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O que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) constatou, o brasileiro já vem sentindo no bolso: de 2020 para cá, o azeite ficou 44,23% mais caro.
Só no último ano, o aumento chegou a 24,7%, de acordo com a Associação Brasileira de Supermercados —foi o item do cardápio da última Páscoa que mais subiu, fazendo do bacalhau uma estrela solitária na mesa do feriado. Não importa o país de origem e a fama do rótulo, todos encareceram de maneira uniforme.
Não é possível apontar uma única razão para a disparada dos preços, mas cinco fenômenos, dentro e fora do Brasil, estão na raiz do problema. Vamos a eles.
1. Na Europa, produção em queda e consumo em alta
A Espanha, responsável por praticamente metade de todo o azeite produzido no mundo, enfrentou secas severas nas duas últimas safras —o calor extremo, aliado à falta de chuvas, se repetiu na Grécia e em Portugal.
“Temperaturas acima dos 30ºC, por vários dias seguidos, queimaram as flores das oliveiras”, conta Ana Carrilho, que comanda a produção na portuguesa Herdade do Esporão.
O resultado foi dramático. A produção global de azeite, que foi de 3,4 milhões de toneladas na safra 2021/2022, caiu para 2,5 milhões de toneladas na safra seguinte. E continua caindo: a colheita europeia ainda não terminou, mas é estimada em 2,3 milhões de toneladas.
A despeito da queda na produção, o mundo continua ávido por comprar azeite. A demanda até caiu um pouco —nos últimos três anos, passou de 3,1 milhões de toneladas para as atuais 2,8 milhões de toneladas. Mas é fácil fazer as contas: a procura já está maior do que a oferta.
“Como a produção mundial vai continuar baixa, e a demanda está sólida em nível global, vamos seguir em desequilíbrio”, afirma Teresa Pérez, gerente da organização Azeites de Oliva da Espanha.
Marcelo Scofano, responsável pelas compras de azeites da rede de supermercados Zona Sul, no Rio de Janeiro, conta que as etiquetas até 50% mais caras não chegam a fazer o consumidor desistir da compra.
“Nossa venda de azeites aumentou 1%. Ninguém esperava que, com tamanho aumento de preços, a demanda continuasse tão aquecida. Não tenho dúvida de que a razão é a busca por alimentação saudável”, arrisca.
Segundo Leonardo Scandola, diretor comercial da italiana Filippo Berio, maior produtora de azeites da Itália, é bom começar a economizar no azeite. “A Comissão Europeia já divulgou que, se o nível de consumo continuar o mesmo, o mundo só vai ter azeite até outubro”, afirma.
2. Na Turquia, exportações estão suspensas
Muita gente não sabe, mas é comum haver azeite turco dentro das garrafas que recebem rótulos portugueses, espanhóis ou italianos. A Turquia, que figura na lista dos maiores produtores mundiais, exporta para a Europa uma boa parcela de seus azeites a granel. Ou melhor, exportava.
Diante da alta global de preços, o governo turco suspendeu as exportações, sem prazo determinado, para equilibrar os preços dentro de casa.
“A escassez de azeite turco fez baixar ainda mais os estoques europeus”, afirma Scofano. Mas não estranhe se encontrar azeites de marcas turcas nas prateleiras – a proibição não vale para os produtos que saem da Turquia já envazados.
3. Produção brasileira não supre a demanda
Oficialmente, o Brasil produz azeite extravirgem há 16 anos – a primeira extração, ainda experimental, aconteceu em 2008.
Enquanto os maiores produtores mundiais têm olivais centenários, as árvores brasileiras são jovens, não chegaram à plenitude produtiva e estão longe de fazer diferença para o mercado. Segundo o Instituto Brasileiro de Olivicultura, o país consome 100 milhões de litros por ano, mas só consegue produzir 1% disso.
Sandro Marques, autor do “Guia de Azeites do Brasil”, afirma que o país chegou a 165 marcas, em 2024. Dessas, 80 são do Rio Grande do Sul, 64 estão em Minas Gerais, 13 no estado de São Paulo e as demais, espalhadas por Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná e Bahia.
As maiores propriedades se concentram em solo gaúcho. Com 550 hectares e 100 mil pés de oliveiras, a estância que produz o azeite Batalha, em Pinheiro Machado, é atualmente a maior do país. Mas, segundo Renato Fernandes, presidente do instituto, olivicultores desse porte são exceção: cerca de 2/3 dos produtores brasileiros têm propriedades pequenas, de até 20 hectares.
Para completar, os olivicultores do Brasil estão 100% focados na produção de azeite extravirgem premium, de altíssima qualidade, e fazendo bonito nos concursos mundo afora, o que ajuda a elevar os preços –quanto mais medalhas, mais caro o azeite.
“Os produtores brasileiros não têm escala e não conseguem preços competitivos. Caso se unissem em cooperativas, como os europeus, poderiam compartilhar custos com embalagens, rótulos, marketing e distribuição, mas ainda estariam longe de competir com os grandes envasadores mundiais”, diz o consultor Paulo Freitas.
5. No Rio Grande do Sul, choveu além da conta
Responsável por 70% da produção nacional, o Rio Grande do Sul amargou uma quebra de safra considerável este ano. “Enquanto o estado produziu 580 mil litros em 2023, este ano estamos torcendo para chegar, pelo menos, até a metade”, afirma o presidente do instituto.
A culpa foi do excesso de chuvas na primavera, época da floração. “Soube que alguns produtores decidiram nem colher as azeitonas este ano, porque o custo-benefício não vai compensar”, diz Sandro Marques.
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Fonte: Folha de São Paulo