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O Nordeste do Brasil não é um único lugar, sua cultura é variada e heterogênea. E a culinária nordestina também não é a mesma em todos os nove estados que formam a região. Até mesmo o cuscuz, prato que se tornou símbolo dessa parte do país, e que de fato é muito consumido da Bahia ao Maranhão, pode assumir diferentes personalidades quando preparado e servido em diferentes áreas da região.
Isso fica muito evidente quando se conhece o Cuscuz da Irina, restaurante da ex-MasterChef Irina Cordeiro na Vila Madalena, em São Paulo. Ali o prato dá nome à casa e é um acompanhamento que brilha em quase todas as opções do cardápio, com uma cara muito particular.
O cuscuz da chef nascida no Rio Grande do Norte tem uma personalidade própria e é diferente do que se come no Recife (onde ele chega a parecer um bolo, servido agarradinho), que também não é o mesmo de Campina Grande ou de partes da Bahia, por exemplo. Apesar de os ingredientes serem os mesmos (farinha de milho e água) e o preparo também ser no vapor, no restaurante ele vem soltinho e leve como uma farofa, e bem saboroso.
E aparece entre os pratos que a chef chama de xodós, como o rala bucho (R$ 57). O cuscuz acompanha uma galinha guisada bem gostosa, desfiada e mergulhada em um caldo encorpado e saboroso, com um bom toque chamuscado.
Outra bela combinação é o sertão (R$ 62). Nele, o cuscuz acompanha carne de sol desfiada em um creme de natas e uma fatia de queijo coalho tostado. A combinação é bem equilibrada e escapa da armadilha do sal ou gordura em excesso, e o creme envolve a farofa de milho de forma bem interessante.
Os dois pratos levam uma boa dose de manteiga de garrafa, que faz o sabor brilhar, e uma ótima salada de feijão-fradinho que leva acidez e dá mais frescor e vida.
Em tempos de disputas culturais e da polêmica vazia em torno do cuscuz paulista nos últimos meses, o restaurante lembra uma frase que virou meme especialmente entre nordestinos: “Cuscuz é melhor do que muita gente”.
Antes dos pratos principais, vale experimentar a pastinha sertaneja (R$ 39). Preparada com castanha-de-caju e feijão-fradinho, é saborosa e parece uma versão nordestina do homus. Ela se destaca mais ainda pelo excelente picles de maxixe e pelo ótimo pão com milho que chega torrado e bem amanteigado.
As sobremesas também têm uma personalidade potiguar. A que mais chama a atenção é o risotinho de bolacha (R$ 30) em que bolachinhas de manteiga de garrafa são refogadas em leite e servidas com um bom doce de leite. É uma bela mistura de salgado e doce, crocante e cremoso.
São Paulo sempre teve muita presença da culinária do Nordeste, mas ela muitas vezes se apresentava de forma genérica. Cuscuz da Irina, assim como antes o Jesuíno Brilhante, mostra as peculiaridades do Rio Grande do Norte, e enriquecem a cultura ao mostrar a variedade das comidas da região.
Mas um restaurante não é só a comida que ele serve. O Cuscuz da Irina chama a atenção também pelo ambiente extremamente barulhento, em que caixas de som explodem com músicas (forró, piseiro, sertanejo) em alto volume. Isso faz os clientes falarem mais alto e torna o pequeno local um tanto caótico.
Questionado sobre isso, um dos garçons foi solícito e conseguiu reduzir alguns decibéis, mas explicou que isso é parte do perfil que a chef pensou para a casa. De fato, tudo é um tanto lúdico no restaurante, com brincadeiras e jogos de palavras no cardápio e um clima de festa. E isso pode mesmo ser ótimo para quem vai passar uma tarde divertida num fim de semana, mas é estranho e até um tanto desagradável para um almoço comercial de uma quarta-feira de trabalho.
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Fonte: Folha de São Paulo