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Você, que me lê agora. Eu sei que tem coisa melhor por aí, com mais renome e prestígio, mas fica um pouquinho. Queria puxar um assunto que, hmmm. Talvez não caia muito bem num caderno de cultura. Contudo, é a pura verdade.
Perdão, Dickens. Tolstói. Machado. Lygia. Clarice. Proust, você morreu em 1922, certamente não dá a mínima, mas ainda assim. Juro, com a mão direita apoiada não na Bíblia ou na Constituição, mas numa pilha de Barbara Cartlands, Stephen Kings e livros de bolso da espiã Brigitte Montfort: os clássicos da literatura me tornaram gente grande, mas foram os best-sellers que me fizeram leitora.
O primeiro capítulo dessa história se deu numa papelaria de shopping. Responsáveis tentando comprar material escolar, enquanto eu passeava com meu tédio diante da prateleira dos mais vendidos.
Numa espécie de “ei, psiu, garotinha”, uma capa com foto genérica e título suficientemente espalhafatoso —”Se Houver Amanhã”— me chamou atenção. Quando dei por mim, já tinha lido 15 páginas em pé.
De tão eletrizada, no dia seguinte tramei de voltar à papelaria só para ler um pouco mais, ainda em pé. Ou seja: numa reviravolta sem qualquer compromisso com a verossimilhança, quiçá classificação etária, aos 11 anos macetei a obra completa do Sidney Sheldon. Meu primeiro amor blockbuster.
Uma penca de Marion Zimmer Bradleys, Frederick Forsyths e Robin Cooks depois, eu já tinha zerado a revista do clube de livros por assinatura. Doente e asmática nas férias, ganhei um tijolo em forma de “Pássaros Feridos”. As 700 páginas curativas que treinaram meu fôlego futuro para “A Montanha Mágica”, do Thomas Mann.
Ao encontrar uma brochura perdida de “Os Maias”, julguei tratar-se de uma aventura em série, envolvendo também incas e astecas, mas terminei zonza de paixão pelo trágico realismo português.
Passei, então, a ler diferente. Consultando mais listas e resenhas. Abasteci minha biblioteca com menos viajantes do tempo e mais ganhadores do Nobel e do Pulitzer. Apurei meu gosto? Refinei-me? Ou virei as costas para grandes amigos de infância?
Só sei que, desencaixotando tralhas, tropecei num Sidney Sheldon com antigas manchas de lama e Nescau, posto que nenhum lugar ou refeição jamais foi empecilho para viradas emocionantes. Senti tanto respeito, tanta ternura, que pedi licença a Proust. E achando até que teve certo cabimento, plantei o volume surrado de “As Areias do Tempo” entre os tomos de “Em Busca do Tempo Perdido”.
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Fonte: Uol