[ad_1]
Paris é uma festa, mas é também um dos maiores polos de pegadinhas para turistas. O viajante despreparado sempre corre o risco de levar golpes, encontrar um batedor de carteira ou, pior, comer
mal e pagar caro, mesmo em uma das cidades com a melhor gastronomia do mundo.
A sorte é que, com um pouco mais de preparo (e dinheiro), ainda é possível fazer refeições incríveis, que fazem qualquer um se apaixonar pela sede das Olimpíadas de 2024.
Após uma série de experiências frustrantes em várias viagens à capital francesa na década passada, enquanto morava no Reino Unido, deixei de acreditar que ali era um bom lugar para comer. Tanto que abri a apresentação do livro “Comendo Londres” (Ed. Livros de Comida) com uma declaração dura: “Come-se melhor em Londres do que em Paris”.
Mas uma rápida visita às vésperas das Olimpíadas, em junho de 2024, veio com uma nova experiência. E três almoços incríveis e totalmente diferentes, em três dias seguidos, serviram para mudar a impressão do passado e recuperar a fé na gastronomia parisiense.
Nada de lugares chiques demais e cheios de estrelas e reconhecimento global. O primeiro foi em um balcão de um mercado, o segundo em um bistrô de bairro simples e mais moderninho e só o último em um restaurante mais tradicional com um pouco de refinamento.
Nenhum deles foi exatamente barato, pois não há muitas opções de comida barata de verdade na Paris Olímpica, mas todos eles permitem controlar os gastos para não estourar o orçamento da viagem.
A redescoberta do amor pela gastronomia parisiense começou com um passeio pelo Marché des Enfants Rouges, no Marais. Um dos mais antigos da cidade, ele vem sendo transformado em polo gastronômico nas últimas décadas, e não chega a ser uma novidade para quem vai à França, com várias boas opções para refeições e lanches rápidos no local. O balcão do Les Enfants du Marché, de frente para uma cozinha em que os pratos eram preparados, é um dos mais atraentes por lá.
Com opções sazonais apresentadas em quadros escritos a giz em que tudo parecia interessante, o pequeno restaurante oferece clássicos e releituras muito bem feitos, além de bons vinhos em taça.
Os escargots à la bourguignonne (€ 18, ou cerca de R$ 108) fazem parte dos clássicos. Vêm em uma porção de seis caracóis bem suculentos e macios, preparados com deliciosa manteiga temperada com alho e ervas. Com um toque mais inovador, há os encornets karaague, pelo mesmo preço, com pedaços de lula empanados à moda coreana, bem crocantes.
A revelação quase religiosa do almoço, que começou a mudar a opinião sobre Paris, foi o anguille fumée, foie gras (€ 40, ou R$ 241). O prato combinava pedaços de enguia defumada grelhada com belos medalhões de fígado gordo de pato refogado e um molho adocicado.
Uma combinação ideal de gordura, sal, açúcar, uma leve acidez e um toque de fumaça. Um prato realmente transformador. Técnica e ingredientes de qualidade —tudo o que faz a comida francesa ser o que é.
O segundo restaurante foi escolhido por sua localização, a uma curta caminhada do Musée d’Orsay. O Rosemarie é um bistrô mais recente, aberto por dois cozinheiros com passagem por casas importantes da cidade.
A experiência começou com frustração, entretanto. O lugar prometia um menu completo por € 30 (R$ 181), no almoço, mas a única opção do dia (um frango com gergelim e arroz) não pareceu atraente o suficiente. O cardápio como um todo também não encantou muito, então a escolha acabou sendo o entrecôte (€ 64, R$ 386, para duas pessoas).
O que parecia uma opção simples se mostrou mais uma surpresa maravilhosa. A grande peça de carne chegou à mesa fatiada e coberta por uma quantidade colossal de manteiga com alho e ervas. Servida em um ponto muito mal passado, tinha maciez e muito sabor.
Era uma aula de técnica de cozinha no preparo de uma carne excepcional sem precisar de churrasqueira ou de muitos malabarismos. Mais uma revelação, mais uma vez unindo técnica e ingredientes.
Para fechar a rápida passagem por Paris havia uma opção mais óbvia e tradicional, o Joséphine Chez Dumonet, perto da torre Montparnasse. É um restaurante histórico, conhecido e bem popular entre turistas. E já havia visitado no passado, em busca do excepcional confit de canard, coxa de pato preparada com excelência ali.
Mesmo assim, dessa vez houve surpresas deliciosas. O patê de foie gras servido na entrada (€ 24,ou R$ 144, meia porção) continua delicioso, mas em vez do pato, desta vez a escolha principal foi o millefeuille de pigeon (€ 48, R$ 289), um prato preparado com pombo selvagem.
A apresentação é muito bonita, com peito de pombo preparado na chapa, mal passado e servido fatiado entre três camadas de batatas assadas bem finas e crocantes, como um mil-folhas.
Por fora, um encorpado molho de carne e as coxas do pombo assadas até ficarem bem macias. A combinação de sabores intensos e boas texturas era marcante.
Mais uma epifania da experiência viria na sobremesa, entretanto. O millefeuille Jean Louis (€ 22, R$ 132) é uma versão maravilhosa da sobremesa clássica francesa e deixou a impressão de que nunca havia comido um mil folhas de verdade antes.
O doce é imenso, maior do que um palmo, e serve facilmente para quatro pessoas. O creme é leve e delicado e vem intercalado em fatias de massa folhada tão fininhas que se quebram ao toque de uma colher —é difícil saber como a sobremesa foi montada. Um encerramento incrível de três excelentes refeições.
A Paris que sedia as Olimpíadas está mais cara e caótica, mas três grandes almoços foram suficientes para redescobrir o encanto pela gastronomia parisiense. Ainda vale a pena comer lá.
Les Enfants Du Marché
Marché des Enfants Rouges, 39 Rue de Bretagne, 75003, Instagram @lesenfantsdumarche
Rosemarie
149 rue de l’Université, Paris, 75007, Instagram @rosemarie_resto
Joséphine Chez Dumonet
117 Rue du Cherche-Midi, 75006
[ad_2]
Fonte: Folha de São Paulo