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Bob Wolfenson se lembra vividamente de quando fotografou para este jornal astros como Nina Simone e Sarah Vaughan nos camarins do Free Jazz Festival, em São Paulo, na década de 1980.
De lá para cá, 40 anos se passaram, e muita coisa mudou até sua estreia no Lollapalooza, neste final de semana, quando registrou os artistas que se apresentaram no Autódromo de Interlagos, na zona sul da capital paulista.
Antes, ele conta, tinha mais controle sobre a imagem. Agora, ao lado de um monitor de 30 polegadas onde seus cliques são exibidos instantaneamente, a maioria não resiste a espiar e palpitar, como se estivesse fazendo um ensaio para suas redes sociais.
“O comportamento dos artistas mudou muito. Eles próprios querem se dirigir, mas eu fico buscando algo que seja subversivo. Como estou fotografando gente muito conhecida, que já foi muito fotografada, tento fazer uma coisa que não seja muito a cara do artista. Tento desmontar o preparo que eles trazem. Eu mexo, mudo o ângulo, o fundo. Vou tateando as possibilidades”, diz Wolfenson.
Prova disso é que boa parte dos artistas internacionais não quiseram dar as caras, ele conta. São as mesmas figuras que às vezes não permitem ser fotografados nem durante os seus shows —como foi o caso de SZA e Sam Smith nesta edição do Lollapalooza—, ainda que os fotógrafos assinem uma cartilha rigorosa de regras —e se comprometam, por exemplo, a não fotografar mais do que as primeiras músicas da apresentação, a uma distância estipulada e com lentes específicas.
Não é diferente do que acontece no contato entre os repórteres e os cantores, que cada vez mais tentam submeter os jornais a uma lista de perguntas ou assuntos proibidos, além de concederem tempos muito curtos, de não mais do que cinco minutos, para a realização das entrevistas, justamente para não pôr sua imagem à prova.
Wolfenson, que tem 70 anos, entre os quais dedicou mais de 50 à sua carreira na fotografia, não poupou esforços para abalar as poses prontas com as quais parte dos cantores chegaram a seu estúdio improvisado nos boxes do autódromo que servem de camarim para o festival de música, que acontece anualmente.
“Pode ser porque não tem som, fala, movimento. A foto tem um conteúdo de agressividade muito grande. É um recorte da pessoa que está na minha mão”, diz ele, que pretende incluir parte das fotos feitas no festival em fotolivros que deve lançar no futuro.
De sexta a domingo, passaram por seu estúdio astros do panteão da música brasileira, como os Titãs e Gilberto Gil, que Wolfenson já fotografou uma dúzia de vezes, a ilustres desconhecidos tanto para o fotógrafo quanto para o público, como Perry Farrell, o criador do Lollapalooza, que dançou em câmera lenta ao ser registrado.
“Antes eu pegava o filme, mandava revelar e ninguém via. No começo sofri, mas depois aderi a essa transição. São vários campos de força que pairam sobre o set. Tem o desejo da pessoa que está sendo fotografada, o meu desejo, o do assessor, o do evento. E às vezes uma pessoa colaborativa e simpática não rende uma boa foto. O bom trabalho fotográfico sai justamente da tensão.”
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Fonte: Uol