[ad_1]
Durante a pandemia, Santídio Pereira saiu de São Paulo para se embrenhar na natureza atrás de bromélias. Ao voltar para seu ateliê na capital, contudo, começou a rabiscar morros, não as flores que tanto inspiram seu trabalho.
Ele então se deu conta do quão fixadas em seu pensamento estavam as imagens da serra da Bocaina e da serra do Mar. A partir daí, passou a criar gravuras e pinturas de morros, um elemento novo em sua obra naquele momento.
Parte destes morros está exposta agora no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, numa mostra da produção dos últimos sete anos do piauiense. “Santídio Pereira: Paisagens Férteis” reúne um conjunto de 30 trabalhos, alguns dos quais não vistos no Brasil, para dar conta da fixação do artista pelos ambientes naturais.
Pereira cria telas em grandes dimensões, sejam pinturas com tinta guache ou xilogravuras. Parte considerável das obras é monocromática, e algumas ficam no limite da abstração, como no caso da mancha em amarelo representando as flores de um cactus —desenho que poderia também ser associado a uma nuvem.
Mas, de modo geral, a impressão de visitar a mostra é a de passear numa vegetação exuberante onde as cores explodem. O artista diz criar inspirado pelos biomas brasileiros, como a mata atlântica e a caatinga.
Ele mantinha uma relação de intimidade com a natureza quando era criança, no interior do Piauí. “Eu comia manga no pé, andava a cavalo, nadava no rio, sentia o cheiro da chuva, pisava no barro vermelho”, conta, ao justificar de onde vem seu interesse principal.
Depois de se mudar para a capital paulista com os pais, ainda criança, tudo mudou. “São Paulo me tirou o horizonte, e eu necessitava de horizonte, assim como eu precisava de natureza”, afirma. Pintar plantas é “tentar tornar São Paulo mais aconchegante, tentar me deixar mais feliz nesta cidade”.
Organizada por Cauê Alves, curador-chefe do MAM, a exposição traz, além das telas, duas grandes peças de parede em madeira que o artista chama de objetos. Ele nega o parentesco com a escultura porque diz não ser possível circular ao redor delas, além de não considerar as obras tridimensionais o suficiente.
Seus objetos são formados por pedaços de madeira recortados e juntados —de modo que se pode remover uma florescência de um cactus, por exemplo— e vêm da evolução da pesquisa do artista acerca de gravuras.
Os objetos também funcionam como matrizes e podem ser impressos no papel como gravuras, técnica com a qual o artista tem mais familiaridade, dado que foi iniciado na prática da xilogravura quando criança, após ser matriculado pela mãe em oficinas no Instituto Acaia, organização fundada pela artista Elisa Bracher.
Com menos de 30 anos, o artista já foi exposto na Fundação Cartier, em Paris, e tem obras nas coleções da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Museu de Arte do Rio e da Coleção Cisneros, além de ser representado por galerias dentro e fora do Brasil.
Ele diz ser livre das exigências do mercado e afirma criar sobretudo a partir do que lhe cativa. Mas também pensa no espectador. “Não adianta o trabalho ser importante só para mim e não reverberar no outro.”
[ad_2]
Fonte: Uol