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O que artistas díspares como Anitta, Ana Castela e Thiaguinho teriam em comum? São de origens diferentes: a primeira é carioca, a outra, sul-mato-grossense, e ele, paulista. Uma canta funk, a outra, sertanejo, e o terceiro, pagode. Apesar das gigantescas diferenças, os três começaram suas carreiras cantando em igrejas evangélicas.
Antes, era comum que o artista mirim procurasse o rádio para começar a carreira. Foi o que aconteceu com o jovem Roberto Carlos, que participou de alguns concursos radiofônicos ainda na infância na capixaba Cachoeiro do Itapemirim. O mesmo aconteceu com Elis Regina, Chitãozinho & Xororó, Gilberto Gil, Dominguinhos, Jair Rodrigues e uma série de artistas.
Era nas rádios locais das cidades pequenas e grandes que os artistas formavam sua personalidade artística. Até meados dos anos 1960, boa parte da programação era produzida ao vivo, com exibição de cantores, crooners e concursos de calouros. Muitos artistas tinham contrato de exclusividade com determinadas rádios por períodos intermitentes.
Hoje o rádio não ocupa mais este espaço. É aí que os evangélicos constroem boa parte de sua popularidade entre os jovens. As igrejas se tornaram uma espécie de clube socializador das periferias brasileiras, e a música é frequentemente usada para integrar jovens. Se tem algo que não se constrói trancado no quarto de frente para um computador é a habilidade em se lidar com o público.
Especialmente entre as classes populares das periferias inchadas, a falta de alternativas culturais tornaram as igrejas um lugar atraente de disseminação cultural. É lá que semanalmente multidões de músicos são formados na atualidade. Se até os anos 1990 a produção gospel era vista como de baixa qualidade técnica, performance e gravação, não é mais assim no século 21.
Os músicos do gospel hoje utilizam equipamentos de primeira linha, estúdios de grande qualidade e têm estrutura de show de dar inveja aos mais renomados artistas nacionais. O Brasil do século 21 é, gostemos ou não, um país que está em vias de se tornar de maioria evangélica. Inclusive no campo da cultura.
Um indício dessa transformação é a grande quantidade de artistas que atingiram o primeiro escalão da música laica tendo começado sua formação nas milhares de igrejas espalhadas pelo país. Em 2022, o sertanejo Luan Santana disse no programa Altas Horas, da TV Globo: “A experiência de tocar na igreja me ajudou muito. Foi uma grande escola”.
Junto de Luan estão artistas como Negra Li, Naldo, MC Livinho, Whindersson Nunes, Simone e Simaria e Marília Mendonça. Até alguém que hoje se destaca como porta-voz do discurso identitário na música brasileira, Pabllo Vittar também começou cantando dentro dos templos.
Outro caso que chama a atenção é o do pianista pernambucano Amaro Freitas, que vem seduzindo olhares interessados na música de vanguarda nacional. Amaro, cuja foto ilustra a categoria “jazz brasileiro” no Spotify, começou sua trajetória nos templos da periferia de Recife.
São exemplos que ilustram a transformação do Brasil e da produção musical nacional. Em comum, esses artistas são oriundos de classes populares. Muitos são negros e habitantes das periferias. Mesmo que hoje produzam música laica, são frutos da cultura evangélica, que vem moldando o país.
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Fonte: Uol