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Ontem teve reunião de pais na escola do meu filho. Começava às 19h. Um grande amigo tem filha na mesma classe: combinei com ele, uma hora antes, tomar uma cerveja numa padaria próxima.
Chegando na padoca, estava lá ela, na estufa: a pizza de padaria. Eu não resisto a pizzas de padaria.
Era uma pizza modesta, assim como a padaria. Não me entendam mal: trata-se de um elogio.
A padaria em questão, chamada Elite das Perdizes (alguém precisa fazer uma tese sobre padrões de nomes de padocas e pet shops), é uma das poucas sem catraca que sobraram em São Paulo.
Um tantinho maior do que uma garagem na parte visível, serve um pernil memorável que pode vir no pão ou no PF, com arroz e feijão. A partir de algum momento da tarde, começa a sair pizza.
É a clássica pizza de padaria, que está escasseando pela cidade.
Fininha, comedida na cobertura, um estilo paulistano por excelência. Magrinha, para enganar a fome que dá entre o almoço e o jantar –ou em qualquer momento em que você esteja na rua e faça contato visual com a estufa.
Não vou mentir, nunca faria isso com vocês.
Numa avaliação objetiva, a pizza de padaria paulistana pegava recuperação. Mas é a tal da memória afetiva, né? Todos a temos. Carioca gosta de biscoito Globo, gaúcho gosta de xis com ervilha e milho, paulistano gosta de pizza de padoca.
Você pode, por acaso, chegar na padaria no exato momento em que a pizza sai do forno.
Em CNTP, seria o auge da pizza. A pizza de estufa, porém, requer afetivamente alguma maturação depois de assada. Para a massa amolecer e se integrar com o molho de tomate. Para o queijo continuar quente e elástico, embora não mais exatamente derretido.
Aí você recebe num pratinho e encharca de azeite. Deve haver 1 (huma) unidade de azeitona por fatia, necessariamente, e você decide se a come de uma vez ou se tira nacos para comer em várias garfadas. Azeitona com caroço é mais raiz –assim veio na Elite das Perdizes.
A pizza de padaria paulistana é um patrimônio gastronômico que está ameaçado. Desfigurado. Por culpa dos donos das padarias.
Alguns querem extrapolar a função social da padaria e servir pizzas ao estilo das pizzarias, mirando os piores exemplos. Bordas recheadas, excesso de cobertura, criatividade sem critério.
Outros ligam o dane-se e fazem pizza de boteco, totalmente nas coxas, com massa pré-assada comprada pronta.
Pizzaria é pizzaria, boteco é boteco, padaria é padaria. Alguma ordem nesta zona, por favor.
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Fonte: Folha de São Paulo