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Em 2006, a diretora e professora de teatro Eugênia Thereza de Andrade apresentou a Danilo Santos de Miranda, então diretor do Sesc-SP, uma ideia de ciclo de leituras dramáticas. Ela não havia pensado em leituras convencionais, com atores sentados lado a lado, mas esboços de encenação, com ambientação cenográfica e elementos de figurino.
Conversa vai, conversa vem, a proposta foi amadurecendo e resultou no “7 Leituras, 7 Autores, 7 Diretores”, projeto que, anos mais tarde, ganhou um nome mais sucinto, “7 Leituras”.
Com a bênção de Miranda, que morreu em outubro do ano passado, aconteceu em março de 2007 a primeira leitura, “A Exceção e a Regra”, de Bertolt Brecht, com direção de Marco Antônio Rodrigues –desde então, Andrade tem se encarregado da coordenação geral e, eventualmente, assume a direção.
Embora apostasse em leituras mais elaboradas do que se costuma ver nos palcos brasileiros, inclusive com desenho de luz e música, ela tinha dúvidas se a iniciativa daria certo. Temia que o interesse se limitasse aos especialistas em artes cênicas.
Neste ano em que o “7 Leituras” chega à maioridade, a diretora constata que o formato, burilado por erros e acertos, conquistou um público abrangente. É provavelmente o projeto de leituras mais longevo do teatro paulista.
Ao longo de 17 anos, foram 117 encenações e um público de cerca de 24 mil pessoas, quantia que não contabiliza a audiência online nos dois anos mais agudos de pandemia, quando as apresentações tiveram que combinar teatro e vídeo.
“Em geral, os atores chegam para as leituras sem preparação nenhuma. No nosso caso, há dois ou três ensaios, em que o diretor explica quais são as ideias dele a respeito do texto”, diz Andrade, também dramaturga. “Nada é improvisado.”
Desde o começo, as sete leituras de cada ano têm um tema, um gênero ou um autor como fio condutor. Desta vez, o mote são os 460 anos de nascimento de William Shakespeare. Na terça (26), acontece a leitura de “Romeu e Julieta”, com direção de Nelson Baskerville, e Gabriela Westphal e Thomas Huszar nos papéis principais.
Após temporadas nas unidades Consolação e 24 de Maio, o “7 Leituras” ganha casa nova, o Sesc Bom Retiro, sempre com entrada gratuita.
No dia 16 de abril, o palco é de “Hamlet”, conduzido por Mika Lins. À frente de espetáculos como “Escute as Feras”, Lins começou a dirigir justamente no “7 Leituras”, com “As Eruditas”, de Molière, leitura apresentada em 2007.
Talvez pareça um trabalho em família —Lins, que já dirigiu algumas leituras, é filha de Andrade, responsável pela concepção. Mas pensar no projeto assim seria como olhar para um só ponto de uma floresta, com árvores bem diferentes entre si.
Entre os 40 diretores que já passaram pelo Sete Leituras, estão nomes como Aimar Labaki, Antônio Abujamra, Denise Weinberg, Gabriel Villela e Sérgio de Carvalho.
Ana Lucia Torre, Caco Ciocler, Celso Frateschi, Glória Menezes e Maria Fernanda Cândido são alguns dos 450 atores que participaram do projeto. Uma amostragem mínima de visões distintas sobre o teatro.
Essa diversidade aparece combinada com alguns critérios para a escolha dos textos. Andrade prioriza peças que dificilmente serão montadas, seja porque têm baixo apelo comercial, seja porque exigem um elenco numeroso. Foi o caso de “O Homem e o Cavalo”, de Oswald de Andrade, em 2008, com Zé Celso e dezenas de atores, sob a direção de Marcelo Drummond.
O projeto trouxe ao Brasil textos jamais encenados por aqui, como “Democracia”, peça escrita pelo inglês Michael Frayn sobre a política alemã nos anos 1970. A leitura foi dirigida por Eduardo Tolentino em 2012.
A professora de história Rosana Sorbille conheceu o “7 Leituras” em 2016 e, no ano seguinte, começou a trazer seus alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, de Cubatão, para acompanhar as apresentações.
Nos primeiros anos, professoras e alunos faziam uma vaquinha para bancar vans para o trajeto de cerca de uma hora entre as duas cidades. Em outras ocasiões, a escola, voltada para o ensino técnico, arcou com o transporte.
Depois da pandemia, o Sesc-SP passou a assumir a ida e a volta dos estudantes, que têm, em média, entre 15 e 18 anos. Para “Romeu e Julieta” nesta terça, serão três ônibus para buscá-los em Cubatão. As últimas leituras, segundo a professora, receberam entre 88 e 132 alunos do instituto federal.
Para Sorbille, tão importante quanto a leitura é a introdução feita por Andrade, uma das tradições do projeto. “Além da força intelectual, ela mostra uma capacidade enorme de mobilizar o bom humor. Tem muito a ver com a baianidade.”
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Fonte: Uol