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Quando criança, eu tinha uma fantasia estranha.
Sonhava ter em casa uma geladeira de sorvete, dessas de padaria, de picolé. Com reabastecimento infinito, é óbvio.
Crianças têm fantasias estranhas. Quando a gente cresce, passa a traçar objetivos sensatos para a vida –diz o colunista que outro dia quase comprou uma pequena máquina de assar frango, tipo televisão de cachorro.
Voltemos às fantasias infantis.
Os sonhos que as crianças sabem ser absurdos, mas ainda assim os sonham, envolvem montanha-russa no playground do prédio, teleférico para subir a ladeira no caminho da escola, acesso ilimitado a sorvete, pizza ou hambúrguer.
Lembrei da cornucópia de sorvete por causa da história das duas mulheres, mãe e filha, que decidiram morar no McDonald’s do Leblon.
O caso parece enredo de filme da Sessão da Tarde. A menina que sonhava morar numa lanchonete, a fim comer hambúrguer todo dia nas três refeições, subitamente tem o desejo atendido por uma fada.
E, claro, aprende às duras penas a importância de se alimentar de frutas, legumes e verduras.
Taí uma obsessão infantil que eu nunca tive, nem quando pirralho: McDonald’s. Sempre preferi qualquer outro rolê de rango.
Se evito comer no McDonald’s, morar lá superaria o horror dos meus piores pesadelos.
Para ser justo com o “Méqui”, abro uma breve digressão. Não o considero pior do que Burger King, Taco Bell ou KFC. É apenas a marca mais famosa de todas as cadeias de fast food, a mais lembrada, a mais disseminada pelo mundo.
Minha birra com esse tipo de lanchonete vai além da qualidade da comida. É tudo, do ambiente à publicidade, impessoal, anódino, industrial. Não existe um rosto humano para identificar à marca.
Ronald McDonald é o cara? É ele ou o Papa-Búrguer quem responde pela ouvidoria do “Méqui”?
Por que as duas mulheres acharam uma boa ideia instalar-se de mala e cuia no McDonald’s da avenida Ataulfo de Paiva?
A história não faz o menor sentido, e as explicações dadas por Bruna Muratori, a filha, são mais abiloladas ainda. Por isso mesmo o caso rende tanta audiência.
Quando a hospedagem se tornou pública, uns 15 dias atrás, pensei que alguma alma caridosa iria abrigá-las. Não rolou. Parece que a ficha corrida da dupla repele qualquer iniciativa de hospitalidade.
Talvez elas estejam no McDonald’s até agora porque é o único lugar que ainda não as enxotou. Aliás, como a empresa pretende lidar com a situação? Vai reformar o almoxarifado e comprar um beliche?
Se eu estivesse sem grana e sem amigos no Rio eu iria tentar dormir, sei lá, no Galeão. Tem mais espaço, mais opções de banheiro, um oceano de chão duro para esticar uma toalha e tirar um ronco à noite.
Só que o aeroporto não é o Leblon. No Galeão não tem congestionamento de celebridades na calçada. No Galeão não dá para ver o Caetano Veloso estacionar o carro.
Talvez as duas mulheres estejam no McDonald’s do Leblon para se agarrar a uma fantasia infantil muito estranha, de luxo e poder que só existem na cabeça delas.
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Fonte: Folha de São Paulo