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Ao ler a reportagem “Preço do cacau triplica e já ameaça produção de chocolates artesanais”, escrita por Flávia G. Pinho para a editoria Comida, lembrei-me de um diálogo que ouvi clandestinamente há suas semanas.
Eu estava no LAC Flavors, rodada de negócios promovida pelo BID –Banco Interamericano de Desenvolvimento. Neste ano, a feira aconteceu em Manaus, para impulsionar o comércio internacional de alimentos da Amazônia.
Esperava, do lado de fora de uma sala onde acontecia uma palestra, meu grupo se reunir para pegar a van para o almoço. Ao meu lado, dois homens conversavam. Um deles, produtor de cacau, tentava persuadir o outro a comprar sua mercadoria.
“Estão dizendo que o cacau vai acabar, mas não é bem assim”, falou o negociante.
Sim, ele tem razão: o cacau não vai acabar. Mas vai ficar –está ficando– proibitivo. O futuro que se desenha para 99% das pessoas é um mundo sem chocolate.
Ou pode ser ainda pior. Com o preço do cacau descontrolado, culpa da destruição ambiental e da especulação financeira, a qualidade daquilo que se vende como “chocolate”, a preços pagáveis, tende a desabar.
Existe muita, muita porcaria vendida sob o nome “chocolate”. Produtos feitos de açúcar, gordura vegetal genérica e aditivos para disfarçar tudo isso.
Ah, perdão pelo esquecimento: e uma microdose de cacau para justificar o que está escrito na embalagem.
Se o preço do cacau triplica, presume-se que vão diminuir a microdose para não encarecer o chocolate das massas desabonadas.
O chocolate bom, aquele feito de cacau num percentual razoável, vai virar produto de altíssimo luxo. Como o caviar e as trufas brancas de Alba. E como está ocorrendo com o azeite de oliva, outro alimento que virou joia.
Então pra que se preocupar, né? Ninguém precisa de chocolate 70% nem de azeite extravirgem para viver.
Olha.
Não sei se te disseram, mas parece que a catástrofe no Rio Grande do Sul deu uma zoada na produção de arroz, que é um alimento só um pouquinho mais básico. E que eventos climáticos extremos devem afetar bastante a produção de todos os grãos em várias partes do país.
Quem acha que dá para se safar dessa é burro ou muito mal-informado. Os dois, provavelmente.
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Fonte: Folha de São Paulo