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Durante a semana, um amigo me enviou duas vezes o mesmo artigo do New York Times. Como ignorei solenemente a primeira mensagem, ele mandou de novo. Então entendi: ele queria mesmo que eu lesse aquilo.
O texto, assinado por Pete Wells, intitula-se “After 12 years of reviewing restaurants, I’m leaving the table” (“Depois de 12 anos resenhando restaurantes, retiro-me da mesa”).
É um título que resume bem o conteúdo do texto, com uma importante exceção: o motivo que levou Wells a abdicar de uma carreira consolidada num dos veículos de maior prestígio no mundo.
A crítica gastronômica estava arruinando a saúde do crítico gastronômico.
“Os resultados foram ruins de ponta a ponta”, escreve Wells sobre o check-up médico a que foi submetido este ano.
“Meu colesterol, glicemia e hipertensão estavam piores do que eu esperava nos momentos mais pessimistas. Os termos pré-diabetes, esteatose hepática e síndrome metabólica foram mencionados. Eu estava tecnicamente obeso.”
A carta de despedida de Pete Wells expõe um aspecto desagradável que nós, jornalistas de gastronomia, varremos para debaixo do tapete: é um trabalho insalubre com verniz de glamour de quinta categoria.
Não que alguém sinta pena, dó ou piedade de quem é pago para comer bem.
Perdão, vou refrasear: somos pagos para comer coisas gostosas e frequentemente caras, mas raramente saudáveis e quase sempre em quantidade exagerada.
Definitivamente não comemos bem. Comemos demais, bebemos demais, somos suicidas no longo prazo. Pode sentir pena de nós agora.
O crítico do NYT cita alguns colegas.
Adam Platt, que escreveu sobre restaurantes por 24 anos para a revista New York, sofre de gota, hipertensão, colesterol alto e diabetes tipo 2.
Jonathan Gold, do Los Angeles Times, morreu aos 58 anos, de câncer pancreático.
Já as mulheres parecem sair ilesas do covarde ataque das comidas. Por que raios? Porque são mais sábias.
A crítica L. Irene Sirbila, também do L.A. Times, comia apenas um pedacinho de cada elemento de cada prato.
Em suas rondas de restaurantes, costumava levar um homem para terminar as refeições. Ela apelidou a companhia de Hoover –nome próprio e uma marca muito famosa de aspirador de pó. Uma draga.
Homens tendem a ser imaturos e inconsequentes. Chutam o balde hoje, na base do “vamos ver amanhã”. O acesso quase ilimitado à comida deliciosa é um convite tentador demais para se transformar numa draga.
Tenho pegado mais leve recentemente, mas a rotina era insana quando trabalhava numa revista masculina, como editor de uma seção chamada “Boa Vida” –que abrangia gastronomia, bebidas, viagem e consumo.
Almoçava ou jantava a convite, em ótimos restaurantes, pelo menos três vezes por semana. Frequentava todas as feiras de vinhos e de cerveja. Recebia montões de brindes, de uísque a um panetone de cinco quilos.
Eu gostava? Muito. Hoje prezo mais comer em casa.
Minha alimentação é saudável? Eita, acabou o espaço da coluna. Semana que vem estou de volta.
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Fonte: Folha de São Paulo