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Estamos fadados a beber vinhos portugueses. O que parece uma maldição é uma boa notícia: mais do que nunca, há muita coisa boa para provar. Foi o que confirmei ao visitar a feira Vinhos de Portugal, no Ibirapuera, e conhecer alguns dos 800 rótulos de 90 produtores que fizeram um painel da produção contemporânea d’além mar.
A proximidade linguística, histórica e cultural fez do Brasil o terceiro mercado do mundo para os produtores lusitanos. Se seus ícones, como o alentejano Pêra Manca (por volta de R$ 5.000) e o duriense Barca Velha (a R$ 10,8 mil na Zahil) inspiram desejo e cobiça por aqui, há muito mais a se conhecer quando queremos gastar bem menos que R$ 100.
O vinho português hoje se define a partir de três palavras: fruta (presente de um sol implacável), frescor (traço da influência marítima e da altitude) e diversidade (consequência do aproveitamento de toda terra que dá para fazer vinho).
São 14 diferentes macrorregiões de norte a sul e também nas ilhas. Há uma imensa quantidade de uvas nativas, de mais de 250 castas. Assim, é quase impossível ler nomes como cabernet sauvignon, o que deixa o vinho muito menos internacional, mas mais único, com nomes como touriga nacional, aragonês, rabigato, uva cão, vinhão, e por aí vai.
Há tempos, os portugueses do vinho entenderam que essa identidade local é a sua riqueza. Sempre exploraram bem suas uvas, mas agora há um movimento de aprofundar ainda mais as raízes para achar outras castas que ficaram perdidas no tempo. As ondas do paladar vêm e vão e, se antes algumas variedades foram deixadas para trás porque tinham muita acidez e pouco álcool, é justamente por isso que são interessantes hoje.
Junte a essa equação a complicação do aquecimento global, cujo calor pode trazer pouca acidez, muito açúcar (e logo álcool) e uma maturação rápida demais ou desequilibrada às uvas.
Há uma nova geração de enólogos com trabalho autoral, com nomes que se deve guardar —entre eles Antonio Maçanita, Jorge Rosas, Rui Lopes, Pedro Ribeiro, todos em visita ao Brasil na última semana. Mas o exemplo que pego hoje vem do grupo Esporão, que nasceu no Alentejo nos anos 1970 e comprou terras no Douro em 2008.
Há 13 anos, plantou um campo ampelográfico, espécie de showroom das castas portuguesas, com 189 variedades para ver como se comportariam no calor alentejano, na mudança climática. Pelo que o enólogo-chefe José Luís Moreira da Silva, integrante dessa geração impetuosa, me contou, já dá para prever que ouviremos mais sobre mureto, trincadeira e antão vaz, três uvas que estão se saindo bem no novo cenário mais quente. A ideia, então, é ajustar-se para continuar bem português; usar tecnologia
ancestral para se modernizar.
Nas experiências do Esporão, uma notícia alvissareira foi que a conversão da agricultura convencional para a orgânica fez cair o nível de álcool, algo que não se espera quando a terra aquece. Moreira da Silva explica que com um solo menos tratado e, logo, mais pobre, as vinhas ficam menos produtivas e a maturação dos açúcares e sementes (importante para não ter amargor ou notas verdes)
se encontram juntas.
Célebres pelos vinhos cheios de potência do Douro e do Alentejo, em 2019 o grupo expandiu o seu território para a região dos Vinhos Verdes ao comprar a quinta do Ameal —um aceno aos bebedores que querem vinhos cada vez mais leves. “Temos que fazer os vinhos que gostamos de beber”, me diz o CEO do grupo, João Roquette. E, realmente, difícil torcer o nariz para eles.
Vai uma taça?
O branco Pouca Roupa (R$ 59,90 na Casa Flora) tem esse nome divertido e é ideal para uma tarde quente. A linha Monte Velho, do Esporão, está um degrau acima em preço (R$ 79 o convencional no St. Marché; R$ 99 o orgânico no Empório Frei Caneca) e é garantia de coisa boa. Se der para gastar um pouco mais, prove o Vallado Rosé Touriga Nacional (R$ 152 na Grand Cru), um vinho delicioso e lindo que tem um pouco de tanino e pede comida.
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Fonte: Folha de São Paulo