últimos “Velozes e Furiosos”, e essa parece mesmo a intenção da sequência. Em especial pelo lado da família, um tema que “Aquaman 2” abraça do começo ao fim pelo ângulo da paternidade.
O começo do filme, por exemplo, mostra o herói contando ao filho sobre as suas aventuras com a ajuda de dois bonecos de plástico. Um aceno óbvio, mas tão efetivo quanto a brincadeira com o globo de neve do original, que anunciava a jornada principesca do protagonista.
Há ainda uma boa cota de momentos que podem muito bem passar por idiotas, incluindo piadas com referências pop e xixi de criança.
Mas o tema ambiental muda o tom da premissa, e o filme reorganiza o tabuleiro com elegância. O grande vilão da vez, um rei antigo e aprisionado que manipula a mente do Arraia, busca a liberdade pela queima dos minérios roubados. Mais importante, porém, é que ele prospera jogando os personagens uns contra os outros, e o conflito permite que a destruição se espalhe.
Aquaman e Orm, enquanto isso, lidam com a sua má relação enquanto atravessam os mares à procura do Arraia. A situação dos irmãos envolve a guerra pelo trono do primeiro capítulo, mas se revela aos poucos uma questão geográfica —enquanto o rei caído foi criado nos oceanos, o atual veio da terra. As diferenças, então, passam a ser em como proteger o povo de Atlântida, entre se esconder para proteger os seus ou se revelar ao resto do planeta e aceitar a ajuda de estranhos.
Ou seja, “Aquaman 2” tem por norte uma mensagem de união, repassada de tempos em tempos na trama no ditado que diz que um bom rei sabe construir pontes. Uma lógica simples, que ganha fôlego no antagonista que vence pela briga dos outros e na ameaça que põe em risco a vida marinha —a queima do tal minério, aliás, provoca uma mutação que deixa plantas e insetos imensos.
Essa proposta acompanha ainda uma evolução de Wan como diretor de grandes projetos. Artesão de mão cheia, o cineasta dessa vez tem uma mão mais firme para a ação e dosa o trabalho extenso de efeitos visuais com o feito pelos atores. O resultado é bem menos sisudo que o do “Aquaman” de 2018, que afundava no excesso de maneirismos e pose.
A sequência ainda sofre com alguns excedentes, mas dessa vez a culpa parece vir dos engravatados. Seja o prólogo corrido e pesado de informação ou a participação reduzida da atriz Amber Heard, sente-se alguns ajustes feitos de última hora na montagem.
Mesmo com os contratempos, “Aquaman 2” em muitos momentos respira leve sob um tema pesado. O que é um grande mérito, considerando o quão difícil é fazer um filme dessa proporção em meio à crise do estúdio e o lugar indesejado de capítulo final.
Dono da próxima encarnação dos heróis nos cinemas, James Gunn pode tirar algumas lições daqui.
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Fonte: Uol