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Hoje não escreverei sobre comida porque os vídeos do avião caindo em Vinhedo me tiraram completamente dos eixos. É gatilho que fala? Não consigo pensar em outra coisa.
A queda aconteceu exatamente como acontece num pesadelo recorrente meu.
Nele, estou olhando para o céu quando passa um jato grandão. De repente, o bicho começa a cair como se fosse um aviãozinho de papel malfeito. Como uma pipa que perde a sustentação e despenca em espiral.
Não me machuco, só observo horrorizado. Exatamente como as pessoas incrédulas que registraram a tragédia de Vinhedo em vídeo.
Tenho, aliás, uma coleção razoável de pesadelos recorrentes. Eles aparecem com mais ou menos frequência dependendo de, sei lá, qual é a neura que me atormenta.
Em outro desses sonhos, eu estou dentro do avião.
Variam as companhias (humanas, não aéreas), o enredo e o roteiro de viagem, mas uma coisa nunca muda: o avião voa baixo, muito baixo, rente às casas, quase arrancando os fios dos postes. Acordo antes do choque derradeiro com o chão.
Uma terapeuta que eu frequentava disse que o pesadelo representava a frustração com o fato de nunca conseguir fazer decolar meu projetos, minhas ambições, minha vida. Achei um pouco óbvio demais –e a lazarenta ainda me chamou de fracassado na cara dura.
Mudando de meio de transporte, às vezes o sonho torturante se passa num navio de cruzeiro. No mundo acordado, eu passo mal em barcos. Detesto cruzeiros, essas prisões flutuantes com shopping e cassino.
E lá estou eu, sem saber que é sonho, tentando entender o que me fez embarcar em tamanha roubada.
Pego elevadores, transito por decks, restaurantes e piscinas, nunca encontro minha cabine. Quando enfim me oriento, já estou no porto de destino.
Em terra firme, tenho pesadelos com prédios altos, muito altos. Mais altos que Tatuapé. Mais altos que Balneário Camboriú. Mais altos que Dubai.
Para chegar ao alto, pego elevadores velozes. Troco de elevador mais de uma vez. São elevadores malucos, que se movimentam em todas as direções, desabam e abrem a porta em lugares absurdos que dão para outros sonhos malucos.
Tenho, como quase todo mundo, sonho que estou absolutamente inadequado para o convívio social.
Algumas pessoas sonham que vão trabalhar de pijama. Um amigo, nesta semana, disse que acordou quando percebeu que havia saído descalço de casa.
Minimalista, eu me pego peladão petiscando empadinhas num coquetel ou caminhando pelas ruas do bairro. “Olha, que desatento! Esqueci de pôr roupa!”
O pior e mais recorrente pesadelo me leva de volta à escola ou a empregos passados. De novo aquela sensação de “como vim parar aqui?”.
Estou para fazer uma prova sem ter a mais remota ideia da matéria ensinada. Preciso finalizar a edição do jornal, mas ainda nem comecei. Nem sei como começar. Os professores antigos, os chefes antigos, eles estão lá para carimbar “impostor” na minha testa.
Aí acordo e vou levar minha vidinha de impostor sem maiores solavancos.
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Fonte: Folha de São Paulo