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Um amigo de um amigo assou uma bandeja de space cake –bolo temperado com maconha ou haxixe, também conhecido por bolonha (“bolo” + “maconha”).
Ou talvez fosse brigadonha. Não. Perdão pelo anacronismo: o nome agora é brisadeiro.
Aí o sujeito deixou o bolo na geladeira, junto com as sobras de feijão, o limão cortado ao meio e a alface virando chorume na gaveta inferior.
Chegou o dia da faxina. A diarista passou um café para ela mesma, viu o bolo na geladeira e pensou: “olha só, um bolinho para acompanhar o café”. Comeu.
O amigo do amigo recebeu um telefonema da faxineira, que não falava coisa com coisa. Correu para casa e encontrou a mulher lavando a televisão no tanque.
Histórias assim você ouve, dá risada e, se tiver dois neurônios ou mais, não acredita.
Quando escutei esse causo –ou algo mais ou menos semelhante–, cannabis era caso de polícia em qualquer situação. O hipotético boleiro pegaria cana não por colocar a diarista em risco, mas por porte de entorpecente.
Desde então, o status da maconha mudou muito no mundo –um pouco menos no Brasil do que na Europa e Estados Unidos.
Ao descriminalizar o porte, o STF apenas oficializa a aceitação que já está sedimentada em muitos setores da sociedade.
Já faz algum tempo que a marofa não escandaliza ninguém –nem mesmo a polícia– nos bairros centrais de São Paulo.
Se você se enquadra em determinado perfil demográfico (branco e rico), a maconha já está liberada para o uso medicinal e recreativo. Este inclui o emprego da erva na culinária.
Sigo dois perfis no Instagram, ambos brasileiros, que ensinam uma certa cozinha canábica.
A gaúcha Lilica 420 (@lilica.420) tem mais de 70 mil seguidores. Militante da maconha, ela dá palestras e cursos sobre como transformar a planta em comida.
Caio, de São Paulo, alcança 31 mil seguidores no Instagram (@cozinha4e20), mas é mais forte no YouTube –seu canal tem 124 mil inscritos. Sua pegada é irreverente e bem-humorada.
Tanto Lilica quanto Caio ensinam os fundamentos do uso da maconha na gastronomia. Lição 1: não é só jogar na panela, como se fosse orégano.
Se quiser que o bagulho mantenha todas as propriedades, é preciso fazer uma coisa chamada descarboxilação –um tratamento térmico que deixa os canabinoides nos trinques– e a infusão da erva em manteiga ou óleo.
Nunca me meti nesse tipo de culinária por dois motivos. O primeiro, óbvio, é o meio de aquisição do ingrediente.
O segundo motivo é o propósito da dita culinária canábica. Percebe-se que, na maioria dos casos, a maconha não está lá para melhorar o sabor da comida. Sua única função é deixar maconhado quem come, o que não me atrai.
Não atrai até a segunda cerveja, que fique claro. Assim, já cometi o desatino de comprar um brisadeiro de uma moça na calçada de um bar na rua Augusta.
Pelo Código Penal, a moça não deveria ser enquadrada no artigo 33 (tráfico de drogas), mas no 171 (estelionato). Ali só tinha leite condensado e achocolatado.
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Fonte: Folha de São Paulo